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Papa defende ‘sociedade aberta e renovada’ em Cuba

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publicado em 27/03/2012 às 08h51

Após mencionar os presos e — indiretamente — os exilados cubanos na sua chegada ao país, o Papa Bento XVI defendeu a construção de uma “sociedade aberta e renovada” na ilha. A declaração segue a linha mais suave que o Pontífice adotou após chegar ao país, em comparação com as críticas mais contundentes feitas anteriormente.

— Desejo fazer um chamado para que deem um novo vigor a sua fé (…) e com as armas da paz, o perdão e a compreensão, lutem para construir uma sociedade aberta e renovada, uma sociedade melhor, mais digna do homem — afirmou Bento XVI.

O Papa falava durante a missa rezada em Santiago de Cuba, onde desembarcou. Milhares de pessoas acompanharam o culto, realizado sob um sol forte e encerrada com chuva.

O tom das declarações contrasta com o da afirmação de que a ideologia marxista “já não corresponde à realidade” e que era necessário “encontrar novos modelos”. Essas últimas frases foram ditas pelo Pontífice durante o voo em direção ao México. O regime castrista respondeu que ouviria atentamente ao Papa.

Justas aspirações

Na chegada a Cuba, Bento XVI disse carregar consigo as “justas aspirações” de todos os cubanos, inclusive dos presos e dos que estão fora da ilha, tocando indiretamente no tema dos direitos humanos. Milhares de pessoas receberam o Pontífice e cerca de 200 mil são esperados para uma missa a ser celebrada por ele.

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— Levo no meu coração as justas aspirações e legítimos desejos de todos os cubanos, onde quer que se encontrem, seus sofrimentos e alegrias, suas preocupações e desejos mais nobres e de modo especial dos jovens e velhos, dos adolescentes e crianças, dos enfermos e trabalhadores, dos presos e de seus familiares, assim como dos pobres e necessitados — afirmou o Pontífice, diante do presidente Raúl Castro.

O Papa descreveu o atual momento de Cuba como um período em que o país “olha para o amanhã e para ele se esforça por renovar e ampliar seus horizontes”, fazendo referência em seguida a José Martí — mártir da independência cubana.

Bento XVI também descreveu “um momento de especial dificuldade econômica” em que vivem muitas partes do mundo hoje em dia. Comentou que muitos concordam ser essa situação decorrente de uma crise de tipo espiritual e imoral que deixa o homem “desprotegido frente à ambição e ao egoísmo que não têm em conta o bem autêntico das pessoas e famílias”.

Desde a visita de João Paulo II à ilha, em 1998, a Igreja Católica vem se tornando um dos principais interlocutores do governo cubano e muitos esperam que a visita sirva para ampliar o papel mediador do Vaticano em assuntos sensíveis como presos e dissidentes políticos.

Outra expectativa é que a visita de Bento XVI ajude a ampliar participação da Igreja na vida da ilha por meio de programas sociais e educativos.

— Um dos frutos importantes daquela visita foi a inauguração de uma nova etapa nas relações entre a Igreja e o Estado cubano. Mas ainda há muitos aspectos em que se pode e deve avançar — disse o Pontífice hoje.

Em seu discurso, Raúl Castro de certa forma respondeu às críticas de falta de democracia em Cuba e fez referência indireta às reformas que vem implementando desde que assumiu o poder em 2008.

— A nação seguiu invariavelmente mudando tudo o que deve ser mudado conforme as altas aspirações do povo cubano e com a livre participação desses nas decisões transcendentais de nossa sociedade, incluindo as econômicas e sociais — afirmou Raúl.

Dissidentes e exilados

Mais de 300 cubanos americanos e outros peregrinos foram a Cuba. Alguns beijaram o solo ao chegar ao aeroporto de Santiago. Muitos do grupo, que leva 16 mil rosários para distribuir no país, não haviam voltado à ilha desde que suas famílias fugiram há mais de 50 anos.

A chegada do Papa coincide com a prisão de 22 mulheres participantes do Damas de Branco, um grupo de ativistas cujas ações normalmente são toleradas pelo regime, mas que vem sofrendo um maior controle com a aproximação da visita. É a segunda vez em um intervalo de 15 dias que as Damas sofrem detenções.

A expectativa do grupo é poder falar com o Papa sobre direitos humanos. Entretanto, o encontro que as dissidentes solicitaram ao Vaticano em carta e em reiteradas declarações à imprensa estrangeira dificilmente será atendido.

— Fizemos uma lista com 46 presos políticos para que, se houver a possibilidade de indulto, eles possam ser beneficiados, ou todos ou pelo menos a maioria deles — disse ao GLOBO Berta Soler, porta-voz das Damas de Branco.

A visita do Papa é vista como uma tentativa de Cuba de obter o peso político do Vaticano a favor do regime controlado pelos irmãos Castro há 50 anos. Já para a Igreja, trata-se de um estímulo ao catolicismo em um país no qual a religião é praticada regularmente por cerca de 10 % da população.

Encontros com Fidel e Chávez não estão confirmados

Na terça-feira, o Papa homenageará a Virgem da Caridade no santuário de El Cobre, onde repousa a mítica imagem da padroeira cubana, descoberta há 400 anos por pescadores no mar.

Embora as hipóteses estejam sendo cogitadas, ainda não está certo se Bento XVI irá se encontrar com o ex-presidente Fidel Castro e com o presidente venezuelano Hugo Chávez, que está em Cuba para sessões de radioterapia em função do câncer que foi diagnosticado em 2011.

O Globo

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