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Espaço K: jornalista Edilane Araújo, a ‘musa’ que não envelheceu na telinha

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publicado em 13/11/2023 às 18h30
atualizado em 13/11/2023 às 16h15
Edilane Araújo é um dos nomes mais importantes da comunicação na Paraíba

 Kubitschek Pinheiro

Ela passou mais de trinta anos visitando nossas casas todas as noites, dai pensei na musa, pela aparição e longevidade na tevê, o carisma, três décadas no ar, mas existe a Edilane do mar, a mulher reservada, com uma taça de vinho na mão, ou beijando a medalha de tal maratona, a musa de todas as estações. Uma mulher que driblou muitos homens e avançou no seu espaço, respeitada e, claro, não envelheceu na telinha.

 Quando veio o anúncio em 2019 que ela seria substituída por outra pessoa para fazer o JPB da Tv  Cabo Branco – sim, a Edilane se transformou em outras, a do passinho inimitável, ao jeito mundial da dar a notícia, a comunidade quase pede um plebiscito, mas foi uma decisão dela, continuar na empresa, agora na editora de qualidade e projetos especiais da Rede Paraíba de Comunicação.

Paraibana, libriana, bonita, maratonista, amante do sol e de boa música, Edilane Araújo, a primogênita de seu Edivaldo e dona Girlane, veio ao mundo pelas mãos de dona Dadá parteira, na casa da avó materna em 1964. Uma menina alegre.

Deixou os planos de se tornar engenheira ou arquiteta para seguir a profissão que, segunda ela, a escolheu. Radialista e jornalista do batente há quase 4 décadas, é a mulher que permaneceu mais tempo na apresentação de um mesmo telejornal no país. Despediu-se do público em março de 2019 e, desde então, ocupa o cargo de editora de qualidade e projetos especiais da Rede Paraíba de Comunicação e se divide entre o trabalho e a paixão pela filha Rinah, pela neta Tainá sem agá e pela corrida.

Em conversa com o Espaço K, Edilane tirou de letra, nota dez na redação, uma aluna exemplar, que está só começando a viver – tem muito chão ainda.

 Espaço K – Vamos começar por aqui: você conseguiu o que pouca gente consegue: fazer a vida profissional todinha numa única empresa. Qual é o segredo?

 Edilane Araújo – Sem dúvida, minha capacidade de adaptação às mudanças. Característica cada vez mais necessária no mercado de trabalho e que carrego comigo desde sempre. Além disso, sou de uma geração em que a permanência num mesmo emprego era motivo de orgulho. E segue sendo. Amo minha trajetória na empresa que considero minha segunda casa.

 Espaço K  – Aliás, aquela performance dos passinhos para trás e anunciar: “o JPB está no ar”, ficou no ar, na memória dos telespectadores. Vamos falar essa interação que durou trinta visitando nossas casas? 

Edilane Araújo – Menino, pense num passinho comentado e imitado. O saudoso Enoch, do Ballet, dizia que eu fazia um tipo de Pas de Bourrée e eu me divertia com essa comparação. Na verdade, surgiu logo depois que levantei da bancada e comecei a apresentar em pé. Ao gravar a abertura do jornal eu falaria as manchetes e voltaria para perto da bancada. Naturalmente, dei esse passo para trás para não dar as costas para o telespectador. Um movimento despretensioso que virou uma marca.

 Espaço K  – Você estudou teatro com a consagrada atriz Margarida Cardoso. Os conhecimentos adquiridos no teatro facilitaram o seu desempenho no rádio e na televisão?

 

Edilane Araújo -Ter feito o curso de teatro no Lima Penante com professores como Margarida Cardoso, Buda Lira, Fernando Abath e Alarico Correia Neto marcou minha vida para sempre. O aprendizado com esses mestres abriu caminhos para que a menina tímida conseguisse se expressar melhor. E uma coisa puxou a outra. Fui parar no rádio. Me tornei garota propaganda das Lojas Arlindo Cabral e, pouco tempo depois, apresentadora de TV. O estúdio se transformou no meu palco de todas as noites.

 Espaço K  – E chegou a atuar em peças “Pluft, o fantasminha”, “O consertador de brinquedos”, “A Prima Dona”, “As Aventuras de Cutelo e Catuvira”. Um  dia poderemos novamente assistir Edilane no palco?

 Edilane Araújo  – Quem sabe? Tenho muita saudade do tempo em que pude viver todas as etapas da montagem de um espetáculo. E de todas as pessoas com as quais eu convivi nesse tempo. Algumas muito queridas e que já partiram. Confesso que quando entro para assistir um espetáculo me dá um aperto no peito. Sobretudo no Santa Roza, um lugar sagrado para mim.

  Espaço K – Seu pai era irmão do poeta Eulajose, isso já  é uma glória, ter pais ou familiares culturais, né?

Edilane AraújoMeu pai sempre teve talento para desenhar. Chegou a frequentar uma escola de artes, ainda menino, e ter aulas com Hermano José. Só que, com as dificuldades em casa, precisou trabalhar muito cedo, deixando de lado o seu dom. O irmão mais velho dele, Eulajose, não precisou abrir mão de sua arte. Dividia seu tempo entre palavras, tesouras e navalhas. Escrevia freneticamente com a mesma facilidade com que exercia o ofício que aprendeu com o meu avô, José Barbeiro. Tinha uma mente aberta e um excelente gosto musical. Lembro de quando me mostrou o LP de Secos e Molhados. Eu, ainda menina, sendo apresentada a uma banda transgressora para a época, pelo meu querido tio poeta-barbeiro. Confesso que foi bem difícil ter que noticiar a sua passagem.

