Há um instante na vida em que o coração entende algo que a mente sempre desconfiou: nada do que acumulamos fica, exceto aquilo que realmente vivemos. Foi quando percebi que os objetos, os títulos, os aplausos e até as dores não caberiam na mala do destino. O que permanece, de fato, são as experiências que me atravessaram, as histórias que escrevi no corpo e na memória.

Foi nesse momento que resolvi escolher com mais delicadeza o que quero carregar. Passei a viver não pelo impulso do relógio ou pelas pressões de fora, mas pelo desejo de dentro. Comecei a dizer mais “sim” para o que desperta a alma, e mais “não” para o que aprisiona. A vida, afinal, não é um depósito de lembranças aleatórias, mas um cofre sagrado onde guardamos o essencial.

Descobri que viver o que quero levar é me permitir rir alto sem medo do ridículo, abraçar demoradamente, amar sem calcular, dançar mesmo quando a música é só do vento. É também chorar quando preciso, porque até a lágrima que alivia tem valor de eternidade.

Não quero que minha herança seja um saldo bancário ou uma lista de tarefas cumpridas. Quero que seja uma coleção de momentos em que fui inteira, em que fui verdade. Quero que quem lembrar de mim sinta o perfume de um instante vivido com intensidade, e não o peso de uma vida que passou sem ser tocada.

O que levo é o que vivi. E se é assim, que eu viva cada dia como quem escolhe as flores para enfeitar sua própria despedida: com beleza, autenticidade e coragem.

Não custa lembrar o que disse Mahatma Gandhi “A vida não é esperar a tempestade passar, é aprender a dançar na chuva.”

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