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UM EDITORIAL DE DESPEDIDA

Kubitshek Pinheiro: ‘Nos vendavais de Martinho’

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publicado em 06/02/2021 às 15h48
atualizado em 07/02/2021 às 05h54

A pedido expresso da direção do Portal MaisPB, o jornalista Kubitschek Pinheiro escreveu crônica de despedida e pesar pela morte de Martinho Moreira Franco, um dos maiores de nossa imprensa paraibana.

Editor de Cultura e Opinião do MaisPB, Pinheiro é o decano e veterano entre nós, em que pese sua juventude espiritual e frescor fértil produtivo.

E as palavras de Kubi voaram como brisa leve, cândida, em contraposição ao travo deste sábado, acinzentado pela ausência de uma presença vigorosa, marcante nas páginas dos jornais e livros.

Elas representam o MaisPB nesse canto de homenagem às letras que ficam na produção e arte de Martinho Moreira, franco representante de nossa melhor imprensa.

Por Kubitschek Pinheiro

Nada de novo, só o mesmo espanto diante da morte de uma pessoa, a que somos expostas cada dia. O jornalista Martinho Moreira Franco foi embora neste sábado. Um dia lindo.

Às vezes é como um sobrevoo, que em grandes desenhos dá uma ideia do que acontece no mundo (será? sei lá), mas há dias em que meus olhos só encontram minúcias, detalhes, por qualquer lado: da tela aos livros, da cozinha às anotações que ficam em papeis por todo canto onde tenho espaço. E não são poucos. Minha mulher reclama.

Passei o dia pensando nele, em Martinho Moreira Franco e perto de morrer a tarde o jornalista Heron Cid me pede um texto. Vim para o computador escrever uma espécie de excessos amorosos que me toma a cabeça. Tudo gira e nada faz sentido. Estou cego de tanto ver a vida nos levar e levar os amigos.

Nestes tempos sem chão, no vão do meu olhar, corro para o jardim para fazer uma louvação por Martinho Moreira Franco. Sim, nesses dias de excessos aparecem folhas secas revoando no vendaval de Martinho, no seu novo pouso.

Sei que uma árvore, seja o pé de manga, o de caju ou carambolas, vão sempre se conectar comigo, com as folhas que se renovam ou várias árvores num mesmo chão a unir os fluidos, ao menos isso. Mas cadê o chão, os fluidos, a árvore? Martinho era uma árvore frondosa.

Tempos em tempos precisamos nos abraçar com nossos amigos, mas a pandemia não deixa.  Nunca mais tinha encontrado Martinho. Minha sogra perguntou por ele na manhã de quinta-feira (ela sempre leva o Jornal A União para ler e sentia a falta da coluna dele) “Ele casou com duas Goretes”, lembrou-me.

Martinho virou uma vegetação, essa que está na base das árvores a receber a luz do sol e crescer. O que parece morte é a vida a nos driblar. Valeu, Martinho, valeu pela sua prosperidade.

MaisPB

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