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Como Nelson Rodrigues virou repórter? O pai dele Mário Rodrigues (1885-1930), criou o jornal A Manhã, em 1925, no Rio de Janeiro. Quando tinha 14 anos, ele começou a trabalhar com o pai e se tornou repórter policial. Antes, em 1919, ingressou na escola Prudente de Morais e ganhou um concurso de redação. O tema era o adultério. Tá explicado?
Nelson Rodrigues é o autor brasileiro que mais vi do que li. Vi Nelson via Jabor: “Herculano, aqui quem fala é uma morta” – nunca esqueci a voz de Darlene Glória girando no gravador. Eram as primeiras cenas do filme ´Toda nudez será castigada´ mas não foi o primeiro espanto no universo rodrigueano. Talvez da educação sensorial.
Como nasci no sertão, eu escutava meu pai dizer, que a filha de um amigo ia casar ´na marra´, ou seja, na delegacia. Nem era a moça, mas o rapaz que era obrigado a casar, vítimas do prazer e tragédia, que na linguagem antiga se dizia: ´foi deflorada´.
Na língua portuguesa, deflorar é um verbo, o ato de deflorar, tirar flor; tirar virgindade. Vejam como a língua é rica, mesmo com a palavra em desuso. Hoje não se deflora mais ninguém, conheceu, transou, curtiu, já foi.
Dizendo-se cristão, o autor de “Vestido de Noiva” (1943) rasurou as cartilhas religiosas e estéticas do Brasil moderno. Não que Nelson fosse uma assombração, sanguinário, cruel, mas questionou bulas ideológicas, da esquerda e da direita, no contexto ditatorial dos anos 70 e 80. Afirmava ser Marx uma besta. Como mostra as imagens dos mais de 20 filmes baseados em sua obra, o sexo atrapalha o amor. Já pensou? O sexo atrapalhar o amor? Faz sentido.
Bravo. No universo das trevas onde desemboca infinitamente pujante o contraditório dos afetos e das paixões, o autor pernambucano e não teve outro maior, encenou o corpo e a alma da classe média suburbana no ato mais provocador: Sim, vamos evitar aqui citar as frases de NR.
Nelson dizia que “só as mulheres normais gostam de apanhar” e afirmava “ser preciso paixão até para chupar um picolé”. Até nos arredores mais longínquos do planeta, chegou essa nada espantosa afirmação.
Sem beirar o marginal, N Rodrigues não viveu os anos 80, que pra ele teriam sido inúteis – lembrando que Nelson morreu em dezembro de 1980, no Rio.
Ainda no começo da vida no Rio de Janeiro, em 1929, (Nelson nasceu em 1912), seu irmão, Roberto Rodrigues (1906-1929) — foi assassinado pela escritora Sylvia Seraphim (1902-1936), por causa de uma reportagem sobre seu suposto adultério. Suposto adultério em 1929, é demais… Pois é, K Pra Nós´, perdoem o K por eu não poder perdoar.
Ninguém escreveu no Brasil como Nelson Rodrigues: contos, romances, crônicas, peças de teatro escambau.
Pensando bem Eros e Prometeu já não são parceiros da nova desordem amorosa embora o ´horóscopo´ ainda anuncie o poder das coxas e do fogo – eu li isso num texto do escritor português Valter Hugo Mãe, sobre a oralidade das cachoeiras e os ruídos significantes cheios de desejo e som. Quanta falta faz Nelson Rodrigues…
Kapetadas
1 – A inteligência artificial é onde as ciências exatas e as ciências humanas se beijam
2 – Se fosse pra eu ficar calmo seria sistema calmoso e não nervoso.
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maistv - 12/08/2025