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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

O encontro do presente com o passado

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publicado em 04/05/2023 às 07h00
atualizado em 03/05/2023 às 17h33

Há sessenta anos concluíamos o terceiro ano cientifico, que na época era chamado de ensino médio. Nesse tempo a valorização do ensino e a apreensão do conhecimento constituía-se em fato muito importante pois era nítido o mérito de quem o tinha e isto era motivo de celebração e comemorado pela família como uma vitória e a subida em um degrau na formação desejada para que o filho/a chegasse ao topo que era alcançar uma profissão. Havia o vislumbrar de que com o título desejado o êxito era alcançado e a realização profissional viria. O que não acontece nos dias atuais.

No dia 14 de abril de 2023 a turma de 1963 das Lourdinas comemorou 60 anos de formatura. A festividade ocorreu no Colégio N. S. de Lourdes, educandário que mantém ainda o ensino e a formação conservadora no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, sem deixar de acompanhar a modernidade da sociedade nos tempos atuais. Os professores quase todos são leigos, as irmãs já não são obrigadas a usarem hábitos. Tudo muda, mas os princípios éticos e morais permanecem os mesmos na construção de seus alunos.

A “Turma Lourdinas 1963” com a pandemia reencontrou-se.  Foi criado um grupo pela colega Maria Lúcia Onofre Y Plá Cavalcante que agregou a todas. A partir daí ressurgiram as amizades do antigo curso colegial. Vivemos momentos prazerosos, com recordações e muito saudosísmo, que ainda hoje continua. Era constante relembrar os fatos que sucederam durante a nossa trajetória como estudante. Cada uma colocando o que trazia em sua memória e que o tempo não conseguiu apagar como marca daquela etapa de sua vida. Isto feito por palavras e outras com colocações de fotografias do período e que em certa oportunidade não reconhecíamos alguns colegas e uma ajudava a outra nas lembranças do reconhecimento.  Com o grupo formado foi pensado o encontro presencial que marcaria a passagem dos 60 anos de formatura. Estabeleceu-se comissão organizadora composta pelas colegas: Cléa de Athayde Moura, Eliete Paiva Siqueira, Maria Letícia Teixeira de Carvalho, Valmira Maria Queiroga Cartaxo e Regina Falcão Rodriguez.  A comissão elaborou convite com os nomes de toda a turma e a seguinte programação:  Dia 14 de abril de 2023 – 08h45: Missa em Ação de Graças na Capela do Colégio N. S. de Lourdes, celebrada pelo Cônego Marcelo Firmo, em que participaram das leituras litúrgicas do dia, Maria Vânia dos Santos e Valmira Maria Queiroga Cartaxo. Foi prestada homenagem póstuma aos professores e professoras e às colegas que partiram para o etéreo, Carmem de Lourdes Novais de Araújo, Clélia Lúcia Ramos Lemos, Delma Peixoto de Oliveira, Elda Moreira de Oliveira, Marina Von Sohsten, Vera Maria Campos Henriques; 10h30: Visita aos lugares nostálgicos de recordações estudantis; 11h00 Entrega do porta retrato como registro da passagem da Turma 1963 no Colégio e momento de tirar fotos da turma reunida. Nessa ocasião usaram da palavra as colegas:  Cléa de Athayde Moura, Eliete Paiva Siqueira, Regina Falcão Rodriguez e Maria Vânia dos Santos; 12h00Confraternização e agradecimento ao Colégio pela acolhida com o corte do bolo simbólico. Nessa ocasião proferi algumas palavras, que abaixo transcrevemos: Palavras à “Turma Lourdinas  1963”.

Há 60 anos entravamos neste educandário, jovens cheias de sonhos e planejamentos para uma vida inesperada que viria pela frente. O que seria de nós? O que o destino nos reservava? Aonde iriamos chegar? Aquele dia de formatura era a despedida e cada uma devia percorrer seu caminho. E assim aconteceu. Primeiro veio a outra etapa de formação, a nossa realização profissional. Umas foram ser advogadas, outras médicas, enfermeiras, professoras e por aí vai. Cada uma seguiu seu destino. Todas em seu contexto realizaram-se. Casaram e constituíram família.

Aqui estamos reunidas neste encontro memorável, inesquecível. Este lugar para nós constitui-se um santuário, relicário de recordações, verdadeira memória de nossa trajetória, relembrando os melhores instantes de nossas vidas, nossas brincadeiras, as transgressões que fazíamos tentando burlar a disciplina do colégio, comportamento próprio do jovem irreverente fruto da imaturidade. O que nos fazia muito felizes e unidas. Para nossa formação contamos com a compreensão de nossos mestres impondo a disciplina que se fazia necessária, pelo que somos muito gratas. Todas nós nos realizamos profissional e pessoalmente. Isto resultado da educação que recebemos. O homem é um ser aprendiz, não nasce pronto. É preciso que seja ensinado para poder ingressar no sistema civilizatório da sociedade.

