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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Hei de vencer!

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publicado em 07/01/2022 às 07h28

Sou da zona rural de uma cidadezinha do alto sertão da Paraíba. Nascer ali, nos anos sessenta, como já disse no livro “Os longos olhos da espera (Amazon)”, era estar sujeito às lambidas da morte diariamente. Eu perdi três irmãs e um irmãozinho ainda pequeninos.

Minha casa ficava ao pé da Serra do Desterro, de onde descia um córrego que se tornou meu amigo, a única “pessoa” com quem eu dividia confidências.

Eu passava o dia perscrutando seus mistérios, interagindo com as suas luas cheias, testemunhando as suas agruras, riacho filho da estiagem, carrapateiras floridas, mussambê, canafístulas, flores azulzinhas, o coaxar dos sapos, uma solidão comungada somente por nós dois. Na seca, areia seca e tísica, quase todos os anos. Nas cheias, piabas saltitantes por todos os lados.

Mas, os amores têm seus momentos de partida. O riacho Pé de Serra começou a sofrer no dia em que um sobrinho de papai apareceu lá em casa.

Papai ficava sentado na rede, com um pé encolhido e o outro solto, tocando no chão, para produzir o balanço. Eu, um garotinho de seis anos, dentro da rede dele. Em uma cadeira de balanço, vestido com uma farda branca, Tiquinho de Zé Leite.

Era um rapaz elegante, conversador e contava as suas experiências nas Forças Armadas, em Fortaleza. Sempre trazia revistas e as deixava lá em casa.

Analfabeto, papai adorava ver as imagens. E, quando ele ia embora, eu folheava as revistas, inventava histórias e desejava a volta dele com outras novidades. Aos dez anos, aprendi as primeiras letras, e um naipe de alegria se abriu para mim.

Foi pelas revistas velhas que me apaixonei pelas letras, pelos livros, pelas histórias. Um sonho nasceu. Por ele, enfrentei adversidades. Minhas irmãs pararam os estudos no grau em que mal soletravam as sílabas. Eu deixei as frentes de trabalho, atirei-me no mundo com os olhos crescidos de desejo. O tempo passou, florações perdidas, lágrimas derramadas, mas eu era o dono da esperança. Eu escrevia nos cadernos da vida: hei de vencer!

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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