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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Os nossos ontens

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publicado em 21/11/2020 às 08h35

Um dia atrás do outro. Uma noite no meio. Lembram? Então, um dia você perde a cabeça. Calma, é ruim perder a cabeça, amanhã você acha. Lembra quando você contou uma história a si mesmo? Sim, aquela história, que ficou só com você? Ela pode se arrastar a vida toda, mas só com você. Spoiler: às vezes, não é a história que é ruim. É que ela é sua.

Sabe aquela música que você costuma dizer, que é a cara de tal lugar, de tal pessoa? Música não tem cara. Primeiro, parece que algo poderia ter sido de um outro jeito, mesmo que contrariasse e, logo você chegaria com 4 pedras na mão. Talvez não exista nenhum outro jeito de esconder tal história. É confuso, né?

Pode ser um filho fora do casamento, pode ter sido uma decepção imensa, um amigo que lhe traiu, um crime que você viu ou pode ser apenas a história que você contou para si e não esqueceu de apagar.

O tempo virou e você ficou com aquela coisa na cabeça: não martela, mas não esquece. É ruim, né?
Por que estou escrevendo isso? Nada de fazer bullying com palavras. Jamais.

Essa semana contei a um amigo um fato que me aconteceu a semana passada – uma pessoa disse que eu só gosto de quem não gosta de mim. Assim, na bucha. Meu amigo disso que era melhor resolver: “ou somente a morte resolveria”. Isso dele dizer a morte, reafirmou em mim, o tal do “vivendo e aprendendo”, nunca com a morte.

Depois de horas, eu procurei resolver a história com a pessoa (que disse que eu só gostava de quem não gosta de mim), para não ter que esperar a morte resolver. Complicou. Não toquei no assunto, que já estava morto. Contar a história de nenhum outro jeito não é exatamente como é, não convence. Eu grito ébano.

Vamos imaginar que em plena pandemia, absurdos esbarram na gente, gritos quase declamados a escandir no eco. Você olha a pessoa, como se olhasse para um quadro negro, e pensa: bem, apenas não usam mais giz. Dá no mesmo. Desinteligência gera tudo, gera desídia escambau.

Essa é uma história contínua, de quem diz coisas precipitadas, há séculos a.C. É a história que não estou conseguindo contar a mim, nem a você. Matar quem estava me matando?. Por um tempo, a história segue repetida, quando vem à cabeça. Cuidado! Não perca a cabeça duas vezes na mesma semana. Você não tem como resolver.

Esqueça o penico. Não peça. Urine dentro do vazo.

Perdemos o ânimo, a vontade de continuar com a história como ela era, como ela foi, não é mais. Ficamos sem graça. Estava certo o poeta Mário Quintana (foto), ao fumar seu cigarro e afirmar que “a vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…Quando se vê, já é 6ª-feira…Quando se vê, passaram 60 anos!”

A história contada a você ou a mim, ela se torna uma pedra. Ou colocamos uma pedra em cima? Às vezes a história volta como uma explosão atômica e assusta. Por que somos tão frágeis? Tudo está aí, menos essa história que destruiu nossos ontens. Parece que foi ontem que uma doutora disse que sabia mais do que eu, na frente dos colegas.

Para ler Ulisses meu bem, é preciso paciência de Penélope.

Desculpem, hoje eu não consegui escrever. É outra história.

Kapetadas

1 – A minha ideia de declínio é o Brasil virar o Amapá em 2021.
2 – Já morri muitas vezes. Quando noto que ainda estou vivo, morro de novo e até morro de rir
3 – Som a caixa: “Seguirmos firmes na estrada/Que leva nenhuma dor”, Caetano Veloso

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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