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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

A Igreja e o livro 

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publicado em 17/04/2024 às 07h00
atualizado em 16/04/2024 às 13h33

  

A leitura é o caminho para as conquistas pessoais e espirituais.

Partindo do princípio de que a Igreja deve estar ao lado do povo, ouvindo seus anseios, reunindo todos para caminhar irmanados, repartindo alegrias e recolhendo ansiedades, entre tantas ações, ela deve fazer com que o livro chegue às mãos de crianças e adultos, primícias para se atingir elevado valor humano.

O hábito da leitura não deve ser estimulado apenas na escola, o que nem sempre acontece com a ênfase desejada. É em casa onde tudo começa, como também na Igreja, comunidade onde as pessoas se reúnem.  Justamente nesse ponto, deveria entrar a participação desta, no estímulo às famílias para o hábito da leitura, começando, inclusive, pelas crianças. Seria necessário viabilizar o acesso ao livro, instalar bibliotecas em suas dependências e promover campanhas educativas. Essa seria uma bonita iniciativa. Não basta salvar as almas, é preciso salvar as pessoas do analfabetismo. A cultura, a educação, a poesia salvam vidas.

Como poderia acontecer isso? Bastante simples, começando pela catequese das crianças. Nessa fase, elas entram em contato com os preceitos da Igreja e da Religião. Pelo menos, assim imagino. Na conversa com os pais, no diálogo com as crianças, o livro deve ser um instrumento presente. Todos esses momentos, suponho, são oportunos para se estimular o acesso à leitura.

Como isso será ministrado, não vejo tanta dificuldade, afinal, todos trabalham com o manuseio da palavra. A palavra oral e escrita. Então, como parte dos ensinamentos propostos na formação do catequizando, oferecer condições para exercitar a leitura seria um caminho para se criar amor ao livro e gosto pela leitura.

Todos sabemos que por meio da leitura é possível descobrir valores humanos, verdadeiros tesouros guardados no coração das crianças, dos jovens e dos adultos. Em muitos casos, as crianças precisam de oportunidades para expor talentos.

Nossa Igreja tem bom material de apoio às crianças, quando se trata de oferecer aprendizado básico sobre religião e princípios éticos e morais. Ele norteia o comportamento de um cristão.

Imagino o dia em que, nos salões paroquiais, existam bibliotecas com livros de todos os gêneros, abertas às mentes e aos corações. As mãos que purificam o vinho e o pão transformando o livro em alimento para o espírito, ajudando a transformar vidas humanas e pessoas em verdadeiros santuários do Espírito Santo.

É do conhecimento de que a Igreja, desde os tempos da concepção da prensa por Gutemberg – que permitiu imprimir textos -, adotaram práticas de repulsa a certas obras literárias. Os livros somente eram publicados após aprovação de um bispo, que concedia o selo de imprimatur (“seja impresso”).

Para me ater ao campo da ficção literária, cito apenas obras de Victor Hugo, escritor francês que teve as obras Os Miseráveis O Corcunda de Notre-Dame censuradas pela Igreja.

O romance Os Miseráveis aponta a opressão do governo e a adversidade da sociedade. Já em O Corcunda de Notre-Dame, o autor mostra o desfigurado Quasímodo sendo avaliado pela aparência física. As obras eram consideradas sensuais e porque apontavam a diferença social da época.

Outro francês, Alexandre Dumas, também teve obras censuradas, a exemplo de O Conde de Monte Cristo, cujas personagens se envolvem em suicídio, adultério e consumo de haxixe.

Isso aconteceu no passado, e bem recentemente com Leonardo Boff, que passou a viver “um silêncio obsequioso”.  Seu livro Igreja: Crisma e Poder foi censurado por defender a teoria da libertação.

Sem esquecer a história, passemos a estimular a leitura. Nesse sentido, a Igreja pode contribuir de maneira significativa.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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