João Pessoa, 24 de julho de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Policiais que atuam na UPP da Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, reclamam que o armamento disponível na unidade é precário. Os agentes dizem que, em quatro meses de serviço, ainda não receberam a Bolsa Pacificação, a que teriam direito, nem contam com passagem de ônibus.
— Ouvimos pela frequência de rádio comunicações dos bandidos, que planejam atacar novamente. Sabemos que eles tem armas pesadas — contou um policial que preferiu não se identificar.
Após confrontos entre policiais e bandidos que resulturam na morte da policial Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos, na noite desta segunda-feira, o clima na comunidade de Nova Brasília é de medo e insegurança. Os moradores preferem não falar sobre o assunto e dizem apenas que estão com medo. Homens do Batalhão de Choque e de Operações Especiais reforçam o policiamento na comunidade na manhã desta terça-feira.
O comandante-geral da Polícia Pacificadora, coronel Rogério Seabra, disse que o trabalho da polícia neste momento é identificar os bandidos que participaram do confronto, prendê-los e apreender suas armas. A Polícia Militar busca informações que possam levar à localização e prisão dos criminosos responsáveis pela morte da soldado. A Secretaria de Segurança pede a colaboração dos moradores do Complexo do Alemão, da Penha e do Morro do Adeus/Baiana para que entrem em contato pelo Disque-Denúncia (2253-1177) e do 190. Segundo o coronel, a ação que resultou na morte da soldado da PM é preocupante. — A sociedade se preocupa muito com isso e nós também. Mas a ação da Polícia Pacificadora continua e é irreversível — alertou.
Colete usado em UPPs não protege de tiro de fuzil, diz coronel
Seabra ainda rebateu as críticas dos policiais da unidade Nova Brasília, que afirmaram não contar com equipamentos adequados para enfrentar confrontos como o desta segunda-feira.
— O colete usado por Fabiana e por todos os policiais das UPPs é o adequado para esse tipo de policiamento. Coletes capazes de segurar balas de fuzil são para uso apenas de forças táticas da polícia. A atividade da Polícia Pacificadora é muito mais ampla do que reagir a tiros de fuzil — destacou o coronel.
Fabiana foi atingida por um tiro de fuzil na Rua da Assembleia, quando saía do container onde funcionava a UPP antes da inauguração da sede. Segundo o tenente Henrique Silva, ela estava vestida com um colete de nível sete, incapaz de deter um tiro de fuzil. Durante o confronto, os bandidos fecharam todos acessos à comunidade Nova Brasília para impedir a chegada de reforços da polícia. O comércio, que costuma fechar às 1h, baixou as portas por volta das 21h.
Sobre as condições físicas das sedes da UPP, cujas paredes são feitas de isopor e aço, Seabra afirmou que elas são adequadas para os propósitos da Polícia Pacificadora.
Os policiais da UPP lembram de Fabiana como uma pessoa tranquila, que se dava bem com moradores e colegas. Ela ingressou há um ano e quatro meses na PM. O trabalho na UPP da Nova Brasília foi o primeiro da policial, que morava no interior do estado, era solteira e não tinha filhos.
Em nota, a Secretaria de Segurança lamentou a morte de Fabiana, morta com um tiro de fuzil. No entanto, garantiu que o processo de pacificação seguirá o curso previsto na região, com a inauguração em breve de mais duas UPPs no Complexo da Penha: no Parque Proletário e na Vila Cruzeiro.
Primeira morte de uma policial em favela com UPP
Bandidos alvejaram sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Nova Brasília, no Complexo do Alemão. A soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos, que estava no segundo andar da sede da unidade, foi atingida e morreu. É a primeira morte de policial numa favela pacificada. Segundo policiais, bandidos metralharam a base da UPP. Fabiana estaria pedindo ajuda pelo rádio quando foi baleada no peito. O tiro de fuzil teria perfurado o colete à prova de balas que ela usava. A policial chegou a ser levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Estrada do Itararé, mas não resistiu aos ferimentos. A morte de Fabiana seria a primeira de uma policial durante um confronto.
UPP da Fazendinha foi alvo de criminosos na semana passada
Não é a primeira vez que bases da polícia no Alemão são alvos de tiros. Há uma semana, policiais da unidade da Fazendinha, também no complexo, foram atacados duas vezes por bandidos num período de 24 horas. Segundo a PM, os ataques aconteceram quando agentes faziam patrulhamento de rotina na comunidade. Em um dos confrontos, os criminosos chegaram a jogar uma granada contra os policiais. O artefato explodiu perto da viatura, mas não houve feridos. Na fuga, os suspeitos deixaram para trás quatro granadas caseiras e drogas.
Em 17 de junho passado, bandidos já haviam atirado contra policiais da UPP da Nova Brasília. Segundo contou na ocasião o comandante da unidade, Marcio Rodrigues, os PMs estavam na laje de uma casa na Rua Nova, checando denúncia sobre drogas, quando ouviram os disparos. Ninguém chegou a ser atingido pelos tiros. Os policiais encontraram cápsulas deflagradas no entorno da casa, onde foram encontradas drogas e dois radiotransmissores. Na época, o conflito foi relatado por moradores no Twitter.
Ainda em junho, uma equipe da UPP da Fazendinha foi alvo de disparos. De acordo com a Polícia Militar, bandidos atiraram contra um veículo da corporação, mas nenhum policial se feriu. Os agentes fizeram buscas pela comunidade para encontrar os suspeitos, mas ninguém foi localizado. A Fazendinha foi uma das primeiras regiões do Complexo do Alemão a receber uma UPP, em abril.
O Alemão está ocupado desde novembro de 2010. O Exército controlou as favelas do complexo por 19 meses até a PM assumir toda a região no início deste mês. A UPP da Nova Brasília foi inaugurada em 18 de abril, mas o edifício-sede da unidade só começou a funcionar no último dia 9. Em todo o complexo, já estão operando seis unidades. Duas outras — Vila Cruzeiro e Parque Proletário, na Penha — devem ser inauguradas nas próximas semanas. Em toda a cidade, já há 25 UPPs.
O Globo
INVESTIGAÇÃO - 21/08/2025