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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

A pororoca do grande encontro: que venha preguiçosamente!

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publicado em 11/12/2020 às 06h26

Quando se é jovem, há uma sensação de que o passar da vida no tempo é algo que vai progredindo, progredindo bem lentamente. Pode até ser, mas até certa altura da caminhada. Depois daquele momento em que se dobra o cabo das tormentas, o ledo engano é a constatação mais evidente.

Da ordem à desordem e desta à outra ordem, daí a nova desordem, tic-tac, tic-tac…(foto) Esse novelo que se desenrola fio a fio, e cada fibra decomposta vai se desdobrando em suas moléculas cada vez mais miudinhas, desparafusando-se, soltando-se, desmaterializando-se, até que tudo, ao cabo, volta ao nada, de onde também se veio — aquele pedaço de tempo-espaço onde ocorre o grande encontro, a pororoca do fim com o início, em uma grande festa de que somos o combustível, que se desfaz consumido ao léu. O drama!

Por isso, nem me importo com essa coisa de aniversário em anos. Prefiro completar segundos, pelo menos, assim, só me caem, à vista, átimos de tempo minúsculos, que percebo como segundos, oferecendo-me a sensação de que sou eterno no tempo, bilhões de segundos pelo tempo afora, miudinhos, repetidos, mastigados com deleite… e, na maioria das vezes, com agruras também, de que ninguém escapa.

Então, por que tudo é assim tão natural? Para que sofrer? Ide ao grande encontro com alegria, preguiçosamente… segundo por segundo, tic-tac, preguiçosamente… Assim, não há como pensar na morte, nem a ela temer. Melhor desejar feliz aniversário para si mesmo, não é, Chico Leite? Sim, garoto, ide ao tempo: sem pressa, remando, remando por dentro dos segundos do tempo.

Há muitos segundos para serem vividos e mortos. Remando, segundo por segundo, como bunda de vaga-lume, tic-tac, cada segundo caído, acendendo outro que se põe de pé, novelo de linha desfiado até o final dos tempos, quando o último átimo do tempo da vida se prostra preguiçoso para sempre.

Não é de todo mal. Quando isso ocorrer, há de se ganhar a liberdade. A perda da liberdade dará a irresponsabilidade. Que melhor sina há do que correr irresponsavelmente pelo nada, quando espaço e tempo não existem mais? Enquanto esse momento não chegar, por que não comemorar segundo por segundo?

Sim. Se hoje é recorrente fazer o mesniversário das crianças, por que nós, que já passamos por anos a fio, não fazemos nossos segundosários? Em cada segundo vivido, uma festa, aproveitando ao máximo, embriagando-nos em cada flor parida, em cada sorriso dado, em cada Sol aberto à vista, em cada banho de chuva, em cada abraço, em cada cheiro na netinha, em cada leitura de poesia, em cada corrida, em cada contemplação da imensidão do cosmos… Ah, como é bom viver!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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