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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Uma visão econômica do Brasil e do mundo na atualidade

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publicado em 02/03/2022 às 11h14

O presente artigo aborda uma visão econômica do Brasil e do mundo na atualidade. Em 24 de fevereiro de 2022 ocorreram a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a invasão militar da Federação Russa à República da Ucrânia, ambas ex-repúblicas da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

As informações sobre o mercado de trabalho brasileiro revelam que faltam oportunidades de trabalho formal para 28,3 milhões de trabalhadores subutilizados nas cinco regiões do Brasil, segundo os dados do quarto trimestre de 2021 da PNAD Contínua, do IBGE.

O contingente atual de subutilizados é preocupante e requer dos agentes econômicos atacar um dos maiores problemas do Brasil, o desemprego. Para o economista Paulo Sandroni (2014, p. 239), no Dicionário de economia do século XXI, o desemprego é a “Situação de ociosidade involuntária em que se encontram pessoas que compõem a força de trabalho de uma nação”.

Atualmente, no Brasil, a décima segunda maior economia do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1,3 trilhão em 2020, a taxa de desocupação é de 11,1% no trimestre móvel de outubro, novembro e dezembro de 2021 (IBGE). São 12,0 milhões de pessoas de 14 anos ou mais de idade sem trabalho formal e que aumentou em 5,9 milhões de pessoas desocupadas em relação ao quarto trimestre de 2013.

Os cinco estados com a maior taxa de desocupação no País são o Amapá (17,5%), Bahia (17,3%), Pernambuco (17,1%), Alagoas (14,5%) e Sergipe (14,5%). Enquanto, os cinco estados brasileiros com a menor taxa de desocupação são a Santa Catarina (4,3%), Mato Grosso (5,9%), Mato Grosso do Sul (6,4%), Rondônia (6,8%) e Paraná (7,0%).

De outubro a dezembro de 2021 o contingente de desalentados alcançou 4,8 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego por acreditar que não conseguiriam um trabalho formal e no ano passado foram constatadas 7,4 milhões de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas, além de 4,1 milhões de impedidos em todo o território brasileiro (IBGE).

É possível apontar as principais causas do atual quadro de trabalhadores subutilizados no Brasil como o baixo crescimento econômico; a falta de qualificação profissional; a substituição de mão de obra por máquinas, equipamentos e robôs; a baixa capacitação profissional; a redução de postos de trabalho na indústria; a baixa escolaridade; a redução dos investimentos privados; a corrupção dos investimentos públicos; a elevada carga tributária; e a pandemia da COVID-19.

A crise econômica no continental Brasil já provocou uma taxa de informalidade de 40,7% no quarto trimestre de 2021, uma taxa de câmbio de R$ 5,16 em 28 de fevereiro de 2022, uma taxa SELIC de 10,75% ao ano e uma taxa oficial de inflação de 10,38% no acumulado dos últimos 12 meses. Estamos muito preocupados com o aumento da inflação no Brasil medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE.

Agora as sérias preocupações com o conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia e suas consequências econômicas no Brasil e no mundo. Segundo os dados de 2020 do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Rússia é a 11ª maior economia do mundo, com um PIB de US$ 1,4 trilhão, enquanto a Ucrânia é a 55ª maior economia global, com PIB de US$ 155,3 bilhões. A Rússia é a 9ª nação mais populosa da Terra, com 144,5 milhões de habitantes, enquanto a Ucrânia é a 32ª nação, com 44,0 milhões de habitantes. E a Rússia é o país mais extenso do planeta, com 17,1 milhões de km², enquanto a Ucrânia é o 43° mais extenso, com 603.638 km².

São muito preocupantes os possíveis impactos econômicos no mundo e no Brasil com a invasão das tropas russas à vizinha Ucrânia. No sétimo dia consecutivo da guerra, é importante monitorar o comportamento dos preços das commodities, entre elas, o petróleo, o gás natural e o trigo. O preço do barril de petróleo do tipo Brent subiu de US$ 94,51 em 25 de fevereiro para US$ 106,73 em 01 de março, já os preços futuros do gás natural cresceram de US$ 4,48 por um milhão de unidades térmicas britânicas (MMBTU) para US$ 4,58 e do trigo aumentaram de US$ 848,00 por tonelada para US$ 984,12 (INVESTING.COM).

Vale ressaltar que a Rússia é o terceiro maior produtor mundial de trigo, com 87,4 milhões de toneladas de grãos e desde 2014, a maior exportadora global do cereal. A Ucrânia é a sétima maior produtora global de trigo, com 33,0 milhões de toneladas de grãos, além do quarto maior exportador mundial de trigo. Juntas, a Rússia e a Ucrânia produzem 14% do trigo global e fornecem 29% das exportações mundiais de trigo (CANAL RURAL, 2022).

