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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Nara, joelhos e Bossa Nova

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publicado em 13/01/2022 às 06h47

Na final da década de cinquenta uma rapaziada influenciada pela nova batida de violão do baiano João Gilberto, começou a compor num estilo novo cantando uma música bonita quase sussurrando. Nessa turma teve uma musa que melhor interpretou essas canções. Jeitinho angelical de boa moça, afável no falar e dona de uma voz sublime no cantar.

A musa da bossa nova também encantava a todos com seu belo par de joelhos. Diziam que eram os mais lindos do Brasil. Até então se tinha visto elogios a várias outras partes do corpo feminino, menos aos joelhos que só eram comparados com os de sua irmã Danuza.

Para os que não a conheceram estou falando de Nara Leão, nascida em Vitória (ES) no ano de 1942 e falecida aos 47 anos na cidade do Rio de Janeiro, em 1989, deixando importante discografia que enriquece a música popular brasileira. Foi na sala de seu apartamento em Copacabana que muitos dos sucessos da bossa nova foram cantados pela primeira vez. Ali tinha sempre “um cantinho e um violão” para fazer feliz aos frequentadores privilegiados.

De todos os importantes compositores daquela época ela interpretou, com estilo intimista, suas canções. De João do Vale a Chico Buarque, inclusive Roberto Carlos de quem gravou um disco só com suas músicas (Edu Lobo não gostou desse disco). Aliás, por falar no “rei” Roberto, depois da morte de Nara ele não permitiu que a gravadora relançasse em CD esse LP, somente porque tinha a endiabrada “Quero que vá tudo por inferno”. Essa birra passou e o disco foi relançado em CD, também com versão em espanhol. Atualmente quase toda a discografia de Nara está disponível nas plataformas de streaming

A novidade é que se você pretende conhecer a vida e a obra dessa cantora excelente pode recorrer a Globoplay que lançou uma série com cinco episódios intitulada O Canto Livre de Nara Leão ou ler  as duas biografias escritas sobre sua trajetória: Nara Leão, uma biografia, de Sérgio Cabral (Lumiar Editora, 2ªed. 2001) e Ninguém pode com Nara Leão, de Tom Cardoso (Editora Planeta, 2021).

Nara foi grande tanto quanto Elis Regina (com quem teve um desentendimento por conta da indigesta passeata contra a guitarra elétrica, que teve a participação de vários artistas, menos Nara e Caetano). Elis, com seu vozeirão, dizia – injustamente – que Nara sabia falar bem, mas cantava mal.

Devido a uma declaração polêmica sobre o exército à época do regime militar, Nara foi ameaçada de ser presa e o poeta Drummond saiu em sua defesa com um poema publicado no Jornal do Brasil, que dentre outros versos, tinha este: “Será que ela tem na fala,/ mais do que charme, canhão?/ Ou pensam que pelo nome,/ em vez de Nara, é leão?”. Precavida, Nara foi para Paris com seu então marido Cacá Dieguis e nunca foi presa.

Com sua voz mansinha, macia e bela (além de belos joelhos), Nara foi, não somente musa, mas a própria música da bossa nova e intérprete fiel de outros estilos da música brasileira.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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