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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Caetano “Transa” e a multidão também

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publicado em 15/08/2023 às 10h32
atualizado em 15/08/2023 às 16h50

O relógio marcava 1 hora da manhã dessa segunda feira (14), quando Caetano Veloso subiu ao palco do Festival Doce Maravilha para cantar o disco “Transa”, de 1972. O show estava marcado para 20h30 e, mesmo com a forte chuva que teve início no final da manhã do domingo (13), que quase impediu o cantor de se apresentar e nós lá, para um show inesquecível, que engendrou um brilho intenso entre nós.

Quando chove no Rio de Janeiro são dois dias seguidos ou até mais”, disse a moça Renata Roizenbit. Aliás, a moça do tempo já tinha avisado que ia chover no Rio no domingo.

Saímos para a contemplação. Chegamos na hora do show  de João Gomes, que foi salvo pela cantora Vanessa da Mata. Os dois cantaram molhados sobre os indiscretos pingos de chuva, aliás, não eram pingos, era um toró mesmo.

Logo depois seria o “Transa”, mas não rolou e, na sequência, veio o show de Marcelo D2, que seria o último da noite. A plateia reagiu com vaia – D2 fez piruetas revisitando “A Procura da Batida Perfeita”, gravado em 2003. E haja chuva. A plateia, digo os fãs de D2, foram ao delírio.

O piso batido virou lama e chovia dentro do palco principal. Ali seria impossivel acontecer o show Transa. Logo veio a informação de que poderia não acontecer o show de Caetano e fomos para o outro palco, onde a “Orquestra Imperial toca: Rita Lee” se apresentava, com Moreno Veloso, Nina Becker, Ovelha Negra, Emanuelle Araújo, Matheus VK, Rodrigo Amarante e Rubinho Jacobina. Genial.

Pulamos para o show de Liniker & Péricles – um delírio vigoroso no palco, até que veio a confirmação de que Caetano Veloso faria o show naquele mesmo palco, Farm MangoLab. Muita gente tinha dado no pé, mas uma multidão se unia na espera do “Transa”.

Caetano entrou no palco e a plateia já cantava em coro as canções do disco “Transa” -, ele vestido de casaco vermelho e calça preta, com as cores da capa do vinil -,um show para os fortes e centenas de jovens enlouquecidos gritando o nome dele.

Durante o show, Caetano compartilhou um pouco sobre as histórias das faixas do álbum Transa e declarou que o disco “só existe por causa dos horrores da ditadura militar” que o obrigou a se exilar em Londres, onde o trabalho foi produzido.

Pré Transa

Caetano Veloso iniciou o “Transa” (com a banda que toca com ele na turnê Meu Coco) e disse que durante a apresentação, cantaria canções do Pré Transa e uma delas foi “Irene”, escrita enquanto ele estava na prisão. E cantou Maria Bethânia, “You Don’t Know Me”, Asa Branca (de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). E seguiu cantando “London, London”, “The Empty Boat, Araçá Azul, Triste Bahia, Neolithc Man, It´s a Long Way.

Depois da performance de “You Don’t Know Me”, Caetano chama e anuncia Macalé, Tutty Moreno, Áureo de Souza e pediu para Jards Macalé tocar algumas músicas sozinho, como “Mal Secreto” e “Corcovado”. Em seguida voltou para os sucessos “Mora Na Filosofia” e “Nine Out Of Ten”.

“Mora na Filosofia” (de Monsueto)  rasgou a tela de fundo de nossos corações.

No show, Jards tocou violão eletroacústico em “You Don’t Know Me” e “Nine Out of Ten”, as duas primeiras faixas de “Transa”. Além disso, cantou com Caetano “Sem Samba Não Dá” do disco “Meu Coco” de Caetano e, do seu repertório, “Mal Secreto” que disse que era para “colocar Waly Salomão na roda”, brincou Macau, referindo-se ao falecido parceiro que fez a letra da música). E cantou lindamente “Corcovado”, de Jobim 1955.

Um show bem transado encerrado com a apresentação de “Nostalgia”, última faixa do emblemático disco de Caetano Veloso, que teve a participação de Gal Costa e Ângela RoRo tocando gaita. Ele disse “Se Gal estivesse viva eu a teria convidado, chamei Angela RoRo, mas ela está fazendo show em Belém do Pará”

Triste Bahia foi um transe total, a multidão diante do diverso, dos versos. Estávamos enfim convencidos, que não é só aos vinte e poucos anos que nos garantimos. Eu, um velho com pelos brancos nas narinas estava naquela jornada; o resultado foi um sonho, nunca um Rio que passou em minha vida, não tem como passar, não tem como esquecer. Todos nossos desejos revelados em cenas vorazes e surreais. Era muito, foi muito, apesar da chuva, mas como ele mesmo  diz – “a chuva ajuda a gente a ser ver”.

Foi impetuoso, Caetano de joelhos reverenciando Jardes Macalé, Tutty Moreno e Áureo de Souza – uns aos outros.

O mundo de Caetano Veloso é nosso. Caetano “Transa” e a multidão também. Valeu!

Kapetadas

1- Nunca foi sorte, sempre foi eu.

2 – Tirando meus livros, meus discos, minha meta de vida agora é ter somente o que caiba em numa mala de bordo.

3 – Fotos –  Alex Woloch  e Felipe Gomes

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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