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ANIVERSÁRIO

Cauby Peixoto 90 anos: a voz que rompeu gerações

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publicado em 10/02/2021 às 14h57
atualizado em 10/02/2021 às 12h01
Cauby Peixoto: versatilidade de Sinatra a Gardel

Kubitschek Pinheiro/Especial MaisPB

Muito conhecido pela música Conceição (Jair Amorim/Dunga), samba-canção que virou seu maior sucesso desde a década de 50, Cauby Peixoto foi muito além e deixou na história da música brasileira uma vasta obra que o representará sempre.

E mesmo em seus últimos anos de vida, nunca deixou de ser moderno e versátil, com o repertório que ia de Sinatra a Gardel. Se estivesse vivo, Cauby Peixoto completaria 90 anos hoje.

Confira texto da biografia da Enciclopédia Itau Cultural:

Cauby Peixoto (Niterói, Rio de Janeiro, 1931 – São Paulo, São Paulo, 2016). Cantor. Nasce numa família de músicos: seu pai é violonista, seu tio Nonô é pianista e seu primo Ciro Monteiro é cantor. Os irmãos também se dedicam à música: Araken (1930-2009) toca trompete, Moacyr (1920-2003) é pianista e Andyara canta. Na infância, participa do coro da igreja. Inicia a carreira em 1949, como calouro do programa Hora do Comerciário, da Rádio Tupi. Em 1951, grava seu primeiro disco, um 78 rpm, pelo selo Carnaval, com o samba Saia Branca, no lado A, e a marchinha Ai que Carestia, no lado B. No ano seguinte, muda-se para São Paulo e trabalha como crooner em boates. Ao lado dos irmãos forma o Quarteto G9 para apresentação na emissora PRG-9, no programa de Hebe Camargo (1929-2012), e na Rádio Nacional, em São Paulo.

Em 1954, grava a versão em português do fox Blue Gardenia, de Lester Lee (1904-1956) e Bob Russell (1914-1970), sucesso na voz de Nat King Cole (1919-1965). No mesmo ano, retorna ao Rio de Janeiro com um contrato com a Rádio Nacional e a Rádio Mayrink Veiga. Viaja aos Estados Unidos, onde grava com o pseudônimo de Ron Coby e se aproxima dos músicos Stan Kenton (1911-1979), Bing Crosby (1903-1977), Nat King Cole e Frank Sinatra (1915-1998). Retorna em 1956 ao Brasil e, além do trabalho na Rádio Nacional, grava discos pela Columbia com repertório de toadas, xotes, boleros e sambas-canção, dentre eles Conceição, de Jair Amorim (1915-1993) e Dunga (1907-1991), que se torna uma marca na carreira do cantor. É um dos primeiros primeiros a gravar rock’n’roll com letra em português, lançando Rock’n’roll em Copacabana (1957), composição de Miguel Gustavo (1922-1972). Posteriormente, dedica-se à um repertório dos anos 1930 e 1940, como Deusa da Minha Rua e Serenata, sucessos de Sílvio Caldas (1908-1998).

Nos anos 1960, grava canções do repertório bossa-novista como Samba do Avião, de Tom Jobim (1927-1994); Berimbau, de Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913-1980); Só Quis Você, de Roberto Menescal (1937) e Ronaldo Bôscoli (1928-1994); e Garota de Ipanema, de Vinicius e Tom. Em 1964, em parceria com seus irmãos, assume a direção da boate Drink, em Copacabana, um dos redutos da boemia carioca. Nos anos de 1980, lança Cauby! Cauby!, com faixa-título de Caetano Veloso (1942), composta para o próprio Cauby; Bastidores, de Chico Buarque (1944); Dona Culpa, de Jorge Benjor (1942); e Loucura, de Joanna e Sarah Benchimo (1950). Em 1982, lança com Ângela Maria (1929) o LP Ângela e Cauby. Dez anos depois, a dupla grava um disco ao vivo.

No ano 2000, é a vez do CD Meu Coração É um Pandeiro, em que interpreta sambas como: Eu Canto Samba, de Paulinho da Viola (1942); Quem Te Viu, Quem Te Vê, de Chico Buarque; e Acreditar, de D. Ivone Lara (1921). Em 2006, é homenageado com o espetáculo musical Cauby, escrito por Flávio Marinho (1958), com cenários de Daniela Thomas (1959), no qual é interpretado por Diogo Vilela (1957). Ainda nesse ano, lança o CD Cauby Canta Baden. Entre 2008 e 2012, boa parte de seu repertório é relançada em CD pelo selo Discobertas. E ainda em 2012, Cauby comemora dez anos de sua temporada de apresentações no bar Brahma, em São Paulo.

