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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Esperança de óculos

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publicado em 11/03/2023 às 07h00
atualizado em 10/03/2023 às 18h42

Cão tem dono?  E um cão sem dono?

Sai para almoçar e vi um cachorro perdido, correndo de um lado para outro na avenida Rodrigues de Aquino, (centro de João Pessoa). Parecia chorar.

O olho no cachorro, sei que a vida tem uma substância própria e alheia a si mesma, uma inteligência artificial que está bombando e fiquei sem palavras. Sem chão.

Coração vazio.  

O cão estava com fome de viver, é outra agonia, outro latido, que adapta à insistência e à finitude onde tudo pode acontecer. Uma mulher na calçada da OAB/PB, disse que deixaram o animal ali, antes do meio dia. “Era um carro prata, a mulher desceu e deixou o cachorro na calçada”.

Então, o cachorro vem até mim e reconheço os critérios da comunicação, que a vida se interliga a outras cenas caninas, inclusive de outras vidas, de modo quase mineral. Puxa vida, não faz isso, coloca na Internet, poderia conseguir um novo dono, uma casa nova

Coloco a mão no cachorro. Lembro de meu pai, que tinha um cão e criava no muro do Jatobá Club, porque minha mãe não deixava que o animal dormisse dentro de casa. A mulher manda em tudo, mas tudo tem limites.

Chego mais perto, ele se acalma e passa o focinho quente em mim. Então, perco todo o conhecimento prévio da vida. Ele parece feito de afetos.

Algo de ruim está acontecendo entre as pessoas. O acontece quando o cachorro late de noite. Algo já aconteceu. A dona, ao invés de ir ao médico, abandona o animal na rua – e a vida é só raiva incontida e despertares incômodos.

Se não fosse o cachorro, eu teria ido almoçar feliz, saber de seu desespero bateu aqui em mim. Não sei se suportaria tantas cenas assim, de tanto já conseguiria cobrir meu rosto para chorar. Aí se alguém me olhasse de longe, veria um cachorro. Eu sou um cão, kubicão.

Vou comprar os óculos da esperança, quero enxergar a Casa no Campo de Zé Rodrix, “onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais”

 Kapetadas

1 – A raiva em si, ainda causa um movimento na relação.

2 – Abandonar um animal na rua é algo infelizmente (na maioria das vezes) sem volta.

3 – A ilustração da coluna, uma mulher com seu dog na beira mar do Cabo Branco, foi registrada ontem à tarde e autorizada.

4 – Som na caixa – https://www.youtube.com/watch?v=XmEH4F8u2oY

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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