A Federação Russa é a 3ª maior produtora mundial de petróleo, com 10,6 milhões de barris por dia, a 8ª maior reserva de petróleo do mundo, com 80,0 milhões de barris, além da 2ª maior exportadora de petróleo. Enquanto, a Ucrânia é a 60ª maior produtora de petróleo. E a Rússia é hoje o 2° maior produtor global de gás natural, com 638 milhões de metros cúbicos, a maior reserva de gás do planeta, além de maior exportador mundial. A Federação Russa é a maior fornecedora de gás natural para a Europa e o país mais rico do Velho Continente e a quarta nação mais rica do mundo, com um PIB de US$ 3,7 trilhões, a Alemanha, “tem 49% de sua reserva de gás natural distribuída pela Rússia” (MONITOR DO MERCADO, 2022).

A preocupação do agronegócio é que 23% das importações brasileiras de adubos e fertilizantes vieram da Federação Russa em 2021. Recentemente, aumentaram os preços em dólares americanos da ureia (5,80%), do cloreto de potássio (1,10%) e do fosfato monoamônico (0,50%), conforme a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A previsão é a redução da área plantada e o aumento dos preços dos produtos agrícolas.

O aumento de refugiados ucranianos no continente europeu a cada dia é uma séria preocupação, mais de 600.000 pessoas já fugiram da Ucrânia para os países vizinhos como Polônia (mais de 371.000), Hungria (mais de 89.000), Moldávia (mais de 56.000), Eslováquia (mais de 46.000) e Romênia (mais de 38.000), segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Nós brasileiros podemos fornecer ajuda humanitária internacional as famílias ucranianas forçadas a fugirem de seus lares, com doações voluntárias mensais de R$ 48 até R$ 106 para o ACNUR, Prêmio Nobel da Paz de 1954 e 1981, pelo site https://doar.acnur.org/acnur/ucrania.html, que fornecerá aos refugiados galões de água limpa, cobertores de lã para sobreviver ao frio e até apoio jurídico.

É hora de revisar sua carteira de investimentos no Brasil e no mundo, pois a Bolsa de Valores de Moscou já perdeu mais de US$ 250 bilhões de valor de mercado desde 24 de fevereiro e continuará fechada para evitar a fuga de investidores internacionais. E o rublo já se desvalorizou em 30%, 101,04 rublos por um dólar americano. As sanções econômicas dos EUA, da União Europeia e do Canadá, e posteriormente, da Suíça e do Japão, mudaram os rumos econômicos da Rússia, porque os bancos russos já estão fora do SWIFT, “Iniciais da expressão em inglês Society for Worldwide Interbank Financial Telecomunications, que é um sistema de transações interbancárias por meio de sistema telefônico (SANDRONI, 2014, p. 825). A economia russa terá sérias dificuldades nas transações interbancárias, nas exportações de petróleo, gás natural, fertilizantes, trigo, milho, alumínio, minério de ferro, paládio, níquel, vodca, entre outros bens e nas importações de soja, café, açúcar, carne bovina, carne de frango, máquinas, entre outros produtos, afetando as economias mundial e brasileira.

O Banco Central da Rússia decidiu elevar a taxa básica de juros de 9,5% para 20% ao ano e as reservas internacionais russas são de US$ 643,2 bilhões e é a quarta maior do planeta. Com as severas sanções econômicas, a Rússia aumentará cada vez mais sua aliança com a vizinha China, dona das maiores reservas cambiais do planeta, com US$ 3,3 trilhões em 2022, além do maior exército do mundo, com 2 milhões de soldados ativos. Provavelmente, os bancos russos migraram para o sistema chinês de pagamentos interbancários denominado Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços (CIPS, sigla em inglês).

A Rússia possui o maior arsenal atômico do mundo, com 6.255 ogivas nucleares, e o presidente Vladimir Putin colocou as forças nucleares russas em alerta máximo. Em pleno inverno, muitos russos e mais jovens e corajosos estão nas ruas de Moscou e de São Petersburgo protestando contra a guerra no território ucraniano que já matou mais de 530 civis e deixou mais de 2.000 pessoas feridas: “NÃO À GUERRA!”. Mais de 6.000 pessoas que não compactuam com a estúpida guerra já foram presas pela polícia russa.

Voltando ao emergente Brasil, que na média anual, em 2021, totalizou 13,9 milhões de pessoas que estão sem emprego formal, mas dispostos a assumir imediatamente um trabalho em sua cidade para ganhar um salário mínimo no setor privado. O salário mínimo necessário deveria ser de R$ 5.997,14 em janeiro de 2022, ou seja, 4,95 vezes maior do que o salário mínimo de R$ 1.210,00, conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Em janeiro de 2022, a cesta básica mais cara das 17 capitais do Brasil foi de São Paulo (R$ 713,86) e a mais barata de Aracaju (R$ 507,82), de acordo com o DIEESE.

Conclui-se que a inflação subirá no Brasil, na Rússia, nos EUA e no mundo e o rumo para a economia brasileira crescer é fundamental uma política de reconstrução econômica do País, baseada na economia verde, com maior produção de energias renováveis, carros elétricos, ônibus elétricos, motos elétricas, além de novas oportunidades de negócios na Amazônia Verde e na Amazônia Azul de forma sustentável para gerar empregos verdes. Enfim, é necessário monitorar os desdobramentos econômicos globais da guerra na Europa Oriental e, sobretudo, se posicionar a favor da paz mundial: PEACE! МИР!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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