O que fez este momento tornar-se atual? Sabemos que assolou sobre a humanidade a maior pandemia de todos os tempos, a da Corona Vírus, que nos levou ao pavor, ao pânico, nos tornando frágeis e impotentes frente à realidade que tínhamos que enfrentar. Havia um inimigo invisível cuja arma era distanciar as pessoas e nos mantermos reclusos em nossas casas. O contato social era proibido. Víamos nossos amigos e parentes morrerem e permanecíamos inertes, inoperantes, sem recursos disponíveis para resolvermos tal situação. Quadro que nos deixou desolados.

A pandemia foi uma das piores coisas que aconteceram, porém nem tudo se constituiu em experiências desagradáveis. O isolamento trouxe a necessidade de nos comunicarmos, pois, o homem é antes de tudo um ser social.  Essa carência foi ocupada com o uso da internet que permitiu nosso contato com o mundo. Assim, por iniciativa de Lúcia Yplá, criou-se o grupo na internet “Lourdinas 1963” que nos deu condições de nos reencontrarmos.  As colegas foram chegando aos poucos.  São elas: Ana Lucia Coutinho, Ana Maria Carvalho, Aurimar Fernandes, Eliete Paiva Siqueira, Giannina Faraco, Clea Moura, Zenilda Pontes, Zelma Braga, Rosimar Rabelo, Olivia Teixeira, Maria Leticia Teixeira, Maria Lúcia Y Plá Cavalcante, Wolma Toscano, Vitória Leopoldina Amorim, Valmira Cartaxo, Regina Rodriguez, Maria Germana Vilar, Maria Vânia dos Santos, Maria Arminda Borges, Teresa Neuma Vaz e Maria Valdelice de Farias.

Com o grupo formado a integração se estabelece e todas começam a interagir e relacionar-se. Iniciamos uma nova etapa. Nós nos conhecíamos, mas hoje nossa vida é completamente diferente daquela época de colégio, cada uma construiu sua vida e sua família. Muita coisa a conhecer e a falar. Foi interessante. O mundo do grupo era totalmente desconhecido. Houve uma curiosidade em saber a vida uma da outra. O que fez? Suas realizações?  Família?  Onde morava?  Etc. Um ano e meio nessa vivencia virtual fez-nos familiarizar em nossa confraria.  Durante o desenvolvimento das conversas constatamos que a nossa amizade e intimidade cresciam. Cada uma procurava demonstrar seu carinho pela colega, aconselhando, dando força para superar etapas difíceis, sofrimentos e doenças, prescrevendo receitas, indicando orações, colocando fotos da família, de sua casa etc. de modo que hoje somos além de colegas verdadeiras amigas.

Este ato hoje representa a culminância da congregação do grupo “ Lourdinas 1963”. É uma reunião simples, porém com profundidade de sentimentos em que nos sensibilizamos para comparecer. As que faltaram tiveram justas razões, inclusive a mentora da criação do grupo, Lúcia Y Plá, residente em Salvador, que se submeteu a uma cirurgia e não pôde comparecer. Encontra-se em pleno restabelecimento para alegria de todos nós.

Ao longo desses anos a vida não conseguiu apagar aquilo que ficou e o tempo construiu, que traduzimos em saudades dessa convivência sadia com professores e colegas, das risadas, brincadeiras e puxões de orelha dados pelos nossos mestres. É imensa nossa felicidade em poder estar aqui, celebrando a vida o que faz-nos julgar como privilegiadas uma vez que muitas de nossas colegas já se foram. O filosofo Olavo de Carvalho disse: “Há coisas que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo. Só algumas são para sempre”. O que podemos dizer deste Colégio e dos momentos que aqui tivemos e que se eternizaram em nossas mentes? Hoje, constatamos que foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas. Aqui enfrentamos o nosso primeiro desafio que nos deu força para prosseguir e chegar aonde estamos. Nossa eterna gratidão!

12h30-Almoço no Restaurante Nau. Durante o almoço sorteamos uma lembrança cuja ganhadora foi Maria Letícia Teixeira de Carvalho e os dois banders com a fotografia da turma sendo sorteadas as colegas Aurimar Fernandes e Cléa Athayde Moura.  No dia seguinte, 15 de abril, sábado, 12h00: Almoço de confraternização da “Turma Lourdinas 1963” no Restaurante Gulliver Mar. Encerrando assim a programação.

Esse encontro da “Turma Lourdinas 1963” converteu-se em ocasião de muita emoção para todas nós participantes, que parecíamos querer voltar no tempo e lugar. Não nos dávamos conta que o presente fazia enxergar que tudo mudara e se transformara. Naquele instante, ficamos tristes pelas mudanças ocorridas na linha do tempo, mas na mesma oportunidade felizes por ter chegado até ali e poder usufruir dessa celebração comemorativa, vivenciar, apreciar, abraçar as colegas e constatar que a nossa trajetória vitoriosa valeu a pena fazendo-nos sentir orgulhosas de participarmos dessa história, e sermos testemunhas de que a formação recebida naquele educandário nos levou ao sucesso como mulher e profissional. Nosso reconhecimento e gratidão ao Colégio N. S. de Lourdes.

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