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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

A crise energética e a recessão econômica ameaçam o Velho Mundo

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publicado em 18/10/2022 às 07h58

A humanidade atingirá oito bilhões de habitantes em 15 de novembro de 2022 e os cenários econômicos e energéticos mais preocupantes na economia global, são: i) a recessão técnica nos Estados Unidos, a maior economia do mundo; ii) a desaceleração econômica na China, a 2ª maior economia do planeta; e iii) a crise energética na Europa.

Provavelmente, a Rússia, a Alemanha e a Itália serão os países europeus mais afetados com o início da recessão econômica em 2023, segundo as recentes projeções econômicas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Daí a importância de estudar com afinco o continente europeu na atualidade e, provavelmente, a recessão global começará na Europa, pois é considerado o continente que mais afeta aos outros, seja positivamente ou negativamente.

A Europa é o segundo menor continente do planeta, com 10.377.798 quilômetros quadrados (km2), segundo o Atlas National Geographic (2008). E a Europa é conhecida mundialmente como o Velho Mundo e tem uma população estimada em cerca de 750 milhões de habitantes e morando em 50 países. E o menor país do continente europeu e do mundo é o Vaticano e o maior país europeu e do planeta é a Rússia.

Os 50 países europeus são: Albânia, Alemanha, Andorra, Armênia, Áustria‎, Azerbaijão‎, Bélgica‎, Bielorrússia‎, Bósnia e Herzegovina‎, Bulgária‎, Cazaquistão‎, Chipre‎, Croácia‎, Dinamarca‎, Eslováquia‎, Eslovênia‎, Espanha‎, Estônia‎, Finlândia‎, França‎, Geórgia‎, Grécia‎, Hungria‎, Irlanda‎, Islândia‎, Itália‎, Letônia, Liechtenstein‎, Lituânia‎, Luxemburgo‎, Macedônia do Norte, Malta, Moldávia‎, Mônaco‎, Montenegro‎, Noruega‎, Países Baixos‎, Polônia‎, Portugal‎, Reino Unido‎, República Tcheca, Romênia, Rússia‎, San Marino‎, Sérvia‎, Suécia‎, Suíça‎, Turquia, Ucrânia e Vaticano‎ (TODA MATÉRIA, 2022).

A Europa pode ser dividida geograficamente em quatro regiões: a Europa Ocidental (11 países), Europa Meridional (10 países), Europa Centro-Oriental (21 países) e Europa Setentrional (8 países). Nos dias atuais, a Europa está passando por uma grave crise energética mesmo a economia europeia sendo bastante diversificada.

A crise energética piorou com a Guerra na Ucrânia, porque os preços do gás natural dispararam nos países europeus, gerando um risco maior de sobrevivência das famílias no rigoroso inverno do velho continente. É preciso enfatizar que a Rússia tem a segunda maior reserva mundial de gás natural e a Europa encontra-se no outono e, posteriormente, chegará o tenebroso inverno.

O gás natural é usado para o aquecimento de residências e a produção de bens por parte das empresas. Desde outubro de 2011 existe o gasoduto Nord Stream 1 (o Nord Stream 2 foi concluído em setembro de 2021 e continua parado), mas, desde 31 de agosto de 2022, o gás natural oriundo da estatal russa Gazprom está fora de serviço por tempo indeterminado, assim, fazendo o preço do gás subir 150% no acumulado do ano, e da conta de energia aumentar também, já que boa parte da energia elétrica é produzida por usinas termelétricas europeias a gás natural ou a carvão mineral.

A recessão econômica teve início com a pandemia da COVID-19 e ampliou bastante com a invasão da Ucrânia pela Rússia, visto que, foram impostas rapidamente as sanções econômicas e resultando no aumento dos custos de produção de petróleo e de gás natural. E vários países europeus são dependentes energicamente da Rússia, o que trouxe e trará grandes problemas econômicos, como alta inflação e elevado desemprego. A Alemanha, a nação mais rica da Europa e da União Europeia (UE) e a quarta maior economia do mundo, e o Reino Unido, a França e a Itália, que são países ricos e de alta renda, já arcam com a crise energética.

A Europa irá fazer escolhas difíceis, como por exemplos, o racionamento de gás natural e de energia elétrica, o maior uso de lenha, um teto de reajuste das contas de energia elétrica e gás ou congelar os preços para a população não sinta tanto o impacto da alta da inflação. Sim, a melhor escolha é diminuir significativamente os impostos que incidem sobre os alimentos, bebidas, combustíveis, gás natural e eletricidade, pois, as pessoas precisam aquecer suas casas, comer, beber e se locomover para o trabalho.

