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Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. E-mail: [email protected]

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publicado em 26/04/2021 às 07h05

As redes sociais proporcionam fácil acesso a informações que guardam coerência com o prévio histórico de buscas do usuário. É fácil constatar, outrossim, que essas plataformas proporcionam a formação e o crescimento exponencial de grupos de pessoas que compartilham ideais semelhantes.

Como resultado prático, as redes parecem reforçar as divergências políticas. As ideias, contudo, não circulam livremente nesses ambientes virtuais. Visões de mundo e posições que desafiem as concepções das big tech estão mais propensas a sofrer algum tipo de restrição, desde a “contextualização” do assunto tratado até o banimento permanente dos autores da postagem.

As mídias tradicionais, por seu turno, buscam se diferenciar das plataformas pela qualidade do jornalismo e por uma alegada neutralidade político-ideológica. Contudo, os grandes veículos, quando não ignoram ideias que divergem de sua linha editorial, abordam-nas apenas para expô-las ao ridículo e desabonar a reputação de seus difusores. Ao invés de um debate plural, ouso dizer, existe um consenso imposto mediante a amputação de perspectivas indesejadas.

Nos últimos doze meses, os campi universitários não foram palco da habitual discussão em torno de concepções políticas, econômicas, comportamentais etc. Este momento que antecede o tão esperado retorno às atividades da educação presencial nos dá a oportunidade de arquitetar a universidade da livre iniciativa como um ambiente em que a tolerância é verdadeiramente respeitada, em oposição ao que ocorre nas redes sociais e nas mídias tradicionais.

Nesse contexto, entendo que o gestor educacional não deve selecionar as ideias a serem discutidas no âmbito universitário. Tal tentativa de controle total sobre as questões discutidas dentro e fora de sala de aula seria extenuante e inócuo. Tampouco, creio que o gestor deva atuar como moderador na arena de discussões, posto que nem sempre os vários atores da comunidade acadêmica demandam que um representante institucional assuma tal função.

É fundamental, nesse momento, que a direção tome a iniciativa de reunir lideranças docentes, técnico-administrativas e estudantis a fim de entender as expectativas e posicionamentos em relação aos limites à liberdade de expressão no âmbito universitário. Nesse sentido, a Constituição Federal e a legislação ordinária, notadamente a lei que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, não são as únicas balizas, mas são importantes pontos de partida para a discussão. A liderança acadêmica deve, por fim, buscar pontos de convergência entre os segmentos da comunidade acadêmica, com vistas a criar um ambiente que acolha o debate.

Entendo que a universidade deve ser ambiente voltado à disseminação do conhecimento e à busca da verdade. Quanto mais aberta a universidade se mostra às opiniões – inclusive àquelas mais incômodas – mais chances ela vai ter de ser um ambiente verdadeiramente plural.

Em suma, as redes sociais e as mídias tradicionais não se mostram tolerantes a ideias divergentes daquelas que encorpam a sua linha editorial. Cabe às gestoras e aos gestores das instituições educacionais da livre iniciativa garantir que a sociedade tenha, nas universidades, esse espaço onde se experimenta o pluralismo em sua plenitude.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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