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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A energia dos começos

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publicado em 27/08/2023 às 07h36
atualizado em 27/08/2023 às 04h39

Línguas fecundas me atraem “que producen frutos en abundancia”. Vejam bem: os maldébios não se dão com os ferôncios, os quais há séculos fazem guerra contra os tervinos. Não é hilário? Saudades de Hilário Vieira, que morreu antes do Jangada Clube ir ao chão.

Quem me falou dos madébios, foi Henri Michaux, um escritor, poeta e pintor belga, que tem pinturas estranhas, mas estranhos somos nós dos trópicos, tubarões, trans, pré-undergraound, poderosos, babys e héteros.

Esse estranhamento intensifica e chega até a cozinhas e botecos, que têm língua própria e se estendem na transformação das quimeras – seus limites, ampliando horizontes almiscarados. Por favor, não fala comigo pegando em mim.

Na verdade, nunca precisamos de tanto, mas das fontes, agora que uma nuvem pesada encobre perspectivas mundiais. Talvez traduzir face a face o canto de Nina & Simone daqui – um modo de contribuir para a desconstrução, quando me parece tarde demais. “A dor querendo que eu morra, o amor querendo que eu mate”

Eu prefiro a arca utópica de Noé, que nos ajude a atravessar os dilúvios e prisões urbanas que neles e por eles, decifremes as línguas que se desencontram tão fecundas, como bundas. Adoro bundas.

A transa dos começos, iniciada por Henri Michaux (Namur, 1899–Paris, 1984) começo de um pensamento, da escrita – um traço na parede significava o waze, o brotar de palavras e signos juntos, a Pedra de Ingá, mas separadas pela cultura de cada um.

Eu fico besta com as pessoas dizendo que sabem tudo e não sabem nada e se deixam fascinar pelas origens distanciadas, gente que tem medo de tudo, de dividir, até as palavras não como depositárias de um saber mais verdadeiro; um filho legítimo pela metade, chegando para reinvidicar e mais um pequeno escândalo contra a estabilidade do nada. Tá dificil.

A “Fábulas das origens” de Henri Michaux são fecundas, não que o cara seja o Tao a tratar de uma obsessão pelas origens, quando origens hoje não valem nada, se a pessoa não se fizer de rogada, estudiosa, como fonte de um prazer perdido.

Ao contrário do que se diz quem entende a arte, só como pintura ou escultura, perde na escrita e no visual, quando a arte está no diálogo.

Eu adorei conhecer a arte de Michaux de vê-lo assumir a liberdade da fábula e implicar com a razão na criação de alianças com a infância e com a pré-história. Ele se interessa igualmente pelo brilho das imagens contidas nas descrições, mas não precisa passar a viva toda na discrição. Será que alguém me entende. O Henri é um guia.

Pra vocês, um poema do Henri Michaux.

Deus, a providência
Deus sabe fazer qualquer coisa. Daí o seu tédio.
Daí que ele deu falta de um ser que só soubesse fazer pouca coisa.
É a causa da criação.
Ele fez as pedras. Mas depois de rolarem até o fundo das ravinas, não fizeram mais nada.

Kapetadas

1 -Tem boas ideias mas sabe ser inconveniente e eventualmente não conhece seu lugar. Quem?

2 – Só jogo conversa fora se o papo estiver furado.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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