João Pessoa, 26 de julho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Tem gente que pensa que perdão é reencontro. Que perdoar é fazer de conta que nada aconteceu, como se a dor tivesse licença pra voltar e bater na mesma porta. Mas não é bem assim. A vida me ensinou que, às vezes, perdoar é exatamente o contrário: é soltar a mão sem barulho, é virar as costas sem alarde, é seguir em frente com o coração limpo e a cabeça erguida — sem precisar provar nada pra ninguém.
Já me disseram que isso é frieza. Que quem perdoa de verdade, convida de novo pra sentar na sala, passar um café e rir do que passou. Mas eu aprendi que tem dores que não precisam ser conversadas. E tem relações que, uma vez partidas, não cabem mais no mesmo molde. E tá tudo certo.
Perdoar, pra mim, é silêncio. Não por orgulho, mas por proteção. É um gesto interno, quase invisível. É olhar pra ferida com respeito, mas não com saudade. É dizer: “Sim, doeu. Mas eu não vou ficar aqui esperando doer de novo.” É maturidade, não raiva. É sabedoria, não mágoa.
Tem hora que a gente precisa escolher a paz, mesmo que o coração ainda se lembre de tudo. Mesmo que ainda venha uma pontada quando escuta aquele nome ou revisita um cheiro. A diferença é que, hoje, eu não me deixo mais invadir. Não deixo que o que passou se sente de novo no sofá da minha alma.
Perdão não é esquecer. É lembrar sem se machucar. É entender que algumas portas foram feitas pra se fechar e, uma vez trancadas, que fiquem assim. Não por vingança, mas por amor próprio. Porque a gente merece um caminho mais leve. E quem já andou descalça por tantos espinhos sabe muito bem a paz que é pisar firme e seguir — sem olhar pra trás.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 22/07/2025