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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

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publicado em 16/01/2024 às 07h00
atualizado em 15/01/2024 às 18h12

 

O programa da entidade internacional denominada, Alcoólicos Anônimos, AA, é, sem dúvida, responsável pelos melhores índices de recuperação do alcoolismo em todo o mundo.

Todos os dias, sem exceção, milhões de homens e mulheres, se reúnem em dezenas de milhares de grupos de AA, para trocar experiências, expor seus sofrimentos, ouvir a dor alheia e também compartilhar experiências bem sucedidas e conquistas. E assim, os membros desta valorosa entidade estabelecem entre si uma espécie de compromisso tácito e apoio recíproco numa empreitada comum a todos, ou seja, manter-se longe do consumo de álcool.

Segundo relatos históricos, essa irmandade, AA, foi criada no ano de 1935, na cidade de Akron, no estado de Ohio – EUA. Seus fundadores foram um corretor da bolsa de valores de Nova Iorque e um renomado médico cirurgião, conhecidos respectivamente como Bill Ilson e Bob Smith, ambos alcoolistas. Devo acrescentar que utilizarei o termo alcoolista em substituição a “alcoólatra”, seguindo orientação do Ministério da Saúde do Brasil, que considera este último muito discriminatório.

A ausência de burocracias e a metodologia simples é a tônica dessa instituição. Para ingressar em Alcoólicos Anônimos, o único requisito é o desejo de abandonar a bebida. Seus membros, todos dependentes de álcool, com tempos variados de abstinência da bebida, ou ainda em franca atividade alcoólica, não pagam taxas, nem mensalidades. A organização não está ligada a nenhuma organização, partido político ou religião, e não aceita ajuda financeira externa, mantendo-se exclusivamente com as contribuições voluntárias dos seus próprios integrantes. Também não existe chefia nos grupos de AA, mas apenas cargos temporários de natureza administrativa, sem poder de governo. A única causa defendida pela irmandade é a preservação da sobriedade de seus membros e o acolhimento de todos o(a)s alcoolistas que a procurem, sem exceção.

As regras ou estatuto dos Alcoólicos Anônimos, se é que posso chamar assim, foram escritas em 1946, segundo alguns estudiosos, ou seja, mais de uma década depois do surgimento desta organização, e receberam o nome de “tradições”, exatamente embasadas em preceitos e experiências que no decorrer do tempo vinham se mostrando benéficas ou adequadas à irmandade.

Desta forma, o programa de recuperação de Alcoólicos Anônimos, somando a participação nas reuniões terapêuticas, prevê uma evolução gradual na forma de pensar, agir e viver. Tal processo está contido numa escalada de doze degraus, que a irmandade chama de “doze passos”. Os ensinamentos oferecidos em cada um desses passos devem ser estudados, refletidos, absorvidos e, por fim, postos em prática no dia a dia, visando melhorar a estrutura emocional e comportamental do(a) alcoolista, favorecendo assim, a sobriedade e a retomada de uma vida produtiva, com qualidade, aspectos estes que em geral estão bastante comprometidos no(a) dependente de álcool.

Os membros dos Alcoólicos Anônimos explicam que os doze passos são uma reação em cadeia, e assim, dar o primeiro passo habilita o praticante a dar o segundo, depois o terceiro, e assim sucessivamente até o décimo segundo.

A maioria dos alcoolistas tem a falsa crença que pode seguir controlando a bebida com seus métodos e iniciativas próprias, mas a verdade é que, após a instalação da dependência do álcool, os que sofrem deste mal não conseguem gerenciar o uso controlado da bebida, ao contrário, são controlados por ela. Como bem falou o psiquiatra Carl Gustav Jung, “…a reabilitação de um alcoólatra está intimamente ligada a um ‘despertar espiritual’, uma profunda mudança ou desinflação da alma (humildade), que pode ser abrupta, para alguns, ou lenta e progressiva, para a maioria”. E é isto o que sugere, em seu todo o programa de A.A.

Não vou descrever aqui os doze passos para não tornar este texto longo e cansativo para o(a)s leitore(a)s, e também porque essa informação pode ser pesquisada facilmente nas literaturas nacionais. Mas devo dizer, que o objetivo maior da irmandade Alcoólicos Anônimos é a manutenção de uma abstinência saudável e construtiva. Isto é mais do que simplesmente estar sem ingerir álcool. Terapeuticamente falando, os doze passos funcionam no sentido de conservar e robustecer a adquirida transformação interior, administrar a vida abstêmia e evitar a recaída, muitas vezes fatal. É comum os Alcoólicos Anônimos falarem que a compulsão alcoólica, mesmo após longos períodos de abstinência, se provocada pelo primeiro gole, desperta toda a sede anterior, com maior fúria.

Os A.A. não dizem a um alcoolista que ele nunca mais deverá beber. Isto poderá o atemorizar. Adotam sempre o plano das 24 horas, pelo qual preconizam “não beber só por hoje”. Este desafio de se manter abstêmio por 24 horas, parece ser muito mais facilmente aceitável. Como extensão desse princípio, “viver só por hoje”, cada dia “limpo” significa um renascer.

Contudo, a sabedoria prática mais em evidência da irmandade, está no seguinte lema: “Evite o primeiro gole”. Não é uma ordem, mas sim uma dica. Pois todos sabem, por experiência vivida, que, mesmo aqueles que se encontram em longo período de abstinência, estão sujeitos à recair, e que o primeiro gole desperta a compulsão adormecida, a “sede insaciável”.

As reuniões dos grupos de Alcoólicos Anônimos são sempre abertas e encerradas com uma prece em voz alta, a conhecida “oração da serenidade”, que reza o seguinte: “Concedei-me senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras”.

Viva os Alcoólicos anônimos!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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