A crise energética e a recessão econômica ameaçam o Velho Mundo e afetam negativamente os outros quatro continentes. Por exemplo, a Bulgária é o país mais pobre dos 27 países membros da UE em Produto Interno Bruto (PIB) per capita, e localizado na Europa Centro-Oriental, e com o inverno rigoroso, a expectativa de uma retração e a alta dos preços dos alimentos, gás natural e energia elétrica, onde provavelmente, poderão surgir os blackouts programados para economizar energia.

Os Países Baixos são uma nação localizada na Europa Ocidental e com uma economia moderna e industrializada, centrada nos setores eletroeletrônico, petroquímico e de alimentos. E os Países Baixos são produtores de gás natural, uma commodity energética, e suas exportações estão afetando também os preços deste insumo energético fundamental para o Velho Mundo.

No ano de 2021, segundo o Banco Mundial, os dez países mais ricos da Europa, são eles: Alemanha (PIB de US$ 4,2 trilhões), Reino Unido (US$ 3,1 trilhões), França (US$ 2,9 trilhões), Itália (US$ 2,0 trilhões), Rússia (US$ 1,7 trilhão), Espanha (US$ 1,4 trilhão), Países Baixos (US$ 1,0 trilhão), Turquia (US$ 815,2 bilhões), Suíça (US$ 812,8 bilhões) e Polônia (US$ 674,0 bilhões). E as dez nações europeias mais pobres, são elas: San Marino (PIB de US$ 1,5 bilhão), Andorra (US$ 3,3 bilhões), Montenegro (US$ 5,8 bilhões), Liechtenstein (US$ 6,4 bilhões), Mônaco (US$ 6,8 bilhões), Moldávia (US$ 13,6 bilhões), Armênia (US$ 13,8 bilhões), Macedônia do Norte (US$ 13,9 bilhões), Malta (US$ 16,0 bilhões) e Albânia (US$ 18,0 bilhões), conforme os dados de 2021 do Banco Mundial.

Em relação aos dez países mais ricos da Europa pelo critério do PIB per capita, são eles: Luxemburgo (US$ 135.046), Irlanda (US$ 101.509), Noruega (US$ 99.481), Liechtenstein (US$ 98.432), Suíça (US$ 96.390), Islândia (US$ 74.415), Dinamarca (US$ 68.094), Suécia (US$ 57.978), Países Baixos (U$ 57.836) e Áustria (US$ 53.764). Já entre as dez nações mais pobres de renda per capita, são elas: Ucrânia (US$ 3.679), Moldávia (US$ 4.499), Armênia (US$ 4.623), Geórgia (US$ 4.769), Azerbaijão (US$ 4.794), Albânia (US$ 5.353), Bósnia e Herzegovina (US$ 6.073), Macedônia do Norte (US$ 6.093) e Bielorrússia (US$ 6.663). Mas, com a crise energética, várias empresas estão encerrando suas atividades econômicas, aumentando o desemprego e a pobreza.

Segundo os dados de 2021 da Eurostat, um em cada cinco moradores da UE vive em risco de pobreza, são 95,4 milhões de pessoas, o equivalente a 21,7% da população total da UE. E a maioria dos pobres são desempregados, mulheres e entre 18 e 24 anos. E a Romênia tem o pior risco de pobreza da UE, com 34,4% da população, enquanto, a República Tcheca tem o melhor risco de pobreza do bloco europeu, com 10,7% da população total.

A economia alemã poderá encolher 0,3% no ano de 2023, conforme o FMI, por causa dos graves problemas energéticos nas residências familiares, com uso limitado de aquecedores, e nas empresas, com uso limitado da energia elétrica. E a produção industrial caiu e o consumo das famílias foi reduzido drasticamente com os elevados custos energéticos.

A Itália encolherá 0,2% em 2023, de acordo com o FMI. Todavia, é preciso revelar que se trata de algo ainda incerto, sujeito às mudanças, já que o governo italiano previa um crescimento do PIB entre 0,5% e 0,7%. E o governo italiano está tentando amenizar os severos impactos do alto preço nas contas de energia elétrica e gás natural sobre as famílias, com redução do tempo e da temperatura do aquecimento nos lares italianos.

