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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

Conversa com a Memória 

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publicado em 02/07/2025 ás 07h00
atualizado em 01/07/2025 ás 18h52
 
José Nunes
         Recorro às palavras do mestre Villas-Bôas Corrêa quando abordava sua trajetória de jornalista, uma história de quase meio século de atuação da Imprensa do Rio de Janeiro, para falar do livro que o amigo Rubens Nóbrega publicou recentemente, intitulado “Memória do Batente”, mas que gostaria de ter denominado de “Memória de um tradutor de telegramas”.
         Lembro de uma visita de Carlos Castelo Branco a Ascendino Leite, em 1993, quando este morava em João Pessoa. Como que se despedindo do amigo paraibano, um dos últimos restantes da safra de ouro do jornalismo político brasileiro entre a década de 1950 e 1980, Castelo falou: “Ascendino, nós fizemos História”.
         O livro em foco remete ao mestre Villas-Bôas que conheci por intermédio de Ascendino Leite, outro mestre do jornalismo que, diferente de Rubens e de mim, nunca copiou telegramas nas redações porque ambos eram repórter e redator no tempo do Jornalismo, feito como Literatura.
         Na esteira do tempo, um tempo que também foi meu, dois anos depois de Rubens Nóbrega estar “copiando telegramas” no jornal O Norte, também ali cheguei pelas mãos de Nathanael Alves e, como ele, acolhido pelos amigos professores Teócrito Leal e Evandro Nóbrega.
         Dois Nóbregas, com linhagem de nobreza nascidos em cidades diferentes: um é da Capital, crescido nos ares de Bananeiras, e o outro, gerado e moldado ao sol das Espinharas.
         Cada jornalista no seu tempo e com sua verve de repórter, Villas-Bôas Corrêa e Rubens Nóbrega, ambos vasculham na memória pedaços de lembranças de fatos que viveram ou presenciaram. Cada um mergulhou nas funduras dos acontecimentos do panorama da política, sem especulação, apenas desejando noticiar os fatos para a história da Imprensa, brasileira e paraibana.
         Tendo chegado cedo às redações de jornais, o destino espichou a atuação de Rubens Nóbrega a meio século de atividade, com idas e retornos nem sempre desejados, mas dando conta do recado. Agora, curtindo o repouso sem abandonar a lida, não sei se bem remunerado, ele nos chega com uma obra de memória com credenciais invejáveis.
         Não sei o que mais destacar em “Memórias do Batente”, a fase mais aguda ou de melhor brilho vivida por Rubens, por mim testemunhada, seja em pequeno período no Correio da Paraíba ou à distância, mas acompanhando suas investidas na divulgação de fatos. Uma época em que o repórter atiçava o faro em busca da melhor notícia.
         Ainda que por pouco tempo tenhamos atuado na mesma redação, no fechamento do jornal Correio, no preparo das chamadas da primeira página, que ele titulava com agilidade, lendo seu livro é como conversar com a memória, a percorrer as lembranças de uma geração da qual fiz parte, vivendo com o pulsar entusiástico de corações vibrantes com a notícia e a manchete inédita.
         Sabíamos que o jornalista é o resultado das reações sociais, e assim vivíamos inquietos. Carregávamos uma flor vermelha invisível no peito para não sermos notados.
         Rubens me faz lembrar de que, na época em que começamos, o jornalismo era a iniciação para a literatura. Comumente os escritores nascem nos jornais. Saindo das redações, lançam as magias silenciosas de suas imaginações para criar belas páginas de ficção.
         Fez muito bem o jornalista Rubens Nóbrega escrever sobre sua experiência, sua vigência e seu aprendizado dentro das redações. Redações essas de um tempo de saudade. Um convite para que outros também conversem com a memória.
         Nas redações povoadas dos derradeiros jornalistas das épocas profícuas de noites regadas a conversas intermináveis e cervejas, muitos aperfeiçoaram os recursos da criatividade e da linguagem refinada ao estilo literário que consagrou alguns escritores.
         Com uns poucos colegas, Rubens Nóbrega colheu resquícios dessa época representativa do jornalismo paraibano, produzido por profissionais com apurado senso crítico. Repórteres que buscavam a grandeza da reportagem, ao modo de jornalistas tarimbados e vividos nas antigas redações.
         As redações de nosso tempo eram terrenos férteis para nossas sementes.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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