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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

A alta inadimplência e a falta de planejamento financeiro no Brasil

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publicado em 04/07/2021 às 07h53

Segundo o Dicionário Financeiro (2021), “A inadimplência acontece quando há o descumprimento de uma obrigação, geralmente financeira, como o não pagamento de bens ou serviços até sua data de vencimento, ou, do ponto de vista jurídico, é o incumprimento dos termos de um contrato (total ou parcial), feitos em acordo com outras partes”. Sabe-se que os consumidores por não cumprirem com suas obrigações, acabam tendo como consequência a restrição de acesso ao crédito, assim dificultando o consumo de bens e serviços, além de outros ativos financeiros.

No Brasil, o índice de inadimplência é calculado também pela SERASA. Conforme os dados do “Mapa da Inadimplência no Brasil”, da SERASA, no mês de maio, o contingente de pessoas inadimplentes alcançou 62,56 milhões no ano de 2021. Foi uma redução de 0,66% em relação ao mês de abril, com 62,98 milhões. Todavia, ocorreu um crescimento absoluto de 890 mil pessoas e um aumento relativo de 1,44% em relação ao início do ano, com 61,67 milhões em janeiro.

Vale ressaltar que a alta inadimplência é um grande problema, pois afeta diretamente a economia brasileira, principalmente em momento de crise econômica. Deve-se salientar que, com o efeito da pandemia da COVID-19, em relação ao isolamento social e a restrição de funcionamento de vários estabelecimentos comerciais, provocou o desemprego e a redução da renda. Com isso, os brasileiros estão endividados, passando a recorrer por modalidades de financiamentos com juros altos. Logo, o cenário foi se agravando e não conseguiram pagar suas despesas. Infelizmente, o valor médio de cada dívida é de R$ 1.162,43 (SERASA, 2021) e está mais alto do que o salário mínimo vigente no País.

Conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “a taxa de desemprego no Brasil é de 14,7% no trimestre encerrado em abril de 2021 e atingiu 14,8 milhões de brasileiros”. Ressalta-se que, grande parte dos desempregados são mulheres, resultando em um recorde de 17,9% no trimestre móvel de fevereiro à de abril de 2021 (IBGE). Com isso, podemos confirmar que o desemprego é a principal causa da inadimplência entre as mulheres brasileiras, principalmente no Nordeste.

Em decorrência disso, milhões de brasileiros têm sérias dificuldades em lidar com o planejamento financeiro. Pois, são várias as situações, entre elas, destacamos como comprar alimentos, roupas e remédios, pagar contas, poupar, investir, dentre outras atividades. Com isso, o não planejamento financeiro faz com as pessoas tenham um descontrole e não consigam cumprir com todas as suas obrigações.

Entre as principais causas da elevada inadimplência no Brasil em 2021, apontamos: i) o elevado desemprego; ii) a redução da renda; iii) o aumento da inflação; iv) a diminuição do valor pago no Auxílio Emergencial; v) as altas taxas de juros comerciais; vi) a falta de planejamento financeiro; vii) os gastos supérfluos; e viii) a falta de educação financeira.

Os três setores no País com mais consumidores inadimplentes são: i) Bancos e cartões de crédito (29,7%); ii) Utilities como água e luz (22,3%) e iii) Varejo (13,0%). Verifica-se que 50,1% dos inadimplentes no Brasil são do sexo feminino (SERASA, 2021). Como também, verificam-se vários fatores que podem explicar o elevado número de mulheres inadimplentes nas cinco regiões do País: i) o crescimento do número de mulheres que chefiam os lares; ii) a desigualdade salarial entre os homens no mercado de trabalho; iii) a ausência de educação financeira; iv) a publicidade abusiva; v) não viver dentro do seu padrão de renda; vi) não ter uma reserva financeira; e vii) entre outros.

