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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Eu não estou preparado

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publicado em 26/04/2022 às 07h00
atualizado em 25/04/2022 às 15h06
Alain Delon chega para o funeral de Jean-Paul Belmondo em Paris 10/09/2021 REUTERS/Gonzalo Fuentes

Cada vez mais pessoas defendem o direito à morte, tanto pela limitação do esforço terapêutico inútil, quanto através do chamado suicídio assistido, considerando pessoas em estado terminal, ou de mau prognóstico, e aquelas em estado vegetativo persistente. Para esses, é preciso reforçar a mudança de paradigma no que chamam de “paternalismo” da ética médica, que no seu propósito sem fim pela vida, feriria o direito à pessoa humana a sua proteção individual, proibindo-a de abdicar ao direito fundamental de viver e a aceitar uma morte digna.

Cada vez mais estaremos envolvidos. Astros e estrelas, e, logo logo pessoas mais próximas a nós, se mexerão nessa seara, e seremos arremessados na lavra que associa, a um só tempo, sofrimento, direitos, sentimentos, religião e crenças. Recentemente, o ator, símbolo de O Sol por Testemunha, Alain Delon, pediu ao seu filho para pavimentar o caminho de um suicídio assistido. No final de março, em seu perfil, apareceu um agradecimento a todos que o ajudaram na vida. Desde o nascimento até a estreia no cinema em um filme francês, Uma Tal Condessa, lançado no ano em que nasci, a vida do galã não foi tão fácil. Com um AVC sofrido, em 2019, achou que não lhe restava mais vida.

Na Suíça, Canadá, Alemanha, Colômbia o suicídio com acompanhamento médico é legalizado. Não é para qualquer um. Depende da idade, da gravidade, da constatação de que o paciente tem autonomia e consciência da decisão. Mais importante ainda: não o poderá fazer se estiver com depressão. Porque, nesse caso, o desejo de morte é inseparável, próprio da condição de paciente deprimido.

Nada acontece do dia para a noite. É um processo que guarda em si muita polêmica, muitas posições, que mexem com o desejo e autonomia da pessoa, dos familiares, com princípios éticos e religiosos de médicos e de países. Por mais que fujamos, esses temas se aproximarão de nós e precisamos nos preparar para debatê-los, compreendê-los, adotá-los ou rejeitá-los, mas, cientes de que, ao discutirmos sobre a morte, estamos em uma profunda reflexão sobre a vida.

Será assim com o suicídio assistido.  No caso de Alain Delon, ainda não confirmado, o filho mais novo, segundo insistem, entregará a substância para que ele pereça. É essa a missão de Alain-Fabian Delon. Eu não estou preparado.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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