João Pessoa, 07 de junho de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma vida simples nos pouparia de muitas afrontas. Dormir quando o sono nos convidasse, em qualquer hora e lugar. Acordar sendo dono do tempo, espreguiçar até os ossos estalarem, ainda sonolentos, mas já dispostos para outras brincadeiras.
Ouvir o pulsar da natureza nos cantos dos passarinhos, no balançar das ondas do mar, no levitar da folha seca plainando sem rumo, no labor do vento. E sorver o silêncio, onde silêncio houvesse.
Colher uma manga no pé, imitar o canto do bem-te-vi, brincar de cabra-cega, jogar pião, abrir-se para o mundo como são abertos os sorrisos das crianças quando abraçam suas mães.
Uma casinha enfeitada, com flores na varanda, céu estrelado, mergulhar na água fria dos riachos mais enxeridos. Sentir a vida, o tum tum do coração, a respiração e a comunicação que ela nos transmite, que é farta e acalentadora.
Roupas, na necessidade do frio; comida, na refrega da fome; segurança, muita, afinal ninguém estaria tão deturpado do juízo querendo segurar dinheiro. Muito amar, pois o amor é como a própria vida, pleno, abundante, teimoso, muito embora, pela compulsão capitalista, ele esteja contado e medido, produto das prateleiras físicas e digitais.
Livros, o cheiro deles, o passatempo, as viagens por onde nos conduz. Uma roda de histórias porque todos têm muita história para contar. As danças seriam quotidianas, mas não precisavam vender as almas no mercado do Tic-toc.
Banhos de chuva nas biqueiras das casas. Roletes de cana de açúcar, rodelas de abacaxi nas festas das padroeiras, se bem que cada um seria padroeiro de si mesmo. Vinho ou uma cachacinha, uma farofada na praia, dois metros de sorriso, olhar brilhoso pregado no presente, já que não haveria vida eterna para cuidar.
Todas as festas seriam gratuitas porque não existiam safadões para capitalizá-las, tampouco gestor público de mau coração. A vida seria simples, bem simples, como a singeleza de um cafuné em seu cachorro.
Todos seriam exuberantes porque para a exuberância fora dada a oportunidade de se manifestar em cada um: no sorriso, no cabelo, na cor da pele, no olhar, no conduzir-se, no amar.
Ah, e as praias seriam públicas. Sim, por incrível que pareça.
@professorchicoleite
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