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A professora Erika Marques, Reitora do Centro Universitário Uniesp, é doutora em Psicologia Social - UFPB, Mestre em Desenvolvimento Humano - UFPB, tem MBA em Gestão Universitária pela Georgetown College e é especialista em Planejamento, Implementação e Gestão em Educação à Distância pela UFF. @profaerikamarques

Troca de mochilas: é sobre empatia que vamos falar

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publicado em 20/05/2021 às 07h29

Várias palavras nos últimos anos (principalmente com o advento da pandemia) foram popularizadas e usadas muito frequentemente, e a palavra empatia é uma delas. A empatia se reduziu a querer se colocar no lugar do outro para entender como ele se sente, e na realidade sabemos que essa prática é bem complexa. Segundo o filósofo australiano Roman Krznaric, empatia é sobre “achar a humanidade compartilhada”.
Na psicologia a empatia pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva — relacionada com a capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva — relacionada com a habilidade de experimentar reações emocionais do outro.
Cada pessoa tem um acumulado de experiência positivas e negativas que moldam as suas percepções, sensações, sentimentos e pensamentos, desse modo colocar-se no lugar do outro não pode ser algo simplista quando as suas “bagagens” são distintas.
Para o verdadeiro estado de empatia ser exercido, devemos colocar um pouco a nossa bagagem de lado, pegar a bagagem do outro com seu peso e suas características (significados e componentes emocionais) para tentar se aproximar do seu entendimento. Em linhas gerais, podemos dizer que a empatia caracteriza-se pela tomada de perspectiva, ausência de julgamento, reconhecimento da emoção do outro e capacidade de compreender de forma desprendida da sua visão especifica e limitada.
Fazendo uma analogia com a passagem bíblica do “Amar ao próximo como a ti mesmo”, podemos dizer que entender ao próximo como a ti mesmo, explicaria o processo de empatia. Porém exatamente da mesma forma que a primeira afirmativa, esse próximo não são as pessoas dentro do nosso núcleo: nossa família e nossos amigos. Ai é onde o bicho pega…
Ter empatia em formato de grandes ou distantes causas que não exijam um esforço ou atitude, é inócuo e vazio, não promove a empatia genuína. Não compreende a dor da criança que está com fome na sua esquina (e na qual poderia ajudar), para compartilhar e se solidarizar como bom samaritano com as crianças africanas sem dar ajuda alguma. É apoiar a causa de minorias e não se preocupar com as consequências das suas atitudes quando uma grande pandemia assola o mundo e você não só pode como deve fazer a sua parte. Compartilhar frases de empatia nas redes sociais e não exercitar “pequenas” empatias no seu dia-a-dia comprova que falta essa inteligência emocional para que o se colocar no lugar no outro. E sim, empatia tem tudo a ver com inteligência emocional, pois para se colocar no lugar do outro é preciso desprender-se momentaneamente do seu mundo, e isso não é fácil.
Por outro lado, no nosso cotidiano, tendemos a exercitar muito mais frequentemente o contrário da explicação técnica da empatia, que é tentar entender o comportamento do outro, sob a nossa ótica. Fazendo aqui o contraponto, percebemos que na maioria das vezes as interpretações serão equivocadas, pois cada pessoa tem seu mundo e as suas vivências. Para algumas pessoas, visualizar e responder uma mensagem posteriormente é normal (para mim, normalíssimo inclusive), mas para outras a interpretação pode ser de descaso ou algo similar. Já que a empatia é algo tão elaborado, que tal atacarmos a contra empatia, ou seja, essa mania de pensar (e responder) em seus pensamentos o que seria de domínio do outro?
Antes de falar pelo outro ou criticar, respire, deixe a sua mochila (com sua vida e bagagens aleatórias) de lado, se vista com a mochila do outro e agora sim, tente entende-lo. E se fosse com você?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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