No Reino Unido já é possível visualizar o maior uso de velas nas residências e nos pubs britânicos, após a conta de energia elétrica subir quase 120% em agosto deste ano. Cerca de um em sete britânicos já está com suas contas atrasadas de energia e muitos já queimaram suas contas em protestos, em várias cidades como Londres, Manchester e Liverpool. E a queda do poder aquisitivo é visível com a taxa de inflação em alta.

Os preços dos alimentos estão subindo também na Espanha e em Portugal, provocando o número maior de pessoas que vivem nas ruas ibéricas. A alta da inflação espanhola provoca o aumento do custo de vida das famílias de rendas baixas. E a inflação portuguesa subiu para 9,3% em setembro e os alimentos aumentaram em países da Europa Ocidental, pois estão mais sujeitos às importações agrícolas russas e ucranianas. No caso de Portugal, o gás natural vem da Nigéria e o aumento dos alimentos foi consequência do elevado consumo de energia na produção do alimento, por exemplo, o preço do pão aumentou em 18%.

A Rússia é o terceiro maior produtor e maior exportador mundial de trigo, todavia, sofrerá uma retração econômica de 2,3% em 2023, a mais alta prevista pelo FMI na Europa. Essa nova retração será resultado do impacto das sanções econômicas após a invasão da Ucrânia pelas tropas russas. Recentemente, quatro províncias ucranianas (Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk) foram anexadas a Federação Russa. Acrescenta-se também uma maior dependência econômica na exportação de commodities energéticas e agrícolas, na tecnologia estrangeira e na importação de peças de carro. E a economia russa vendo sofrendo sanções econômicas desde 2014, com anexação da Criméia, além da ausência de fornecedores de insumos e de investimento estrangeiro direto (IED), por causa da exclusão da Rússia do sistema SWIFT.

A Ucrânia é o segundo maior país da Europa e a guerra em território ucraniano desde 24 de fevereiro de 2022 já provocou milhares de perdas humanas e de feridos entre civis e militares e o deslocamento de milhões de pessoas refugiadas para os países vizinhos como Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia e Moldávia, além disso, o desemprego, a pobreza e a insegurança alimentar aumentaram drasticamente nas cidades ucranianas.

É visível nas TVs e nas mídias sociais que muitos europeus estão sem dinheiro para comprar bens de consumo duráveis (carro, moto ou máquina de lavar roupas) como também, bens de consumo não duráveis (alimentos e bebidas), por causa da elevada inflação e que tende a piorar com a chegada do rigoroso inverno (-20ºC). Infelizmente, muitos idosos e moradores de rua morrerão de hipotermia grave na Europa.

Conclui-se que a paz é a única saída entre a Ucrânia e a Rússia, porque sem ela, a guerra pode devastar não só o continente europeu como o mundo. Por isso, urgentemente, requer mudanças nas áreas energéticas e econômicas, com mais economia verde, com mais Indústria 4.0 por parte dos países europeus, pois a grande maioria depende energeticamente da Rússia, um dos maiores produtores e exportadores de petróleo e gás natural do planeta. Enfim, provavelmente, em 2023, a recessão econômica global começará em terras europeias e se estenderá pelo resto do mundo, caso não haja um acordo de paz entre os dois países envolvidos e vizinhos do Leste Europeu.

Referências

ATLAS NATIONAL GEOGRAPHIC. Europa I. São Paulo: Abril Coleções, 2008.

BANCO MUNDIAL. Gross Domestic Product 2021. Disponível em: https://databankfiles.worldbank.org/data/download/GDP.pdf. Acesso em: 16 Out. 2022.

EUROSTAT. Condições de vida na Europa – pobreza e exclusão social. Disponível em: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Living_conditions_in_Europe_-_poverty_and_social_exclusion. Acesso em: 17 Out. 2022.

FMI. World Economic Outlook, October 2022. Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2022/10/11/world-economic-outlook-october-2022. Acesso em: 14 Out. 2022.

TODA MATÉRIA. Países da Europa. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/paises-da-europa/. Acesso em: 15 Out. 2022.

Nota: Artigo elaborado pela estimada aluna Andréa Maria de Oliveira Cavalcanti, do curso de Administração, no UNIESP, diurno, em parceria com o economista Paulo Galvão Júnior, professor de Economia e Mercado, do curso de Administração, no UNIESP, localizado na cidade portuária de Cabedelo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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