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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Aqui ou ali é a mesma coisa

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publicado em 14/05/2022 às 08h28
atualizado em 14/05/2022 às 07h11

Eu ia escrever sobre os tronchos, os políticos, os pitacos e o eleitor iludido, mas preferi lavar a louça do almoço.

“Parece que estamos voltando no tempo”, disse um boçal na calçada do Palácio. Nessa hora caiu um raio.

Eu jurava que tinha encontrado Lupicínio Rodrigues na Praça Pessoa, teatro mambembe ao ar livre, onde a boa vizinhança não permite bafafá. Chamei pelo nome: Lupicínio, Lupicínio Rodrigues…

O diálogo ficou pela metade, mas podia ser de um bom imitador, que a vida não está para brincadeira. Fiquei na fronteira entre o sagrado e as balas de festim

Já estava esquecido do porteiro que, ao me ver entrar no prédio do Dr. Gutemberg tão cedo, às 6h30, disse numa voz arrastada, que naquela hora não tinha ninguém ali.  Senhor, não há nada, senão eu e você, você é eu. Ele olhou com cara de ontem e voltou a mexer no celular. Peguei o elevador e marquei o 13º.

O cara que me pareceu Lupicínio, estava de gravata borboleta vermelha, a cara mais humana do mundo. Aquilo desfez impaciências. Pensei em perguntar em quem ele vai votar nas eleições deste ano, mas voto é secreto, né?

Segui para o restaurante numa conversa bem incita com os convidados que não foram convidados, que foram ver como é que um político se comporta na fila de um self-service longe da urna.

Bem falante, a tresloucada europeia lá dos anos 90, do nada, me manda mensagens pelo zap num tom casual muito treinado, tentando uma intimidade que, conquistada, serviria de travão a perguntas mais incômodas. Palavras e dias contados para conseguir aliados? Tá punk, né?

Da cumeeira do casarão vi um aviãozinho de papel e um poeta atreveu-se a dizer que tinha medo.  Os convidados simpatizaram com meu look e fez-se humor sobre tudo. O político tentou apertar minha mão mas eu sai na carreira,  abraçado com José Carreras.

Ensaiei um bolero.

A moça do caixa do restaurante (dona Elizeth) abotoou meu casaco e pôs um sorriso em mim que durou  até as escadarias,  sem passar pelas maçadas da segurança geral. Procurei meu crachá e não achei.

Já estava no saguão com a quentinha na mão e o ronco da cuíca no estômago, quando o porteiro do prédio do dermatologist, aquele do início da conversa, me perguntou irado: “O senhor é psicólogo?”. Eu respondi: ainda não, sou o padre da Capela Pantanal. Cruz, credo.

Na calçada, vi que eu estava sozinho. Sempre assim.

PoisZé. Coloquei minha máscara e a vida no modo avião. #partiu.

Kapetadas

1 – O apocalipse começou quando o Homem pensou que pensava.

2 – O que somos, de onde viemos, e principalmente para onde vamos depois de outubro?

3 – Som na caixa: “Eu agradeço estas homenagens que vocês me fazem/Pelas bobagens e coisas bonitas que dizem que eu fiz”, Lupicínio Rodrigues

Foto – Correia Lima.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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