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Frente a Frente debate a invasão sertaneja no São João
O programa Frente a Frente desta segunda-feira (12), apresentado pelo jornalista Heron Cid na TV Arapuan, reuniu músicos e estudiosos para debater a polêmica em torno da apresentação de sertanejos das festas juninas do Nordeste. Os especialistas defenderam o protagonismo dos artistas tradicionais e alguns chegaram a se posicionar contra a invasão de outros ritmos nos festejos juninos. No entanto, eles ainda divergem em relação ao conceito de música boa ou ruim.
A disputa entre sertanejos e forrozeiros ganhou um novo capítulo hoje, após a cantora Marília Mendonça ser confirmada como atração no dia de São João, no Parque do Povo, em Campina Grande. A artista aproveitou para alfinetar a paraibana Elba Ramalho, que se posicionou contra a invasão sertaneja.
Fuba defende a preservação da cultura nordestina
O músico e ex-vereador de João Pessoa, Fuba, defendeu a preservação da tradição cultural nordestina com o forró pé de serra, xote e baião. Ele ainda fez críticas à gestão cultural das prefeituras paraibanas. “As Secretarias de Cultura se transformaram em produtoras de show”, avaliou.
Para ele, não existe compromisso por parte das prefeituras na preservação da tradição. Ele defendeu, no entanto, apresentações como a de Wesley Safadão, porém, não sendo o artista principal. “Nossa característica é a tradição, é o forró pé de serra”, afirmou.
Orlando Camboin é contra invasão sertaneja
Por sua vez, o historiador e pesquisar de forró, Orlando Camboin engrossou o coro contra a invasão sertaneja e se posicionou contra mesclar ritmos nas festas juninas. “Sou terminantemente contra mesclar ritmos. Sou a favor da boa música”, pontuou.
Ele citou Elba Ramalho, Flávio José, Alcymar Monteiro e Zé Ramalho como exemplos de artistas que representam bem a música plantada por Luiz Gonzaga. “Sou contra o breganejo. Sou a favor do Sertanejo de formação na roça, como Tonico e Tinoco”, afirmou.
Mira Maia defende protagonismo dos artistas de casa
Contrariando Fuba e Orlando Camboin, a cantora paraibana Mira Maia afirmou ser a favor da inserção de ritmos diferentes do forró, no entanto, ressaltou que o protagonismo deve ficar com os artistas tradicionais. “Muitas vezes a pessoa não sabe o que tem de bom em casa porque nunca ouviu”, frisou.
Para ela, é possível fazer uma boa festa junina em Campina Grande mesclando artistas conhecidos do público com artistas de casa. “Acho que esses artistas, que caracterizam a festa de São João, não deviam ser coadjuvantes, eles devem ser os protagonistas. Os holofotes deveriam ser pra eles, mas que outros também pudessem participar, porque é uma festa popular”, avaliou.
Carlos Anísio: “A tradição diz quem nós somos”
Chefe do Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Carlos Anísio destacou o caráter público das festas juninas. “Na hora que a festa é pública você tem que pesar outras coisas, não somente o mercado”, afirmou.
Ele avalia que Poder Público deve cumprir o papel de oportunizar e fazer com que a população tenha acesso a bens culturais que não teria através da mídia.
“Você descaracteriza uma festa popular, extremamente arraigada na tradição da gente. Muita gente acredita que tradição significa algo ultrapassado, mas não, a tradição diz quem a gente é”, avalia.
BOLETIM DA REDAÇÃO - 22/07/2025