Líder de igreja, vida de ostentação e alvo da PF: quem é o dono da Braiscompany?

Hoje alvo da Polícia Federal por suspeita de crimes contra o Sistema Financeiro, o advogado Antônio Neto carrega no currículo pessoal e profissional a fundação de uma igreja, passagens por escritórios de advocacia e relação com famosos, principalmente atletas.

Nas primeiras horas desta quinta-feira (16), “Ais”, como é conhecido, viu o dia amanhecer com a presença de viaturas e agentes da PF em escritórios da Braiscompany, fundada em conjunto com sua esposa, Fabrícia Campos, e na residência do casal na região de Campina Grande.

A investigação apura a movimentação de valores equivalentes a aproximadamente R$ 1,5 bilhão em criptoativos, em contas vinculadas aos suspeitos. Por determinação da Justiça Federal, a empresa teve as atividades parcialmente suspensa e os bens bloqueados. 

Antônio Neto e Fabrícia campos, fundadores da empresa Braiscompany

Mas, quem é Antônio Inácio da Silva Neto? 

Antes das viagens de jatinho, casas de luxo e relação íntima com famosos, Neto já se envolveu em outras atividades.

Em 2018, por exemplo, ele tentou emplacar a Igreja de Cristo, na Grande João Pessoa. No perfil criado no Instagram, Antônio Neto postava mensagens de fé e de ensinamentos religiosos. A última delas é do mês de maio, dia de um estudo bíblico. “Vamos aprender um pouco sobre a vida de Paulo um dos maiores apostos da história!”, diz a mensagem.

Paulo é um dos mais influentes apóstolos do cristianismo e acabou transformando as crenças religiosas e a filosofia de toda a região da bacia do Mediterrâneo com sua liderança, influência e atividades missionárias.

O paraibano nascido em Cuité, Antônio Ais, como é conhecido, se formou em Direito pela Universidade de Fortaleza em 2006. Atuou como advogado até 2016. A entrada no mundo financeiro ocorreu em paralelo com as atividades de advocacia.

Ele chegou a ser apontado por captar clientes para a D9 Club, a pirâmide financeira de Danilo Vunjão Santana Gouveia, conhecido mais como Danilo Dubaiano, atualmente foragido da polícia brasileira por aplicar um golpe de R$ 200 milhões e lesar milhares de investidores.

Nas postagens antigas da Igreja de Cristo, novos textos surgem relacionados à crise da Braiscompany. “Que o Criador dos Céus e da terra tenha misericórdia de Toin ( brascompany)”, escreveu uma pessoa. “Que o Senhor Jesus abençoe as famílias que eles estão devendo”, diz outra.

Alto padrão de vida 

Com o aumento da receita, a Braiscompany se tornou uma das principais empresas de patrocínio na Paraíba. Investiu em eventos públicos, a exemplo do Maior São João do Mundo, em Campina Grande, e até mesmo um torneio de servidores da Polícia Federal.

Nas redes sociais, Antônio Neto não esconde a vida luxuosa. Viagens, moradia em mansão, carros de primeiro mundo. Com a esposa e familiares, as imagens compartilhadas nos perfis de Neto tinham o objetivo de mostrar um alto padrão. Tudo sempre acompanhado de mensagens de inspiração.

Para mostrar uma relação íntima com pessoas influentes, Ais sempre fez questão de fazer postagens ao lado de famosos, principalmente de jogadores. A empresa hoje investigada pela Polícia Federal foi a principal patrocinadora de diversos jogos com a presença de atletas de todo país.

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Presença no Congresso Nacional

Em dezembro de 2021, Antônio Neto esteve no Congresso Nacional, em Brasília. Ele participou da Audiência Pública Interativa proposta pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal sobre ativos digitais.

“O debate foi acerca de regulamentação de criptomoedas no país. Nosso CEO contribuiu com a discussão e concordou com a regulamentação dos ativos digitais, reforçando que ela traria mais segurança aos investidores do mundo cripto. Além disso, também deixou claro que está disponível, junto com a Braiscompany, para contribuir com a regulamentação e ajudar a criar uma proposta que agrade os investidores de cripto e esteja dentro dos parâmetros dos órgãos reguladores”, disse a empresa à época sobre a agenda.

Suspeita de calote e reclamações de clientes

O início de 2023 trouxe para a Braiscompany uma série de reclamações por parte de clientes sobre a falta de pagamentos. A empresa conseguiu atrair milhares de investidores, principalmente de Campina Grande, com uma proposta de alto retorno financeiro.

Parte dos clientes acusa a companhia de atrasar o último pagamento de 2022, que deveria ter acontecido antes mesmo de 2023 chegar, no dia 30 de dezembro.

No final do mês passado, o Ministério Público da Paraíba abriu nova investigação para apurar irregularidades na Braiscompany. O promotor responsável pelas investigações, Sócratas Agra, disse que as investigações avançaram nos últimos dias com informações que elucidam a atividade da empresa e que reforçam a necessidade de judicialização.

“Esta semana, tivemos acesso a informações importantes e imprimimos um ritmo mais acelerado à apuração. Acreditamos que até a próxima semana, acionaremos à Justiça, na esfera cível. Até agora, tudo corrobora para a necessidade da deflagração de uma ação civil pública, a fim de resguardar os direitos dos consumidores e reparar os danos causados à coletividade”, diz Sócrates.

Operação da Polícia Federal

Deflagrada nesta quinta-feira (16), a operação Halving da Polícia Federal combate crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais, em tese cometidos por sócios da Braiscompany.

Segundo a PF, nos últimos quatro anos foram movimentados valores equivalentes a aproximadamente R$ 1,5 bilhão em criptoativos, em contas vinculadas aos suspeitos.

Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão nos municípios de João Pessoa, Campina Grande e São Paulo/SP, inclusive na casa de Antônio Neto, dono da empresa.

Operação encontrou dinheiro escondido em livro (Foto: divulgação/PF)

MaisPB

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