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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Heitor Cabral noutra seara

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publicado em 14/04/2021 às 08h04
atualizado em 14/04/2021 às 08h03

Vastas vezes, nos mais diferentes lugares, nas mais diversas circunstâncias e nos mais singulares abraços, eu estive com Heitor Cabral. Ele era um homem inevitável. Heitor morreu na terça-feira (13), desta semana (Covid)

A última vez que nos vimos, foi aqui em casa, no oitão, debaixo do pé de Oliveiras: ele feliz com as duas irmãs Berenice e Heidelice, esta, a mãe de Francis, com quem me casei. Heitor era mais velho que o tempo.

Em vida, Heitor despiu-se. Acho que trabalhou até alguns dias antes de morrer. Adorava o samba de Noel.

Na hora indicada, não sei se existe isso, acordei com a notícia de que ele tinha morrido. Logo vi a tristeza da vida sem Heitor, tínhamos a melhor vista das nossas conversas, melhor até que a vista para o mar, os ventos culturais mais favoráveis, a proposta sempre atualizada.

Uma certeza: não será necessário construir outro Heitor. Obviamente não substituiria. Quando eu digo construção, peço perdão, um homem não se constrói.

Heitor era aquele que acendia as luzes das árvores, resolvia os problemas dos outros.

Ultrapassava a serenidade, num momento breve que fosse, em que o olhar se reconheça, merecedor de palmas.

Heitor Cabral passou dos 80 e ia bem mais. Era magro, saudável, não comia porcarias, nem exibia fúria. Era politicamente incorreto, mas não propagava essa posição.

Um excelente economista, de outros valores, mas não via mais um caminho para salvar nosso país. Até eu sinto que já nem sei o que é o caminho, para onde quer que seja.
Mas creio que é por aqui, no silêncio das minhas tangentes, num interruptor que liga as luzes da casa, a luz do computador, numa sonifera ilha (sempre) no meio dos bons, num elefante imaginário que bate as orelhas no meio da rua, para espantar o vírus e sequelas.

Heitor não esperou.

Heitor não é mais desse mundo, onde todo mundo só pensa em vacina. Morreu depois de ter tomado a segunda dose. E nós, seus amigos e parentes ficamos sem nome para muitas coisas. Mas nomear é dar mais peso, né Heitor?

Eu vejo falhas em mim, tropeço noutro dia e tento me agarrar as lembranças – deixo passar, vai passando, vai sumindo, mas é tudo uma ilusão à toa.

Valeu, Heitor Cabral!

Kapetadas
1 – O escuro se agiganta. O ritual terminará.
2 – Cuidado, a resignação paralisa, impede qualquer movimento.
3 – Som na caixa “Sua bênção, Heitor dos Prazeres”, de Vinicius de Moraes

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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