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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

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publicado em 03/09/2025 ás 07h00
atualizado em 02/09/2025 ás 17h36
         José Nunes
         No tempo em que os governantes percorriam a Paraíba no lombo de cavalos, sentindo o aroma da terra e descobrindo suas riquezas, a população os recebia com rudimentares gestos. Os historiadores registram ter sido um tempo maravilhoso, apesar das dificuldades, de muitas descobertas e consolidação de sonhos.
         Passando pelas matas do Brejo, Elias Herckmans ou seus emissários nada encontraram senão a hospitalidade do caboclo que não davam muita atenção às riquezas minerais como também da árvore da qual se extraia material para a pintura de tecido e madeira para móveis que ornamentariam pomposas residências.
         Ao tempo em que descobriam a madeira de lei, de largos riachos retirando o peixe, os campos dando alimento e as matas oferecendo alternativas para exercício do corpo e da alma.
         O tempo passou, as moendas rudimentares e as máquinas imponentes chegaram para arrancar da terra a melhor cana e transformar em cachaça e açúcar.
A madeira cortada era transformada em objetos de usos nas residências, os cipós que fechavam os caminhos eram transformados em caçoais e cestos para utilidades pelas famílias.
         Nessa terra os caboclos retiravam o que produzia a mata, e esses sublimares gestos humanos foram lembrados recentemente em Serraria, numa ação capitaneada pela prefeitura municipal, durante uma série de eventos promovidos para ressaltar o que a cidade tem de mais bonito, que são sua gente, sua paisagem, sua economia e seu frio.
         Organizadores trabalharam temas voltados à realidade da região, mas sobretudo, o que existe de mais pomposo e belo na cidade de Serraria, a acolhida de sua gente, a sua economia e o seu frio. Em 2024, abordaram a questão da escravidão nos seus últimos dias no município, em bonitas representações teatrais encenadas por adolescentes e crianças. Na versão atual do Caminho do Frio, de forma magistral, o grupo de teatro buscou as raízes do caboclo que trabalha utilizando cipós encontrados nas matas, com os quais fabrica caçoais, cestos, balaios.
         Foi uma semana em que a cultura, a gastronomia, a economia gerada a partir dos engenhos e fazendas de café ganharam dimensão magistral ao mostrar a força de sua gente que, no passado criaram perspectivas para o futuro promissor.
         A semana foi oportuna para a cidade voltar seus olhares ao passado de sua gente, um tempo renovado nos gestos de homens e mulheres que ainda hoje trançam cipós, dando forma de arte ao que a mata fornece.
         Um povo que sobrevive de suas lembranças fortalece e alonga sua história. Mais uma vez em Serraria as memórias dos engenhos, das fazendas de café, de cipós trançados, são uma demonstração da fina arte engrandece a todos.
         A cidade estava engalanada, tinha brisa e perfumada, estando participando da festa, fui surpreendido pelos conterrâneos que na infinita bondade ofertaram mimo com objetos artesanais e produtos da terra.
         Certamente seus antepassados, homens e mulheres que edificaram sua história, se regozijariam com tudo isso. Então, agora, lembraria do meu trisavô José Pedro da Costa, do meu bisavô coronel do café João Mendes e do meu avó José Nunes, sapateiro que construía sela e arreios, e tantos outros que, na atualidade, sentem, orgulho em dizer que são de Serraria. Terra amada, Terra das Palmeiras, Princesa do Brejo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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