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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

“Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”

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publicado em 13/02/2024 às 07h00
atualizado em 12/02/2024 às 17h53

 

         Este é um provérbio popular muito citado no Brasil, e certamente em todo o mundo. Embora muitas pessoas acreditem que esse ditado faz parte da Bíblia, no livro sagrado dos cristãos, desconheço que esta sábia frase, esteja descrita nessa obra. Contudo, mesmo se tratando de um ditado popular, de autoria desconhecida, como afirma a maioria dos autores, podemos dizer que tal ensinamento tem inspiração nos escritos do aludido livro sagrado cristão, pois esta mesma ideia está contida em alguns versículos bíblicos, dentre os quais cito: “As más companhias corrompem os bons costumes” – I Coríntios 15:33; “O que anda com os sábios ficará sábio, mas o companheiro dos tolos será destruído” – Provérbios 13:20; “Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores” – Salmos 1:1.

Como vemos, a frase “diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”, de certa forma, reflete o mesmo conselho que esses versículos bíblicos citados. Sem dúvidas, o meio em que estamos, e as pessoas com as quais convivemos, podem nos influenciar tanto para sermos bons quanto para sermos maus, pois nós seres humanos somos naturalmente influenciáveis.            Segundo o psicólogo russo Vygotsky, “o meio influencia o homem e o homem influencia, forma e transforma o meio”. Essa mesma afirmação de Vygotsky, mesmo que de forma diferente, é compartilhada por muitos outros intelectuais da educação, como por exemplo, Jean-Jacques Rousseau, autor da célebre frase: “o homem é produto do meio”.

Os seres humanos são naturalmente gregários, ou seja, têm uma necessidade natural de pertencimento, de pertencerem a um ou mais grupos, e por serem influenciáveis há sempre uma probabilidade maior de o grupo influenciar e até mudar o comportamento do indivíduo do que o indivíduo influenciar o grupo, embora isto também seja possível.

A formação da nossa personalidade tem início logo na infância, quando estabelecemos contato com a nossa família. Nesse momento, somos influenciados pelas relações às quais somos submetidos com os nossos familiares, pelos processos educativos dos nossos pais, pela cultura da comunidade em que moramos, pelas crenças às quais somos doutrinados etc. A partir daí, os próximos grupos com os quais nós interagimos no decorrer dos anos também moldam a nossa personalidade. Dentre estes estão, a escola, o grupo de amigos, os vizinhos, a empresa em que trabalhamos, os locais que frequentamos para nos divertirmos e outros.

Portanto, é importante estarmos vigilantes em relação ao tipo de conexão que estabelecemos com os nossos grupos de convivência, uma vez que estes, como já citado, vão ter influência na construção da nossa identidade, comportamento e até na personalidade, e assim sendo, é fundamental ficarmos atentos para não nos tornarmos somente uns “Marias vão com as outras”, ou seja, uma massa de manobra, sem personalidade própria. O exercício do senso crítico é de suma importância.

No modelo social contemporâneo, as relações extrafamiliares, têm se tornado nas principais formas de socialização dos indivíduos, tarefa esta, que antes era exercida em especial pela família. Mas, na atualidade, tal missão tem sido cada vez mais delegada ao grupo de amigos e/ou outros grupos extrafamiliares, e estes têm se constituído na principal fonte de referência comportamental não só de crianças e adolescentes mas também de adultos. De acordo com algumas pesquisas, atualmente, o tempo que as crianças e adolescentes passam rodeadas de amigos é três vezes maior que o dos próprios adultos.

A influência que sofremos dos amigos é normal e, na maioria das vezes, é boa. Ter um amigo que tem boas notas ou que é muito bom num desporto pode ajudar-nos a ter e a atingir também esses objetivos. Amigos que são leais e tolerantes ajudam-nos a construir essas qualidades. Os amigos ouvem-nos e dão-nos feedback quando tentamos realizar as nossas ideias ou discutir os nossos problemas. Podem ajudar-nos a tomar decisões e, consequentemente, a desenvolver competências sociais – como fazer novos amigos, respeitar as diferenças entre as pessoas, trabalhar em equipe e até competir. Mas, às vezes, são os nossos amigos a causarem-nos problemas. Podem dar-nos maus exemplos, maus conselhos ou pressionar-nos a fazer alguma coisa com a qual não nos sentimos confortáveis (furtar, trapacear, consumir álcool ou outras drogas, correr riscos com a prática de direção perigosa ou sob efeitos de substâncias psicoativas) etc.

Muitas vezes, a pressão para fazermos o que os outros fazem é muito poderosa, parecendo ser difícil resistirmos. Tal persuasão pode nos induzir a fazer coisas ou cometer atos indevidos e até ilegais com sérias consequências. O fato de nos sentirmos pressionados a fazer o que os amigos ou parceiros do grupo fazem, é natural, pois temos necessidade de sermos aceitos por estes; tememos ser tachados de retrógrados, esquisitos ou chatos, e, por não sabermos como resistir e enfrentar à pressão dos amigos, às vezes é mais fácil pensar: “bem, eu não concordo com isto, mas se todos estão fazendo, vou fazer também…”. E, de repente, nos flagramos fazendo algo que sempre condenamos e que jamais pensamos fazer um dia.

É sabido, que alguns indivíduos já nascem com a tendência natural a serem líderes, a exercerem lideranças sobre seus pares, e outras pessoas se sentem melhor sendo comandadas. Também podemos dizer que não há nenhuma fórmula mágica para resistir à pressão dos amigos, mas é importante que estejamos preparados e focados em respeitarmos a nós mesmos e aos nossos princípios. Devemos lembrar que corajoso(a) de verdade, é aquele(a) que respeita a si próprio(a).

Portanto, sugiro aqui algumas ações que podem nos ajudar nesta tarefa de preservação dos nossos princípios e vontades, bem como a nossa paz de consciência. Para isto, devemos ouvir sempre os nossos próprios instintos, “a voz do nosso coração”; obedecer os nossos princípios e valores; tentar analisar as situações advindas, com calma e as suas possíveis consequências; planejar as estratégias a serem usadas quando nossa consciência pedir que digamos “não”; evitar os lugares e situações que previamente já temos conhecimento que sofreremos muita pressão para comportamentos com os quais não concordamos; quando formos sair, devemos nos empenhar em escolher os amigos que sabemos, pensam da mesma forma que nós e respeitam os nossos pontos de vista etc.

Finalizando, quero me dirigir especialmente a você adolescente ou jovem adulto, faixas etárias estas mais vulneráveis às influências do grupo: Seja você mesmo! Só sendo o que você é, já és um presente para sua família e pra muita gente. Você não é perfeito, mas ninguém é. Você tem seus dias ruins, mas todos nós temos. O que talvez você não tenha notado é que as pessoas ao seu redor, querem você exatamente assim, com seus erros, acertos, seus problemas, alegre ou triste, sério ou sorridente, não importa! Você é você, e ninguém é igual a você! Assim sendo, “não seja um Maria vai com a outras”! Seja você mesmo!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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