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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

O café nosso  de cada dia      

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publicado em 02/11/2022 às 07h00
atualizado em 01/11/2022 às 16h46

         Já em meado do século XIX o presidente da Província da Paraíba, Sá e Albuquerque (foto) falava da expansão do café pelo do Brejo, cultura que há décadas se adaptou ao clima e às sombras das serras, mesmo que as terras férteis da região proporcionassem bom cultivo de cana-de-açúcar.

          Pela hegemonia econômica no Brejo, havia uma boa disputa por maior posição na produção entre o café e a cana, visto que a região nunca foi adaptável à pecuária.

         Para ficar somente com Serraria, meu patrimônio de orgulho e admiração, porque em suas terras haviam muitos plantadores e densos cafezais, ainda em meu tempo de criança dava gosta olhar as plantações, mesmo que pequenas, com grãos amadurecidos.

         Em 3 de maio de 1852, o presidente Sá e Albuquerque, em mensagem à Assembleia Legislativa, afirmava ser o café arábica cultivado com excelente qualidade na vila de Bananeiras e outras localidades. Acreditava que logo a cana seria substituída pelo café porque seu cultivo exigia menor participação de trabalhadores e “com a extinção do tráfego (escravos) que tem de tornar ainda mais raros os braços no campo”, além do mais, o mercado para o açúcar estava reduzido.

Cultivados junto com a pimenta do reino, os cafezais sadios e viçosos afortunaram famílias durante décadas no começo do século XX, mas, em anos seguintes depois de 1930, a praga causou a devastação de 600 mil pés de cafeeiros nos municípios de Serraria, Bananeiras, Areia e Alagoa Nova. Então, começa o declínio da produção devido aos cerococus que se alastraram pela plantação, mas por volta de 1950 e anos consecutivos, percebíamos restos de plantios enfezados em áreas de algumas fazendas ou sítios.

Em 1922, Serraria teve a terceira maior produção de café na Paraíba, com 540 mil quilos do produto comercializados.  Agora, com acompanhamento da Universidade, surge a retomada do cultivo.

         Na propriedade rural do coronel João Mendes, o café foi sua principal atividade. Uma atividade seguida pelos filhos à medida em que ganhavam uma nesga de terra como dote paterno.

         Assim foi com Misael Mendes, herdeiro do gosto do pai Joca Mendes pela política e pelo café que cultivava em grande escala. Nos hectares de terra que recebeu no sítio Tapuio, trabalhou com essa cultura durante toda a vida e ampliou essa atividade ao tempo que a sua reserva monetária crescia. Fez fortuna, se tornou um barão do café mesmo sem as insígnias comuns aos “barões” no centro-oeste do País. Teve poder aquisitivo para colocar os filhos em colégio, notadamente Bananeiras, ou na Capital, onde somente os abastados tinham essa possibilidade, a exemplo das famílias Bezerra, Lucena, Ramalho, Rocha, Duarte, Carvalho.

Mamãe torrava grãos em caco de barro, esperava esfriar, pilava com mãos ágeis, e preparava “café donzelo” para a degustação, que até nós, crianças, tomávamos.

Sempre estimulei a plantação de café entre os conterrâneos que detinham terras, pois as que possuíamos fugiram de minhas mãos.

         Bem recente, entusiasmado, o empreendedor rural Geraldo Espínola, dono do Engenho Baixa-Verde, manifestava o desejo de retornar o cultivo de café, uma atividade que dividia a hegemonia com a cana-de-açúcar no município, em cuja fazenda nasceu o professor Hermano José. Sobre este pintor, os cem anos do seu nascimento foram comemorados timidamente.

Mesmo que seja atrativo para o turista, Geraldinho usará o cultivo de café para mostrar como os antepassados de Serraria fizeram fortuna ao utilizar as potencialidades das terras férteis, como se deu com os seus familiares e com meu bisavô João Mendes.

Como parte de um projeto de incentivo ao turismo, no Engenho Baixa- Verde começou a brotar, gradativamente, a retomada do cultivo do café que vem se juntar a outras etapas econômicas que compuseram a história do engenho e seus arredores, já consolidadas.

Geraldo conta que, quando abriu trilhas turísticas nas reservas de matas, encontrou pés de cafés remanescentes de 100 anos atrás. Após análise, descobriu se tratar de café arábica, uma variedade típica e bastante cultivada na região. No decorrer dos anos, o semeio feito pelos pássaros subiu da planície para o alta das serras e agora ele pretende fazer o caminho de volta, com o replantio na parte de baixo das terras, junto à casa-grande.

Não será apenas para turista ver, mas certamente motivará outros produtores a fazer o mesmo, de modo a encher os terraços das antigas casas de fazendas utilizados para a secagem de grãos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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