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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

A farmácia de João Bode

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publicado em 05/11/2021 às 07h23

 

Como quebrador de coco, não deu certo. O estabelecimento era tão pequeno que não tinha como me pagar um centavo sequer. O representante da coca cola também não me aceitou. Eu não teria força suficiente para conduzir os engradados das bebidas. A casa das tintas disse-me que as pessoas nascidas em Uiraúna só poderiam ser padres ou músicos e ela vendia tintas. Assim se deu comigo na minha chegada em Sousa em 1979.

Mas em 1981 consegui o primeiro emprego. A farmácia de João Fernandes (foto). Seu João era um farmacêutico prático conhecido na cidade e em seu entorno, sobretudo no bairro da Estação, onde se localizavam a farmácia, a maioria dos cabarés e a minha casa.

Seu João tinha o tino para diagnosticar as doenças dos pobres e a perspicácia da experiência para acertar na prescrição do remédio. Dizia: “tome três cachetes desses, que é tiro e queda”. E era. Seu João era feito de tempo e de simplicidade, conhecedor das mazelas dos seus clientes.

Era um homem rígido, afobado, ignorante até. Comigo, não. Trabalhei com ele por cinco anos, quando de lá saí para ingressar, por concurso público, no antigo INPS. Seu João sempre me tratou com profundo respeito e educação.

Empreguei-me na farmácia através do seu filho, meu professor de Química. Ele acabara de se formar e caiu-lhe à formatura reerguer a azienda que, como seu João, já dava sinais de evidente cansaço. Dr. Joãozinho foi novidade na cidade. Para as moças, para os clientes, para ele mesmo, um farmacêutico de verdade no bairro da Estação.

Poliplex, água rabelo, binotal, emulsão scott, cibalena, cibazol, cafespirina, benzetacil, calcigenol, vitamina B12, biotômico Fontoura, minancora, regulador Xavier, óleo de rícino, tudo isso, a especialidade de seu João, se manteve como a raiz que sustenta a copa nova da velha árvore, mas Dr. Joãozinho, o filho de Seu João,  fez a poda necessária, inovou procedimentos, abasteceu a farmácia com moderna farmacologia, buscou um design novo. Ali, na farmácia velha de Seu João, eu fui uma dessas novidades.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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