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Era uma quarta-feira, fim de expediente, quando o supervisor de uma distribuidora de alimentos em Guarabira entregou seu pedido de afastamento. O laudo médico falava em burnout. A empresa registrou mais um caso na planilha de saúde ocupacional. Mas quem convivia com ele sabia: o problema era mais profundo. Não era excesso de trabalho. Era excesso de vazio.
Aquele profissional, antes participativo, vinha sendo ignorado em suas sugestões, tratado como número e pressionado por metas inatingíveis. Seus dias se tornaram repetitivos, seu papel, irrelevante. Aos poucos, o que murchou não foi só o entusiasmo foi o propósito. Ele ainda batia o ponto, mas sua presença era só física. A mente e o coração já haviam pedido demissão.
E quando o cansaço é existencial? Segundo Thomas (2009), “quando as pessoas não encontram significado no que fazem, elas deixam de investir energia”. A exaustão, nesses casos, não vem da quantidade de trabalho, mas da desconexão entre o que se faz e o que se acredita. O corpo dá sinais, mas a origem é a alma silenciosa, negligenciada, exaurida.
Em muitas empresas, ainda se acredita que motivação é euforia. Que basta um bônus, uma premiação ou uma campanha motivacional para reacender o ânimo. Mas o cansaço mais perigoso não é o físico. É o de quem já não vê sentido. De quem perdeu a crença no propósito da organização ou no valor da própria entrega. De quem está lá apenas por obrigação e cada vez mais distante de si.
Ambientes assim, onde se cobra produtividade sem espaço para escuta, onde há metas, mas não há diálogo, onde se celebram resultados e se negligenciam as pessoas, se tornam fábricas de adoecimento emocional. E o mais preocupante: muitas vezes, tudo isso acontece sob a aparência de eficiência, batendo metas e entregando números, mas drenando lentamente a saúde de suas equipes.
Segundo o Observatório de Saúde Mental no Trabalho, os afastamentos por transtornos emocionais cresceram mais de 30% no Nordeste entre 2020 e 2024. Por trás desses dados, há histórias reais de ausência de pertencimento, de relações frágeis, de lideranças distantes. O que se vê como “falta de resiliência” muitas vezes é só falta de espaço para ser ouvido e respeitado.
Na contramão desse modelo, uma pequena empresa de assistência técnica em Campina Grande resolveu escutar. A cada quinze dias, envia aos colaboradores três perguntas anônimas: o que te motiva aqui? O que te desanima? O que faria você se sentir mais valorizado? A prática simples gerou conversas sinceras, ajustes na rotina e, principalmente, reconexão. O índice de afastamentos caiu. E a motivação voltou sem aumento de salário, mas com aumento de escuta.
Quando há sentido, há energia. Oferecer um bônus pode até gerar um pico de desempenho, mas não sustenta ninguém num ambiente vazio de significado. Sem propósito, qualquer incentivo vira maquiagem em ferida aberta. A motivação verdadeira nasce da conexão entre valores pessoais e objetivos coletivos, da sensação de que se está contribuindo para algo que importa.
A liderança que o presente exige não é a que comanda com planilhas, mas a que escuta com empatia. Que sabe fazer perguntas difíceis, cultivar vínculos verdadeiros e reconhecer que, por trás de cada meta, há uma história, uma emoção, um ser humano que precisa ser respeitado em sua inteireza.
E na sua empresa? As pessoas estão realmente cansadas… ou estão apenas vazias? Quando foi a última vez que você perguntou a alguém da sua equipe: “O que te move aqui dentro?”
Referência:
THOMAS, Kenneth W. Intrinsic Motivation at Work: What Really Drives Employee Engagement. 2. ed. San Francisco: Berrett-Koehler Publishers, 2009.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 09/05/2025