De acordo com o relatório “Economia do Cuidado”, do Laboratório Think Olga (2021), “as mulheres brasileiras gastam em média mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados, como preparar alimentos, cuidar da limpeza, fazer pequenos reparos, fazer compras, organizar as contas, cuidar das crianças, entre outras atividades que dão suporte para que a economia continue girando”. Por outro lado, essa sobrecarga gera um grande impacto na vida das mulheres, ampliando a desigualdade de renda, precarizando as condições de vida, ocasionando estresse, depressão, impulsividade e outros problemas.

Contudo, é notório a existência da desigualdade salarial entre os gêneros, porém, percebe-se cada vez mais o destaque das mulheres no mercado de trabalho. E com esse destaque, a independência financeira tornou-se um dos maiores desejos da mulher e consequentemente, trouxe o poder na decisão do consumo, responsabilidades e tomada de decisões ao gerenciamento das contas, além de novos investimentos.

Pode-se afirmar que, a prática de um planejamento financeiro não é tão presente na rotina dos consumidores, fazendo com que ocorra o descontrole por falta de organização e metas, ou seja, não se tem um objetivo claro. Porém, não existe um modelo padrão para lidar com as finanças, depende de como os recursos escassos serão utilizados. Logo, o consumidor que planeja melhor suas finanças deve ter menores imprevistos para manter as contas em dia.

Vale ressaltar que o descontrole financeiro entre as mulheres está mais propício no período em que estão mais vulneráveis a sensibilidade, como TPM, ansiedade, ou seja, agem no impulso, sem analisar se realmente valerá a pena comprar naquele momento, assim perdendo o controle orçamentário, afetando as relações sociais, tudo isso para sustentar e manter um estilo de vida. Além disso, acabam também exagerando na compra de presentes, pois tendem a se sentirem culpadas por estar ausente da família, enquanto trabalham, assim gerando uma compensação material.

Dessa forma, é relevante referenciar o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2017), onde afirmou que: “O problema não é consumir; é o desejo insaciável de continuar consumindo”. O psicólogo americano Abraham Maslow, em sua teoria, complementa essa afirmação, em que existe uma hierarquia de necessidades, na qual determina as condições necessárias para que o ser humano atinja sua satisfação pessoal e profissional. É justamente isso que acontece, os consumidores nunca estão totalmente satisfeitos, pois, há todo momento estão sendo bombardeados de publicidades abusivas e acreditam que necessitam consumir exageradamente para satisfazer uma necessidade momentânea ou estar dentro da moda.

Fica claro, dessa forma, que para evitar as dívidas é fundamental ter um conhecimento básico sobre economia, contabilidade e educação financeira, passar a estabelecer quais são os seus objetivos, saber onde o dinheiro estar sendo gasto, ou melhor, priorizar o que realmente importa, isso já são pequenos passos para ter uma saúde financeira. Visto que a falta de saúde financeira gera graves problemas, sempre iniciado pelos gastos desnecessários, que poderão levar ao endividamento ou superendividamento.

Recentemente, foi promulgada no dia 02 de julho, a Lei 14.181/21, a Lei do Superendividamento, atualizando o Código de Defesa do Consumidor (CDC) para incluir regras de prevenção ao superendividamento, na qual inclui um leque de oportunidades para o credor resolver suas pendências, além de exigir mais transparência aos contratos de empréstimos.

Diante do exposto, conclui-se que o planejamento financeiro eficaz é de suma importância para não cair no endividamento, pois uma vida financeiramente saudável está mais ligada com o seu comportamento perante às finanças pessoais e familiares no Brasil. Por fim, é fundamental economizar, negociar sua dívida o mais rápido possível e proteger o seu dinheiro no cenário de inflação oficial acima da meta.

Nota O presente artigo foi escrito pela estudante Giovanna Maria Cândido de Lucena, do curso de graduação em Ciências Contábeis e ex-líder e campeã das Olimpíadas UNIESP de Economia pelo WhatsApp, em parceria com o economista, colunista do Portal MaisPB e professor de Economia nos cursos de Ciências Contábeis, Gestão Financeira, Administração e Gestão de RH no UNIESP, Paulo Galvão Júnior.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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