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ENTREVISTA ESPECIAL

Edições Sesc lançam livro e disco ‘Dori Caymmi songbook: 80 anos de um cantador’

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publicado em 06/04/2024 às 12h33
atualizado em 06/04/2024 às 15h48

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Os fãs de Dorival Tostes Caymmi, o Dori Caymmi, ganharam um presentaço – a edição ‘Dori Caymmi songbook: 80 anos de um cantador’ com selo das edições Sesc em celebração à carreira de artista. Livro e disco são peças de colecionadores.

O livro reúne um perfil biográfico, imagens e depoimentos sobre o artista. O álbum digital com 12 violonistas e quatro cantores convidados interpretam canções escolhidas e regravadas para o livro. Dori é um cantador, um artista, que canta os poemas de Paulo César Pinheiro.

O projeto tem o dedo de Danilo Miranda, que era diretor-geral do Sesc de São Paulo, falecido o ano passado. O songbook foi organizado pelo também compositor e violonista Mario Gil e conta ainda com, 26 partituras para violão escritas por Dori. Cada detalhe do processo de produção da obra foi acompanhado de perto pelo artista.

Na introdução do livro, Mario Gil conta os bastidores da idealização da obra, tendo sido ele próprio, o primeiro incentivador, que sugeriu a produção de um livro mais clássico, com músicas, arranjos orquestrais, fotos, depoimentos e um perfil biográfico.

O jornalista Cláudio Leal se juntou ao projeto e realizou as entrevistas que deram origem ao capítulo sobre vida e obra de Dori Caymmi. O trabalho de produção da obra incluiu ainda o registro da discografia completa do artista, de 1964 a 2023, e a publicação de partituras para violão digitalizadas em que é possível não apenas conferir as características únicas dos arranjos musicais construídos por ele, mas também observar o capricho com que realiza anotações sobre as músicas.

A repercussão tem sido grande que já está programado o lançamento da segunda edição do livro, para o próximo mês de agosto. “Vendeu muito, eu mesmo assinei nos shows que fizemos no Sesc cerca de 200 livros”, disse Dori

Em entrevista ao MaisPB, Dori Caymmi comenta sobre o conteúdo do livro e fala do novo disco, que sará lançado no dia 12 de abril, com selo da Biscoito Fino – fisicop e nas plataformas – além de conversas caseiras geniais.

MaisPB – Como você recebeu a notícia que o Sesc ia lançar “Dori Caymmi  songbook: 80 anos de um cantador”?

Dori Caymmi – Eu estava em São Paulo, um grande amigo, Danilo Miranda, (diretor só Sesc, (que faleceu o ano passado) ele me procurou, ele o Mário Gil que grava comigo também – Foi Mário Gil que falou – Dori você que escreve para violão aí, a gente faz um disco com os violonistas tocando, chama os cantores – não tenho como agradecer ao grande Danilo Miranda.

MaisPB –Ficou perfeito o livro e o disco…

Dori Caymmi – Sim. Veja o meu livro tem uma brochura – que não estraga o livro, se a pessoa vai ler a música, ela abre na página e não vira, não tem de esgarçar.

MaisPB – Na apresentação escrita pelo Danilo Miranda, ele mostra que conhece bem a sua obra?

Dori Caymmi – Ele era um fã e um amigo, uma pessoa muito querida, foi o diretor geral do estado São Paulo. Ele

MaisPB – Ele chegou a ver a obra?

Dori Caymmi – Viu sim. Ele estava muito doente, foi uma pena perdê-lo. A ideia partiu dele, tudo partiu dele.

MaisPB – E as fotografias?

Dori Caymmi – Muitas foram selecionadas por minha mulher Helena (Caymmi), minha mulher que tínhamos desde quando morávamos nos Estados Unidos. Tem fotos minhas antigas que são do arquivo do papai, imagens na praia, da família, eu minha mãe, a Nana e o Danilo.

MaisPB – E essas imagens com Caetano, Gil, Djavan, Maria Betânia…

Dori Caymmi – Essa parte aí foi trabalho do jornalista Guto Burgos, ele também armou os textos, do que eles acham a meu respeito e ninguém me achou um bom filho da puta.

MaisPB – Aliás, você fez os arranjos do disco Domingo, o primeiro disco de Caetano e Gal…

Dori Caymmi – Fui produtor junto com ele, desse disco. Es escrevi umas faixas, tem o Francis Hime que orquestrou também, e tem o Menescal. (Roberto)

MaisPB – No seu songbook, o texto do jornalista Cláudio Leal é um ensaio sobre sua obra?

