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Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. E-mail: [email protected]

Universidade ágil

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publicado em 05/10/2020 às 17h37

Empresas como Amazon, Netflix, AirBnb, Spotify, Apple, entre outras menos festejadas, entenderam que a consecução de suas metas está intimamente ligada ao constante e célere aprimoramento da experiência de seus clientes. Também perceberam que sua longevidade está diretamente relacionada à capacidade de criação de novas linhas de negócios para atender a novos clientes.

Por conseguinte, tais corporações buscaram adaptar suas metas, seus processos e sua estrutura organizacional em torno dos indicadores de satisfação dos clientes atuais, sem olvidar a necessidade de desenvolvimento de novos produtos. Assim, a estrutura segmentada em departamentos verticalmente dispostos – concebida com o objetivo de criar produtos e fornecer serviços – foi gradualmente contestada e, ao cabo, substituída por equipes plurais, dotadas de maior autonomia orçamentária, com ampla liberdade decisória e responsáveis pela consecução de metas relacionadas a uma determinada jornada do usuário.

Tais equipes, também denominadas de squads (foto) elaboram uma declaração do cliente, que traduz o que ele espera da empresa, identificam experiências-chave cotidianamente executadas pelos usuários e trabalham para alcançar patamares cada vez mais altos de satisfação. Seus membros têm diferentes expertises, adequadas à consecução dos indicadores mapeados como relevantes para o cliente. A principal mudança não reside, entretanto, no desenho organizacional adotado, mas no foco no cliente e no uso de dados para ajustar o serviço à expectativa do usuário, da forma mais expedita possível.

No contexto da educação superior, a sociedade demanda que as Instituições de Educação Superior não-estatais se adaptem rapidamente às necessidades e tendências do mercado de trabalho, prestando serviços compatíveis com as mensalidades e com o tempo empregados na formação dos estudantes. Com efeito, muitos jovens já questionam a importância de ter uma formação superior.

No cotidiano da gestão, inclusive da gestão de Instituições de Educação Superior – IES, fica evidente que, quanto maior é a proximidade entre o consumidor e os colaboradores ou órgãos com poder deliberativo, maior é a capacidade de rápida adaptação e satisfação de suas legítimas demandas.

Todavia, algumas particularidades de natureza regulatória (para citar apenas essa dimensão) não favorecem a formatação de uma IES ágil. A legislação educacional sacralizou a separação entre a pessoa jurídica (mantenedora) que gere os recursos e garante as condições operacionais para o desenvolvimento da atividade educacional a ser desenvolvida pela IES (mantida). A lógica da separação entre atividades-meio e atividades-fim não incentiva, a nosso ver, a rápida adaptação das Instituições às demandas individuais (dos alunos, professores e funcionários) e sociais.

Quanto à organização institucional, o parecer do Conselho Nacional de Educação – CNE que traça regras sobre Estatutos e Regimentos Internos das Instituições de Educação Superior (Parecer nº 282/2002) impõe órgãos colegiados no nível da administração superior, com funções deliberativas e normativas. No nível da administração básica, o mesmo parecer determina a presença de um conselho acadêmico de caráter deliberativo, que deve disciplinar as relações entre alunos, professores e atuação dos funcionários. Entendemos que a atribuição de funções deliberativas a conselhos representativos, com viés classista, e o consequente distanciamento entre a operação cotidiana e o poder decisório não se compaginam com a necessidade de imprimir um caráter mais célere, objetivo e assertivo à gestão das IES´s.

Embora a legislação educacional que rege a estrutura organizacional das IES´s seja anacrônica e esteja em franco descompasso com as expectativas que a sociedade legitimamente nutre em relação às universidades, cumpre reconhecer que alguns grupos educacionais conseguem suplantar esse obstáculo regulatório e se adaptam rapidamente às constantes demandas. A barreira mais severa para a implantação de uma cultura ágil nas Faculdades, a bem da verdade, não reside na legislação, mas na cabeça dos atores da comunidade acadêmica (Die Mauer in unserem Kopf, diriam os alemães).

Em suma, faz-se conveniente uma revisão na legislação, a fim de dar mais liberdade para que centros universitários e universidades da Livre Iniciativa assumam estruturas organizacionais mais condizentes com o dinamismo da economia e mais adequadas à consecução de suas funções. Outrossim, é fundamental que o gestor educacional sempre questione a eficácia dos processos e órgãos envolvidos nas experiências do aluno, com vistas a adaptá-los, a despeito das amarras regulatórias.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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