Análise da trajetória
Cauby Peixoto inicia sua carreira nos anos 1950, no auge do samba-canção e dos boleros no Brasil. Ainda jovem, integra o elenco das principais emissoras de rádio, como a Rádio Nacional, Mayrink Veiga e a Rádio Tupi, e se apresenta nas boates Oásis e Arpege, ambas em São Paulo. Busca se inspirar em artistas estrangeiros como de Nat King Cole, Frank Sinatra, Carlos Gardel (1890-1935) e Edith Piaf (1915-1963), cantando em outros idiomas e imitando seus gestuais no palco. Seu primeiro sucesso é uma versão em português de Blue Gardenia, que integra a trilha sonora do filme de mesmo nome, dirigido por Fritz Lang (1890-1976). Parte do repertório de Cauby na fase inicial da carreira é justamente composto de versões de sucessos de filmes norte-americanos, como Daqui para a Eternidade (1954), tema de A Um Passo da Eternidade, filme com o qual Frank Sinatra ganha um Oscar.

Torna-se um dos cantores mais populares do período, graças, em parte, à atuação do seu primeiro empresário, Edson Di Veras (1914-2005), que trabalha a imagem do cantor, se preocupando com o vestuário, com os gestos e também com sua relação com a mídia e os fãs. Para tanto, utiliza diversos artifícios, como lançar notícias de romances de Cauby na imprensa ou fotografá-lo ao lado de artistas importantes. Uma das tentativas de atingir o público jovem é a gravação de Rock’n’roll em Copacabana. Apesar disso, nos anos seguintes, Cauby Peixoto retorna ao repertório que o consagra: boleros, toadas, serestas e sambas-canção, de preferência nos gêneros romântico e dramático, como Conceição.

A partir de 1959, com a bossa nova, a jovem guarda e depois os festivais da canção, o estilo de voz e a interpretação de Cauby Peixoto saem de cena. Ao permanecer gravando canções de letras melodramáticas, com arranjos orquestrais, com muitos metais e violinos, Cauby acaba sendo associado, nesse período, à música cafona, mesmo tendo gravado um repertório de bossa nova, estilo considerado moderno na música popular brasileira.

A sua carreira volta a ter destaque após a gravação de um dueto com Elis Regina (1945-1982). Juntos cantam Bolero de Satã (1979), de Paulo César Pinheiro (1949) e Guinga (1950), com arranjos de César Camargo Mariano (1943) e com acompanhamento de um trio de jazz. No ano seguinte, com o lançamento do LP Cauby! Cauby!, firma definitivamente sua retomada. Renova o repertório, gravando canções de Tom Jobim, Chico Buarque, Jorge Benjor, Caetano Veloso, Roberto (1941) e Erasmo Carlos (1941), aliados a novos compositores como Joanna (1957) e Eduardo Dussek (1958). Ao lado das novas canções Cauby regrava, com arranjos mais modernos, Ronda, de Paulo Vanzolini (1924-2013), e Chão de Estrelas, de Sílvio Caldas. A partir desse disco, direciona seu repertório a músicas de jovens compositores, entre eles Gonzaguinha (1945-1991), de quem interpreta Estrela Solitária (1982), e Cazuza (1958-1990), cantando Codinome Beija-Flor (1992).

Quanto à sua técnica de canto, Cauby possui influência dos brasileiros Orlando Silva (1915-1978) e Sílvio Caldas, além de norte-americanos, como Nat King Cole, um de seus maiores ídolos. A maneira de cantar e a divisão de sua voz também recebe a influência do estilo de interpretação de Sinatra e Bing Crosby, com um canto mais natural e menos empostado do que a geração anterior a sua, como o próprio Orlando Silva e Francisco Alves (1898-1952). Mesmo cantando de forma mais natural, Cauby ainda utiliza um tom de voz grande e cheio de melismas, um enfeite utilizado para estender as sílabas de uma palavra em determinado trecho musical.

Ao contrário de Silva e Alves, que possuem voz de tenor, a voz de Cauby se assemelha mais a de Sinatra. Possui um timbre de voz de barítono de tom aveludado, com fluência tanto nos graves quanto nos agudos, com uma rara afinação que se adapta a diversos gêneros musicais, abrindo-lhe um campo de imensa versatilidade estilística. Com o passar dos anos sua voz se torna um pouco mais grave, porém preservada, pois a maior preocupação de Cauby é conservá-la, o que faz com que ele, mesmo após 60 anos de carreira, possa cantar por mais de duas horas com a mesma qualidade vocal e alcance do período das rádios.

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