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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Bata antes de entrar

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publicado em 14/03/2023 às 07h00
atualizado em 14/03/2023 às 05h11

(para meu filho Vítor)

Preciso ler urgente a escritora Katherine Mansfield, preciso bater à porta dela, como fez o jornalista Julián Fuks. Eu quero arrombar a porta e não me importa, se ainda estou na quebrada da soleira.

Todos os dias vejo portas fechadas, lacradas, com tijolos e os casario apodrecendo. São muitos. O que não acontece pras bandas do mar – um mar de portas fechadas e muros altos – e aí tem que ser, porque os bandidos são vastos e integrados.

Mais portas vêm sendo fechadas. Minha mãe dizia que, quando Deus fecha uma porta, Ele abre outra. Deus não gosta mais do mundo.

Uma porta não é só uma porta, é um atalho, às vezes os estilhaços de amor, da canção de Cátia de França. Aliás, não vá na casa de ninguém sem avisar, nem chegue de manhã cedinho ou às 18h.

Tantas portas se fecham e só escutamos o movimento que atravesasa o tempo. Me lembro quando uma visita chegava na casa dos meus pais, na hora do almoço, os pratos eram recolhidos. Eu pegava o meu e fazia um samba. Sim, existem mesas com gavetas, que eram feitas para isso. Ou aquilo. Aquilo? Aquilo já se perdeu na noite dos tempos bons.

Uma voz  é um movimento, uma porta tem o som das dobradiças, mas hoje já se abre a porta com um comando do celular. Não é o fim da porteira.

De razão de ser porta, tal porta, continuará fechada. Não só as casas, milhares de pessoas estão com portas fechadas, desde antes da pandemia. Nem aluga, nem vende – heranças malditas.

Nunca vi uma casa fechada no sertão, mas as cidades têm seus cenários destruídos. Derrubaram quase todas as casas antigas e fizerem outras sofisticadas ou transformaram em frigoríficos, como fizeram com nossa casa da esquina do Jatobá. Ali era um lar, pai, mãe e nós.

Portas – entradas, saídas, acesso, admissão, solução, portão, expediente.

Encolher barrigas para passar na porta, esticar a libido para nos ajudar a seguir no gozo, mas a porta precisa está aberta.

Tem a porta da Casa Irene, onde não se usava camisinha. Tempos felizes.

Pois é, bata antes de entrar, como está no quarto do meu filho.

Kapetadas

1 – Seguir o fluxo e aceitar.

2 – O fogão já foi à lenha, a gás, elétrico, em microondas. Até chegar à delivery, essa inércia alimentar.

3 – Som na caixa – “Batidas na porta da frente, é o tempo”, Aldir Blanc  e Cristovão Bastos

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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