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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Se nada der certo…

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publicado em 28/01/2024 às 07h51
atualizado em 28/01/2024 às 05h07

 

Num mundo onde não existe mais a relevância social e política, nada vale nada. Desde pequeno, ou  nasci assim – andar a falar sozinho. Quando uma pessoa olha, espia muito, aí eu mudo o cenário e imito Cauby Peixoto: “cantei, cantei, até ficar com dó de mim”, mas, na verdade,  eu quero é me esconder debaixo dessa sua saia, pra fugir do mundo. Tá difícil uma pessoa querer fugir comigo. No sertão chamei uma moça para fugir, ela disse ao pai dela… graças a Deus.

As crianças nunca saíram de férias e a gente não pôde se amar um pouco demais. Aliás, elas já não têm medo do escuro, de aranhas ou de fantasminhas, mas passaram a recear a guerra e os ataques terroristas, estas palavras são de uma profunda realidade. 

Nada como um bom livro ou uma criança interessada em histórias. Criança fala sozinha? E muito, desde os primeiros berros, mas são sempre mais íntegros que nós. “Não nascemos apenas para nós mesmos”, ouvi essa frase de Cicero, no filme “Os Rejeitados” e no meu coco ficou.

Estamos todos – não só as crianças – com dificuldade em reaprender a gostar uns dos outros, mas a culpa não é só da tecnologia, é que ninguém quase ninguém, tem ânimo para nada, ou exageradamente, caem na gandaia.

Ler os contos (e eu não gosto de contos) do Oscar Wilde, que foram  escritos para serem lidos com alegria, talvez ajude os mais jovens a compreender valores essenciais que os adultos não sabem mais, ou nunca souberam e não têm  mais tempo para explicar. Não é novidade que muitas pessoas ou quase todas, andam por aí falando sozinhas.

Valores como a amizade, a solidariedade, a coragem, principalmente a coragem e a justiça, a bondade, estão dando fora. Não tem a ver com aquela assertiva que Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa. Não, a canção do Chico César é uma coisa, mas gente boa mesmo, é outra realidade.

Eu sai pela Praça João Pessoa falando sozinho como se ensaiasse a decorar um poema de Bocage, um texto eterno. E não é que minha chefe aqui na União, Nana Garcez, deu de frente comigo, dizendo: “Tá falando só, Kubi? Eu disse essa era a quinta vez naquela de manhã, fora o que falo sozinho sem imitir o som das palavras. Cá comigo. É só um jeito de avisar que eu sou um homem do século passado.

Depois, há o lado lúdico da coisa, a gargalhada, a kombucha no bolso e uma carrada de cenas que me remete para o humor inimitável de um gênio. Por onde andará Piancó? Todo gênio tem humor. Senão, não  seria genial– além dos contadores de histórias que não falam sozinhos.

Geralmente eu falo sozinho o que vou falar em público. Tô falando isso, mas ninguém vai chegar para uma criança e perguntar: está falando sozinha?

Não é uma receita, é uma altivez. Pleno de sabedoria e graça, os contos de Oscar Wilde são indispensáveis na construção de uma coisa e outra. Se não der certo, desculpa…

Kapetadas

1 – Alguém me disse baixinho – K, a camuflagem está em toda parte, é o ópio do po(l)vo.

2 – O amanhã está cada vez mais ontem. Você viu Cabeção por aí?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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