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Formada em Direito, Administração com ênfase em Comércio Exterior e pós-graduada em Comunicação Corporativa pela Universal Class da Florida.
É lider climate reality change pelo Al Gore e ceo do site Belicosa.com.br onde escreve sobre comportamento digital e Netnografia.

Como a Ambiência das Telas Está Nos Viciando

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publicado em 24/06/2025 ás 19h36
atualizado em 24/06/2025 ás 19h38

Você já parou para pensar por que é tão difícil largar o celular, mesmo quando você sabe que deveria?? A culpa não é só sua  é da ambiência digital viciante, um fenômeno que está moldando nossas relações com as telas. Seja nas redes sociais, jogos ou plataformas de streaming, o design de interação dessas tecnologias é projetado para nos prender, explorando nossas emoções e comportamentos.

Quando ingressei no curso de arquitetura com o tema da minha dissertação sobre como a ambiência das telas esta nos viciando, muitos acreditaram que tanto o tema quanto a profissional estavam no lugar errado. Aos poucos fui convencendo meus colegas e professores da urgência do tópico.

Antes de tudo, é essencial compreender o que é a ambiência digital viciante. Esse termo refere-se ao ambiente imersivo criado pelas telas, que combina elementos visuais, sonoros e interativos para capturar nossa atenção.

Pense nas notificações que piscam, nos vídeos que começam automaticamente ou nos sistemas de recompensa, como curtidas e streaks. Esses elementos, cuidadosamente planejados pelo design de interação, fazem com que seja quase impossível resistir. É como se as telas fossem uma festa sensorial que nos convida a ficar, mesmo quando sabemos que deveríamos ir embora.

O Papel do Design de Interação

A arte de criar interfaces que sejam envolventes é conhecida como design de interação. Quando bem feito, ele facilita nossa vida, tornando a navegação mais simples e agradável. No entanto, quando usado de forma antiética, o design de interação pode se tornar uma arma de manipulação.

Por exemplo, aplicativos como Instagram e TikTok usam scrolls infinitos e algoritmos de recomendação para nos manter conectados. Esses elementos exploram o desejo humano de novidade e validação, criando uma ambiência digital viciante que nos faz perder a noção do tempo.

Além disso, a ambiência digital viciante é amplificada por técnicas psicológicas. Um estudo publicado na revista Nature Human Behaviour em 2022, intitulado “The Psychology of Digital Engagement”, mostrou que notificações e recompensas variáveis ativam os mesmos centros de prazer no cérebro que jogos de azar. É por isso que você sente aquele impulso de checar o celular toda vez que uma notificação aparece. Esse design de interação não é acidental – ele é projetado para nos viciar, priorizando engajamento sobre bem-estar.

A ambiência digital viciante nos faz sentir conectados, mas, ao mesmo tempo, isolados. Passamos horas consumindo conteúdos, mas, no final, ficamos com uma sensação de vazio. Isso acontece porque o design de interação muitas vezes explora nossas inseguranças, como o medo de perder algo importante (FOMO). Assim, a ambiência digital viciante não apenas nos prende às telas, mas também prejudica nossa saúde mental, causando ansiedade, insônia e até depressão.

Como  Escapar da Ambiência Digital Viciante

E agora, como lidar com isso? é importante reconhecer os desafios. A ambiência digital viciante é alimentada por um ecossistema que lucra com nossa atenção. Empresas de tecnologia investem bilhões em design de interação para nos manter engajados, e os algoritmos são cada vez mais sofisticados.

Além disso, vivemos em uma cultura que valoriza a hiperconectividade. Quem nunca sentiu pressão para responder mensagens imediatamente ou acompanhar as últimas tendências online? Essa mentalidade nos empurra para o vício, mesmo quando sabemos que não é saudável.

Outro desafio é a falta de educação digital.

Muitos de nós não entendemos como o design de interação funciona ou como ele nos manipula. Segundo Shoshana Zuboff, as empresas exploram nossa falta de conhecimento para coletar dados e personalizar experiências, tornando a ambiência digital viciante ainda mais poderosa.

Assim, combater esse fenômeno exige não apenas mudanças individuais, mas também coletivas, como regulamentações mais rígidas e maior transparência por parte das empresas.

Por fim, há a questão do acesso. No Brasil, onde a desigualdade digital ainda é um problema, muitos dependem de smartphones para se conectar, o que aumenta a exposição à ambiência digital viciante. Assim, escapar desse ciclo exige esforço conjunto, envolvendo governos, empresas e cidadãos.

Como Retomar o Controle

E agora, o que fazer? Preste atenção em como o design de interação afeta seu comportamento. Por exemplo, quando abrir um aplicativo, pergunte-se: estou aqui por escolha ou por impulso? Outra dica é limitar o tempo de tela. Use ferramentas como o “Bem-estar Digital” no Android ou o “Tempo de Uso” no iOS para monitorar e reduzir seu consumo.

Além disso, ajuste suas configurações. Desative notificações desnecessárias, silencie grupos de mensagens e personalize suas preferências para reduzir a ambiência digital viciante. Assim, você diminui os gatilhos que o prendem às telas. Outra estratégia é buscar alternativas offline. Experimente atividades como leitura, caminhadas ou hobbies para dar um respiro ao seu cérebro. Lembre-se: desconectar-se não é perder, mas ganhar – em saúde, clareza e equilíbrio.

Por fim, eduque-se. Leia sobre design de interação e ambiência digital viciante para entender como essas tecnologias funcionam. Compartilhe esse conhecimento com amigos e familiares, promovendo uma cultura de uso consciente. Assim, você não apenas se protege, mas também ajuda a construir um futuro digital mais saudável.

Maria Augusta Ribeiro é especialista em comportamento digital e Netnografia no Belicosa.com.br

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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