Dori Caymmi – Ele é baiano e conhecia minha obra como jornalista, assim como você e ele contratado pelo Sesc de São Paulo para escrever, ele fez a lição de casa. Ele fez uma longa entrevista comigo. Esse livro teve a participação de Mário Gil que grava comigo, compositor – começa comigo e ele no estúdio, desse nível e aí e entra o Danilo Miranda.

MaisPB – Tem uma pizza no meio…

Dori Caymmi – Sim, fomos comer uma pizza e conversamos muito e mostrei para ele e logo veio o sinal – Danilo acertou logo – “vamos fazer isso”. Ele fez muito. O Sesc de São Paulo andava numa produção gigantesca. Ele era um homem de cultura, sabia de teatro cinema, música, literatura – tudo. Ele tinha minha idade, 80 anos. A gente perdeu um grande homem, um ministro da Cultura, que ele teria sido, sem burocracia. O Sesc de São Paulo foi a nossa casa de trabalho esses anos todos.

MaisPB – E esse trecho escrito por seu pai, que está no livro?

Dori Caymmi – Ah, isso foi a mulher de um jornalista, amigo antigo de meu papai, que fez uma entrevistara com ele. Ela falou comigo, que seu o marido estava no hospital, mas queria muito que eu lesse a entrevista, que falava sobre mim. E mandou esse recorte, eu fiquei emocionado, porque meu pai era muito fechado. Nessa entrevista ele não fala nem da Nana, nem do Danilo – ele me desenhou de memória. Ela fazia coisas lindas, a família que ele desenhou. Papai era danado, pouco estudo, mas o Nordeste na época de meu pai, era quase o ensino superior. Ele não fez faculdade, mas sabia muita coisa

MaisPB – O desenho da capa é de seu pai?

Dori Caymmi – É sim, uma coisa muito bonita. E essas fotos antigas são do Instituto Tom Jobim, do arquivo de seu filho, Daniel Jobim.

MaisPB –Tem uma foto com Nana, seu irmão Danilo, você e seu pai…

Dori Caymmi – Ah, essa foto foi no apartamento, quando éramos crianças e morávamos no Leblon.

MaisPB – Como vai seu parceiro, compadre e amigo, Paulo César Pinheiro?

Dori Caymmi – Paulinho está bem. Ele tem uma cultura invejável, invejável. Sabe tudo.

Mais PB – Como eram suas idas e vindas para Bahia?

Dori Caymmi – Olha, o avô Durval (pai de meu pai) e minha tia Dinah, a terceira na lista – tinha Heraldo que morreu cedo, depois Dorival, Dinah e Dinair que é o nome da Nana, minha irmã. Eu ia para Bahia visitar meu avô e tia Dinah, que era uma pessoa muito querida.

MaisPb – Você lembra como conheceu Caetano, Betânia, os filhos de dona Canô? E Gilberto Gil, Gal Costa?

Dori Caymmi – Eu tinha 19/20 anos. Por intermédio de uma pessoa, que não lembro, conheci Carlos Coqueijo da Costa (compositor, maestro, jurista, jornalista, poeta, letrista, cronista e cantor brasileiro. Foi ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ele tinha um programa na TVC chamado “Música e Poesia”, ele era amigo de João Gilberto. Ele soube que estava em Salvador e como a Bethânia disse, eu levava os acordes de João Gilberto – então, um dia eu conheci Caetano, em Nazaré, onde ele morava e conheci Gil nessa programa de Carlos Coqueijo.

MaisPB – Vamos falar da canção ‘Desenredo’ sua e do Paulo César Pinheiro, que surgiu de lembranças mineiras? 

Dori Caymmi – Eu tinha estourado o tendão de Aquiles jogando futebol, fiz uma cirurgia e deu uma necrose e tive que ficar uns seis meses indo ao médico, fazendo pequenas cirurgias, até a perna sangrar e poderia ter perdido minha perna. Isso me deixou muito trisei, me lembrei da minha vida em Minas Gerais, quando criança em Pequeri, estudando no colégio interno. Naquele tempo papai pegava um trem e ia trabalhar no Rio e voltava. Enfim, essa canção “Desenredo” eu fiz o refrão “Ê, Minas Ê, Minas É hora de partir.” e mostrei para Paulo César Pinheiro que completou a letra. Fiz a melodia e dei pra ele apenas o refrão.

MaisPB

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