Viver em Estado Desperto

Aqueles que possuem uma índole contemplativa podem manter uma disciplina de modo a se manter em estado desperto o dia todo ou a maior parte dele. É possível também, ficar simultaneamente na qualidade de observador de si mesmo, de observado e de vigilância tranquila de tudo ao redor. Isso é a essência do que é viver no momento presente. Torna-se uma das mais poderosas meditações para o ser humano.

Esse exercício mental e de educação emocional, serve para treinar a concentração no agora, no momento vivenciado. O resultado será a possibilidade de agir com rapidez, eficácia, de modo proativo e equilibrado naquelas situações em que essa ação se fizer necessária e pungente.

Paradoxalmente, na atualidade muitas pessoas andam dispersas, distraídas, alheias ao que lhes envolve, entretidas em seus pensamentos, seus medos ou seus planejamentos diários, ou ainda, completamente vinculadas ao celular ou a outros dispositivos móveis, sem se darem conta de que não estão atentas ao momento presente. Aliás, estão ausentes do agora, do momento, da vida, de tudo o que de fato as cercam.

Hoje eu guiava meu veículo bem antes das sete horas da manhã, quando nesse trajeto observei a mim mesma e a tudo no meu entorno, e percebi que muitos motoristas de carros e de motos, estavam com seu celular ao ouvido ou a gravar ou a escutar alguma mensagem de voz.

Os mais adeptos à tecnologia diriam que é só acionar o ‘bluetooth’ ou o fone de ouvido do celular para não correr riscos de acidentes de trânsito, promovidos por distração enquanto guiavam seus veículos.

Mas, a questão não é meramente desocupar as mãos e sim, de se manter com concentração ativa, em estado desperto, sem perder o foco no aqui, no agora e no universo circundante.

Alguns fatos curiosos é que poucas pessoas conseguem, por exemplo, manter a atenção em mais de uma atividade, como ler mais de três livros ao mesmo tempo sem perder a história e a reflexão sobre cada um deles.

Os samurais japoneses treinados no “caminho do guerreiro” ou “código samurai”, sabiam manter o foco porque tinham maestria em estar concentrados. Ouviam, percebiam e sentiam tudo ao seu redor, ao tempo em que tranquilizavam as batidas do coração e da emoção e acionavam seus mecanismos de defesa de modo preciso.

O que importa nesse processo, é não ficar à mercê do fluxo ou ser condicionado a se submeter a circunstâncias inusitadas, mas, integrar o fluxo do que acontece no momento presente.

No estado desperto, concentrado, uma pessoa é capaz de agir de modo tempestivo e com precisão, sem ser pega desprevenida em sua capacidade e em seu tirocínio. É possível ver além do que enxerga, de ouvir além dos sons audíveis fisicamente, de perceber integralmente aquilo que está apenas parcialmente à mostra.

A concentração ativa indica que a mente humana é um instrumento que precisa ser treinado e bem usado, que deverá estar sob o domínio da consciência da própria pessoa e não dos objetivos de terceiros (de manipuladores, por exemplo).

A dispersão da mente, entretanto, impede o ser humano de alcançar o nível de entendimento da consciência pessoal, que é clara, ampla e atua em vários níveis: consciente (plano tangível), subconsciente (pré-consciência), inconsciente pessoal (fatos e processos psíquicos) e inconsciente coletivo (conjunto de arquétipos acessíveis a todas as mentes).

Com a mente quieta, ou seja, com a mente concentrada, sem estar dispersa e distraída, todas as capacidades e alcances no ser humano são potencializados.

E o primordial nesse treinamento específico é que cada pessoa estará a programar a si mesma, ao invés de estar à mercê de ser induzida passivamente, tanto pelo volume de informações que circulam ou pelas “formas-pensamentos” fabricadas intencionalmente (criações mentais de outros), para fazer indivíduos ou multidões agir seguindo interesses difusos de terceiros (indução).

Viver no estado desperto também é primordial para que uma pessoa não se deixe envolver nos apelos subliminares que pululam no mundo atual. E é também, intenciona e propositadamente, se capacitar para viver a própria história conforme se acredita.

Em um mundo que segue à deriva, é de bom alvitre pegar o leme e criar a própria história, guiar-se pela consciência treinada, e, agir segundo os princípios e valores que cada pessoa adota. Não é bom nem saudável se deixar ser manipulado, nem pela mídia, nem por grupos, nem por amigos e nem por quem quer que seja.

Respeitar essa premissa é aprender a viver a vida com qualidade e conforme os ditames da própria pessoa, de acordo com tudo o que aprendeu e assimilou ser saudável e construtivo para si e para aqueles a quem ama e com quem convive. O resultado disso é mais harmonia na vida, na saúde e no bem viver.

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