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Você já recebeu no WhatsApp um vídeo escandaloso, uma imagem duvidosa ou um texto indignado pedindo para compartilhar antes que apaguem? Pois é. Se você já passou por isso, você foi alvo ou vetor de uma engrenagem que vem transformando a política brasileira. Falo do marketing viral aliado à desinformação, uma combinação poderosa que encontra, na Paraíba, um terreno fértil para se espalhar.
Com mais de oitenta por cento dos acessos à internet feitos exclusivamente por celular, segundo o IBGE, e uma população que vive conectada em grupos de WhatsApp, o estado se tornou um campo aberto para conteúdos emocionais, rápidos, envolventes e muitas vezes falsos. Em tempos de eleição, a lógica é ainda mais implacável. A verdade perde força para a velocidade e a indignação se sobrepõe à análise.
Estudos sobre viralização mostram que o que move o compartilhamento não é a precisão, mas a emoção. O que toca, choca, irrita ou comove é o que ganha as telas. Um vídeo com música dramática, imagens fortes e frases apelativas tem muito mais chance de circular entre os contatos do que uma análise técnica ou um desmentido cheio de links. O marketing viral se vale disso: não precisa convencer, basta provocar.
Na Paraíba, onde as relações sociais são intensas e os vínculos locais pesam mais do que os algoritmos, essa lógica ganha força extra. Um conteúdo político que circula nos grupos da família, da igreja ou do bairro não é apenas uma mensagem, mas um gesto de pertencimento. E se toca em medos profundos ou esperanças coletivas, ganha o impulso emocional que nenhuma checagem consegue conter a tempo.
O termo marketing viral surgiu com a ideia de que certos conteúdos se espalham como vírus. Uma pessoa compartilha com cinco, que compartilham com outras vinte e, em minutos, a mensagem está em todos os grupos. Na política, esse modelo tem alimentado ondas de desinformação que distorcem fatos, destroem reputações e moldam opiniões com base em boatos. Durante as eleições de dois mil e dezoito, por exemplo, a Paraíba esteve entre os estados com maior circulação de mensagens políticas no WhatsApp, segundo estudos de universidades brasileiras. E boa parte do que foi compartilhado era impreciso, manipulado ou completamente falso.
Diante disso, o desafio não é pequeno. Combater a desinformação sem sufocar o debate exige equilíbrio e responsabilidade. Checar a veracidade de uma informação exige tempo, atenção e ferramentas. Compartilhar é rápido, instintivo, muitas vezes automático. É por isso que o papel das instituições, dos comunicadores e das empresas é cada vez mais importante. O marketing viral pode e deve ser usado para o bem. Campanhas educativas, conteúdos que estimulam o pensamento crítico e mensagens que valorizam a verdade também têm potencial de emocionar e circular.
No cenário paraibano, isso passa por iniciativas concretas. É preciso investir em conteúdo de qualidade, formar parcerias com comunicadores éticos, promover alfabetização midiática nas escolas e desenvolver estratégias de monitoramento e reação em períodos eleitorais. Não se trata de censurar ou impor silêncios, mas de fortalecer a cultura da responsabilidade no que dizemos, no que criamos e no que replicamos.
O marketing viral é uma ferramenta poderosa. Pode impulsionar ideias transformadoras ou propagar mentiras destrutivas em questão de minutos. Na política, o uso dessa ferramenta exige mais do que técnica: exige consciência. E na Paraíba, onde a emoção pulsa forte, é urgente entender que viralizar não é a mesma coisa que informar.
Antes de apertar o botão compartilhar, vale uma pausa. Às vezes, o maior ato de cidadania é justamente não ajudar a espalhar o vírus da mentira.
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QUALIDADE DE VIDA - 24/04/2025