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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Um dançarino a vagar

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publicado em 28/12/2021 às 08h04

Se não estás com tempo, pode ir se entreter com outra cena.

Agora não deixe que retirem o prato sem o ter limpado. Pode até cuspir, mas não é recomendado.

Não sou eu, mas qualquer dor levada para o esquecimento. Felizmente ou infelizmente, é assim mesmo.

Mas primeiro deixem que eu conte uma coisa. Uma de cada vez.

Se me tomasse por orientador de alguma desordem para lá das metáforas que vou arrancando como escalpes, o que ainda me anima são as amabilidades tão harmoniosamente servidas. Chega de ilusão, mas olhe para cima.

Meu pai sempre falava em virtudes, que segundo ele, era o sol de cada um.  Eu nunca entendi ou só percebi quando olhei para trás e vi a terra ardendo, qual fogueira de São João. Aliás, sem samba não dá.

Manhãs demoradas.

Na luz azul do mar, como um trunfo hasteado junto a bandeira do Brasil, de outro modo, a madrugada se alimenta de velhos trôpegos sonhos. Eu já nem sonho mais, sabia?

Vejo um vazio admirável nas roupas estendidas no varal e não estou desolado na graça ou desgraça inerte das coisas, sequer a minha sombra. O que passou, passou.

Outro dia vi um dançarino na praia em pleno ócio, no indizível momento do vento na minha cara. Estava ali sozinho, sem os poderes dos outros.

Bem vistas as coisas sagradas, que se tem hoje, não se tem amanhã, quase uma flecha no olho nas inúmeras cagadas que muitos fazem e não assumem. Nunca vi tanto horror. Olhe para cima.

Que belo é o figurino da virtude, que tem até um quê de lirismo.

Tinta, carvão, velhas mazelas, marinheiros, senzalas, velas queimando num campanário a olha nu.

Tire o rei da barriga, enquanto é tempo. Ao que parece, o ócio dos desocupados deu lugar ao ódio de  uns e outros, bonitinhos ou inteligentinhos cabeças de papel.

Talvez urgências, salva-vidas, das tripas coração.

Minha memória precisa de um HD.

Tanta virtude pra nada.

Ora, se vim a saber da barreira, desde já me obriga a olhar para cima.

Razões para acreditar? Se o celular tocar e uma voz perguntar está podendo falar, responda  – podendo eu estou, mas estou sem assunto. Até lá.

Kapetadas

1 – Se nunca te roubaram uma ideia, você precisa ter ideias melhores.

2 – “Não olhe para cima”, ou Don’t Look Up de Adam McKay, ou nada do que você precisa saber antes de assistir ao novo filme e ver todo mundo comentando na web.

3- Som na caixa: “Há muitos planetas habitados, e o vazio da imensidão do céu”, de Caetano Veloso

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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