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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Dez anos depois

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publicado em 23/04/2024 às 07h00
atualizado em 23/04/2024 às 09h52

Não é só a canção Killing Me Softly que me lembra ele – os gestos, meio santo, meio gente, mas todas às vezes que escuto Killing Me Softly  lembro dele – a voz de Roberta Flack entra feito fogo, que nenhuma simbologia pode explicar, nada, talvez, porque a música é triste, uma tristeza que é uma beleza, antes que qualquer coisa vire cinza e já virou

Saudades do meu irmão William Pinheiro, ele amava essa música. Ainda o procuro na varanda às sextas-feiras. Ainda hoje encontro pessoas me perguntando por ele, eu digo – está ótimo. E assim se passaram dez anos. Tantas coisas que eu não devia ter dito, ou deixei de dizer.

O (in)finito perene do instante em que perdemos as pessoas queridas, até as que não perdemos, não é só a luz queimada na estranheza da vida, é mais que isso – de tudo que parece e parece que foi ontem.

Killing Me Softly chega a ser mais forte que Asa Branca, Todo Amor que houver nessa vida e o mais evidente alvoroço de Odara ou Melodia Sentimental, de Villa-Lobos, talvez.

Certamente nossa aproximação maior veio quando ele se mudou para João Pessoa, eu antes dele, – nunca quando estivemos juntos em Paris. Paris é um livro, uma canção de Piaf. Tantos sons – seja você a pessoa que faz bem para as outras. William foi um poema que aconteceu.

Em Paris, não estivemos todo tempo junto, porque eu me apaixonei pela cidade. Às vezes, tarde da noite, ele dizia: “criatura, onde você estava?” E eu sempre respondia, em Paris

William chegava a nossa casa no Cabo Branco depois da hora do anjo e partia meia-noite. A varanda já estava acesa, era como se fosse noite das fogueiras, ele, de braços abertos, algo além.

Tudo era incrível nas suas conversas. Eu adorava o pudim de pão que ele fazia. Tinha o peito aberto e todo mundo morava no coração dele.

Ninguém me avisou que ele tinha morrido, eu estava lá no casarão do Bessa e, naquele domingo, lembrei de  Killing Me Softly, da necessidade de ouvir essa canção.

Assim como está na tradução, os amores morrem suavemente, suavemente não tem nada a haver com a vontade, porque a morte não é uma saída, a morte é necessária, por isso carregamos tantas imagens, procurando um lugar, uma canção, Killing Me Softly

Kapetadas

1 – Seja você a pessoa que faz bem pras outras.

2 – O barulho da chuva em meio ao cheiro do café, é tão bom

Fugees – Killing Me Softly With His Song (Official Video)

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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