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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Narciso n´água

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publicado em 31/12/2023 às 09h03

Faltam horas para tudo, os amigos, as antigas farras em que trocávamos conversas musicais, ouvíamos Ella Fitzgerald na varanda – novos e antigos olhares e muitas cenas em que se colocava à tona os sentimentos mútuos. É a vida!

Hoje, falta tempo para tudo, menos para ouvir música. “Soul” viciado. E ainda arranjo breves horas para dizer um monte de coisas amorosas. Faz sentido. Vida sem música é complicada. A música é poderosa!

A música é uma coisa divina, porque nos permite viajar sem ser visto, além dos outros e a nós mesmos, numa dimensão intrínseca – a idade avançando, já não somos meninos e logo necessitamos de paz.

Mas não precisava de correr tanto, né? Afinal, segundo meu pai, sendo circular, nunca iremos a lado nenhum. É a vida!

Sempre volto ao show “Fina Estampa”, de Caetano Veloso vestido de paletó, magnífico. Uma obra prima, um concerto. Não falta tempo para voltar a este show. É como um sinal, de quem veio ao mundo para ser querido, apenas isso. Narciso n´água. Quem é Narciso?

O tempo é feroz, um peixe elétrico, o tempo é triste, a música não, por mais que possa soar.

Quantos amigos eu tenho? Quantos gostam de música? Outro dia, uma amiga que mora em Paris me mandou um vídeo de uns jovens cantando pelas ruas da cidade, acompanhados de uma sanfona, muitas sanfonas, nenhum Sivuca. Os jovens pareciam alegres na cidade iluminada.

Maravilhoso, “Fina Estampa”. Caetano é um tempo longevo de talento e sensibilidade. O Brasil deve muito a ele, orgulho dele. Vê-lo velô tantas vezes, poucas vezes, e cada vez menos, um pouco do amor, um cara que tem 81 anos, inteiro no placo.

“Maravilhoso, Cauby”, diz Caetano na gravação de “Cheek to Cheek”, composta por Irving Berlin. Caetano e Cauby Peixoto interpretam a versão feita por Ronaldo Bastos. O disco de Cauby tem somente músicas do repertório de Frank Sinatra. Maravilhoso, Caetano!

Enquanto escrevo ouço música, o que no meu caso não é difícil, (distraído como soul). Escuto às vezes as mesmas músicas, até à saturação. E, de alguma forma, isso influencia-me. No tom, no comprimento da frase, no instante em que descrevo. É a vida.

Minhas palavras têm uma sonoridade entre o tempo e o espaço-dele, além de muito, que é muito pouco, do que escrevo. São instantes, ilustrações de conversas, para entender antecipadamente o tema. É a vida.

O que vou fazer em 2024? Teria de verificar no mapa, alto astral, um lugar só para ouvir música. Não queria mais nada.

Não vale mais a pena falar sobre outro assunto. Qual assunto? Tudo banalizou. Também poderia falar de filmes, a margarina e os deuses da chuva.

Na verdade, o que mais me estranha é a legião dos que não gostam de música, que cumprem o seu dever de só viver sem parecer estar constantemente a fazer um frete com a melodia. Não estou mais habituado.

“A música é poderosa”. Quem disse isso? Ah, foi Richard Gere a Julia Roberts, no filme Uma Linda Mulher, de Garry Marshall.

Quer saber? Soul mais Camões, Zérifo e Flora passeando…

Kapetadas

1 – Que eu tenho que viver, e não somente sobreviver.

2 – Bloquear é inteligente. Não desbloquear é sábio. Feliz 2024

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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