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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Nós lusíadas de Camões

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publicado em 24/09/2023 às 09h00

Eu li tão pouco Camões, quase nada. Tenho me aproximado dele impetuosamente. Não costumo dizer que conheço a obra de um escritor, sem que isso tenha acontecido. Sempre li muito Drummond, Bandeira, João Cabral de Melo Neto, o poema sujo de Ferreira Gular, Rimbaud, T.S Eliot e as flores do mal de Baudelaire, que gosto muito.

O que me tem levado a gostar da obra de Camões, vem da intimidade com a escritora Ângela Bezerra, uma mulher por quem me apaixonei nos anos 80 ou bem antes, no útero, mas nunca disse a ela, deixei registrado no texto “Azul Turquesa”, que escrevi em 1992, que abre seu livro “Ao sabor do diálogo”

Ângela sabe de cor a maioria dos poemas de Luís de Camões. É lindo ela de pé recitando pra mim. “Você conhece Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”. Corri para Google, mas ela chegou antes e começou declamar, se adiantando, os poros acessos e os olhos turquesa que Deus deu, saúde, que Deus dá. Ali mesmo fiquei a olhar a majestosa cena.

Dizer um poema, interpretá-lo é um prazer sem regras, é um prazer sem fim, é como o gozo que entra dentro da gente e chega até o Oriente e nos desorienta total, além de nos fortalecer desse mundo mal.

Não é preciso ser ator ou milagreiro, ter bom timbre de voz, mas declamar sentindo cada palavra, como faço quando declamo Drummond, é um transe. Ângela me ensinou a amar Luís de Camões, como se ama uma árvore, um livro, um homem ou uma mulher, como na cena em que começamos a aprender a andar.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” é um desses poemas que estica pertencimentos, que só falta ser musicado, mas acho que, às vezes, a melodia estraga o poema, jamais como o fez Renato Russo, com a língua dos homens, dos anjos ou “Canção Amiga” de Drummond, que Mílton Nascimento musicou.

 Mudam os tempos, os valores, as estradas, as casas, as pessoas mais ainda, as sociabilidades, mas não mudam os poemas, os poetas, os malabaristas, os filhos da puta, sequer o transido em julgado.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, “Muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades” isso dele dizer qualidades, eu percebo na amizade que tenho com Ângela Bezerra, que já passa dos 40 sóis.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem, se algum houve, as saudades”. Tão simples é a compreensão do poema de Camões.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, o tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, E enfim converte em choro o doce canto”. Isso dele dizer o tempo cobre o chão, a vida é muito chão, para bons entendedores.

Tudo pode mudar menos o respeito de uns e outros, do nosso eterno respeitar, retribuir, agradecer.

O mundo é um homem velho chamado Luís  de Camões que está dormindo. Logo logo ele acorda, ou ficará dormindo no seu acordar.

Em que lugar estamos? Na casa de Camões, 1524, apontado como um dos maiores representantes da literatura mundial. Onde estávamos? Na casa de Ângela Bezerra. have a feeling.

Kapetadas

1 – Tem algum período do ano que dá pra mudar de signo não aguento mais comer (virgem)

2 – Matusalém morre de inveja de Camões, sicranos pbs morrem de inveja de Ângela.

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