 Espaço K – Você sempre foi uma mulher independente, avançada, cobiçada, que resolveu assumir a maternidade, dando vida a filha chamada Rinah, que lhe deu recentemente uma netinha chamada Tainá. O que representou a maternidade para você e como tem sido ser vovó Edilane?

Edilane Araújo Fui mãe muito jovem e se tem uma coisa que lamento é de não ter tido muito tempo para curtir essa maternidade. Mas tenho consciência que fiz o melhor que pude. Acho que deu certo. Rinah foi uma menina muito boazinha e uma adolescente que não me deu muito trabalho. Hoje é mulher linda, que se tornou mãe- bem mais tarde que a mãe dela- e está se saindo muito bem, trabalhando e cuidando da nossa pequena Tainá, por quem sinto um amor avassalador. 

Espaço K – Com toda evolução da tecnologia e as mulheres ocupando cargos mundiais, mas tem uma parcela grande de mulheres que vêm sendo massacradas, humilhadas e mortas pelos seus companheiros – parece que essa onda de feminicídio não tem fim, né?

Edilane Araújo É duro constatar o crescimento da violência contra a mulher e que muito precisa ser feito para que isso acabe. Temos obrigação de falar cada vez mais, denunciar e sobretudo acolher e proteger as vítimas para que elas não corram mais riscos. É um tema que tem que ser abordado logo cedo em casa, na escola, no trabalho, na igreja. E digo mais: os agressores precisam ser submetidos a penas mais duras já nas primeiras ocorrências. Tenho fé de que possamos ter um panorama menos obscuro no futuro.

 Espaço K – Falando nos homens bons ou ruins, eles são medrosos, quando adoecem choram feito criança. Vamos dar uma pancada nesses cabras?

Edilane Araújo –  A grande maioria não convive bem com dores e otras cositas porque não tem cólica menstrual, não sabe o que é parir, amamentar- mesmo com o peito ferido- administrar jornada tripla. E sem falar nos que só revelam vulnerabilidade quando lhes convêm. Terapia neles!!!!!

 Espaço K – O coração de Edilane está no batidão de um novo amor?

Edilane Araújo – Meu coração está batendo forte de amor por mim mesmo. Sério. Digo mais: é bem cansativo o fato de algumas pessoas acharem que toda mulher tem que ter um par para ser/estar feliz. Estou feliz assim. Fazendo o que gosto, com pessoas que gosto, dona do meu espaço, dos meus horários e o melhor: sem ter que dar satisfação a ninguém. Eu me amo! Eu me amo! Não posso mais viver sem mim…

Espaço K – Como sua voz ao rádio? Lembra?

Edilane AraújoSim. Estávamos colocando panfletos nos carros estacionados na frente de uma emissora de rádio, quando fomos chamados para dar entrevista sobre o espetáculo que estávamos divulgando. Após a entrevista, disseram que buscavam uma locutora e me convidaram para fazer um teste, que só fiz por muita insistência dos professores e colegas do curso de teatro. Acabei sendo contratada e me tornei a primeira locutora a trabalhar ao vivo na Arapuan FM. A que eu substituí era Sandra Groth, que na época era da Rádio Cidade de Recife. Ela e outros 3 locutores vinham de lá algumas vezes para gravar a programação. Quase todos foram dispensados e eu e Fernando Gabeira iniciamos essa nova fase na Arapuan FM. Gabeira fazia o horário da manhã e eu, o horário da tarde. A noite seguiu gravada por um tempo com Luciano Cavalcante, dono de uma das vozes mais lindas que já ouvi na vida e que silenciou em 2016.

Espaço K  – E essa paixão pelo esporte, a Edilane que corre igual Forrest Gump. Vamos falar sobre isso?

Edilane Araújo  – Eu sempre gostei de atividade física. Passei um tempinho lançando dardos na equipe de atletismo da Escola Técnica, mas fui parar na equipe de  basquete, onde me tornei armadora. Fiz parte da seleção paraibana juvenil e adulta. Arremessava bem de longe e corria muito em quadra. Comecei a trabalhar, depois fui mãe e fiquei sedentária dos 20 aos 40. A conta chegou com pressão oscilando e uns quilinhos a mais. Resolvi voltar a me exercitar. Esse retorno me fez começar a correr. De início, pouquinho. Fui tomando gosto e agora não consigo viver sem. Me sinto orgulhosa de ter feito 12 maratonas (42Km) e uma ultra (50Km). E também de ter realizado 2 vezes o Desafio Cidade Maravilhosa: correr 21Km num dia e 42Km no outro, ficando em segundo lugar na minha categoria. Correr tem sido minha terapia por quase duas décadas.

Espaço K  – Edilane não vive agarrada as redes sociais. Isso é um bom sinal, né?

Edilane Araújo  -Perde-se muito tempo nas redes sociais. Acho que quem tem entregas para fazer, no trabalho, nos estudos, precisa estabelecer limites. O tempo passa rápido quando se rola a tela em busca de novidades na timeline. Eu poderia aparecer mais, dizem, mas não consigo ir muito além. Não neste momento da minha vida. O tempo hoje para mim é precioso. Offline, off course!

 Espaço K  – É bom ser mulher?

Edilane Araújo  – Sim. Voltaria mulher novamente se outra vida tivesse. Com todas as dores, delícias e balangandãs.

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