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Alceu Valença ganha primeira biografia aos 77 anos

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publicado em 01/07/2023 às 11h40
atualizado em 01/07/2023 às 09h44
Cantor Alceu Valença ganha primeira biografia aos 77 anos (Foto: Leo Aversa)

Kubitschek Pinheiro

Fotos – Leo Aversa e Morgana Narjara

Neste sábado, Alceu Valença chega aos 77 anos e quem ganha presente são os fãs. Na última terça-feira (27), no Paço do Frevo, da Praça Arsenal do Recife, Alceu pisou palco do lançamento da sua biografia “Pelas ruas que andei – uma biografia de Alceu Valença”, escrita pelo jornalista e escritor Júlio Moura. O título vem da canção “Pelas Ruas Por Onde Andei”, do álbum Cavalo de Pau, de 1982  É uma obra que ultrapassa fronteiras, assim como o personagem. Durante o evento rolou um bate-papo entre o autor e a jornalista Luíza Maia.

Editado pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), em parceria com a Relicário Produções, e já está a venda no site da editora e nas livrarias O projeto ainda tem versão digital e um audiolivro. Além de Recife, “Pelas ruas que andei” será lançado no Rio de Janeiro, no dia 25 de Julho e em São Paulo, dia 27 de Julho.

O autor Júlio Moura traz para os leitores, admiradores do artista sua obra, um vasto conteúdo do início, do meio e bote chão frente trajetória do Alceu poeta, compositor e instrumentista pernambucano, parido em São Bento do Una. – o cara que a década de 1960, apresentou um ritmo novo que fez cabeça de uma legião e ainda hoje, tem em seu público muitos jovens. Era o rock, que contagiava e contagia novas gerações. Alceu espalhou sua arte pelo Nordeste, batendo nas portas das metrópoles e aconteceu fora do Brasil. Aconteceu e acontece.

Um artista que se agigantou, é o que mostra o livro de Júlio Moura, o Alceu dos sons da sua terra região, mexendo no coco, na ciranda e o baião, as cantorias quando o país desfrutava de estrondoso de Luiz Gonzaga.

“Pelas ruas que andei – uma biografia de Alceu Valença”

Esse jovem é Alceu Valença, do time dos melhores artistas da Música Popular Brasileira e que se consagrou como defensor das regiões mais distantes do Brasil, além de autor de hits que se eternizaram na boca do povo. Da manga rosa quero o gosto e o sumo, morena tropicana eu quero teu sabor, coração bobo, coração bola, coração balão, tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais…

Livro documentário, em estilo romanesco – tem que ler para gostar cada vez mais do ilustre personagem. atravessando a era das gravadoras, até os vídeos viralizados na internet, está narrado.

O autor Júlio Moura conversou com o MaisPB e revelou o Alceu Valença demasiado humano, o artista brasileiro que ainda vai nos surpreender e muito enquanto houver poesia, na sua criatividade.

MaisPB – Ser o assessor de imprensa de Alceu Valença facilitou, impulsionou mais em escrever a biografia?

Júlio Moura – Já pensava nisso, faz um tempo. Eu sempre fui leitor de biografias, especialmente biografias musicais brasileiras. Hoje temos grandes lançamentos nessa lacuna já foi muito mais. Temos a cada ano novas  biografias, reconstruções históricas. Enriqueceu muito a cultura e nossa bibliografia.

MaisPB – A biografia de Alceu eleva bem mais o potencial do Nordeste, né?

Júlio Moura – Eu tenho a impressão que a geração Nordeste 70, se é que a gente possa chamar dessa maneira, ela carece mais de livros, de biografias, de ensaios. Por exemplo a Regina  Echeverría, fez biografia de Fagner, JB Medeiros, escreveu a de Berchior. Mas eu não conheço uma de Dominguinhos, pode até existir, nem de Elba Ramalho, sequer de Zé Ramalho, Geraldo Azevedo. Sempre tive vontade de escrever uma biografia. Trabalhei muito tempo na gravadora Biscouto Fino, convivi com Moacir Santos, Paulo Vanzolini – e pensava: como eu adoraria escrever sobre a vida desses caras. O Macalé também, na época fiquei amigo dele.

MaisPB – Desde 2009 você está com Alceu Valença, então, esse foi o caminho para a biografia dele?

Júlio Moura – Sim, eu entendi que meu personagem estava ali, um artista completo, e são muitos personagens numa só. Eu tentei organizar todos esses personagens. Não exatamente como Fernando Pessoa, que tem heterônimos.

MaisPB – Mas foi mais longe que o personagem….

Júlio Moura – Desde as primeiras entrevistas. A primeira matéria que fiz com ele em 2009, em Olinda, no lançamento do disco Ciranda Mourisca. Eu já juntava todas as matérias que saiam com ele, cortava e guardava, deixava uma na produtora e guardava uma para mim, já com essa intenção de ter material para escrever sobre a vida e obra dele.

MaisPB – Você disse que o próprio Alceu Valença, já tinha iniciado uma autobiografia…

Júlio Moura – Sim, ele escreveu muitas páginas no computador e perdeu. Lembo que estávamos no avião e ele ia lendo, junto comigo. Ali já foi o primeiro exercício. Isso já deve ter uns dez anos, quando ele começou a escrever a autobiografia.

MaisPB – Tinha um nome a autobiografia?

Júlio Moura – Sim, Inacreditáveis Histórias Verdadeiras.

MaisPB – Como foi pesquisa em São Bento do Una,  onde Alceu Valença nasceu?

Júlio Moura – Eu fui umas dez vezes lá, fui na Fazenda Riachão, a última vez tem um mês. A fazenda era de um tio dele, o pai dele comprou. O avô dele trabalhava na fazenda, tinha uma companhia de laticínios. O avô era bem inteligente, organizava os saraus. Ele tinha uma dupla com o filho e se transformavam em Patativa e Azulão e o Alceu lembra muito disso, via esses saraus ainda menino. Ele ia muitos nas feiras de São Bento do Una, que tem os cantores, via os cegos cantadores, a banda de pífano, os cordelistas, tudo está refletido na obra dele, o tempo todo.

MaisPB – Isso mexe muito com o imaginário do artista, né?

Júlio Moura – Sim, tem um segundo momento que é quando ele vai para Recife, já por volta dos dez anos de idade Foi morar na Rua dos Palmares, ele vê pela primeira vez um bloco de frevo, que é uma manifestação muito rica de pernambuco. Não era comum para quem veio do Agreste ver um bloco de frevo na rua. Aquilo foi um impacto muito grande para ele. Depois, ele viu um bloco de Maracatu e tudo isso complementa o imaginário do artista e está em sua obra.

MaisPB – Tão bem descrita por você a noite ele que nasceu…

Júlio Moura – Sim, e tem um poema dele que eu achei, que saiu num fascículo da editora Abril, tinha Alceu, Geraldo Azevedo, em 1978. Ele fala do dia em que ele nasceu, é muito bonito. Ele nem lembrava disso.

MaisPB – Tem muitos poemas no livro?

Júlio Moura – Tem muitos. No primeiro capítulo tem poemas do avô dele, dos tios. Depois desse primeiro capítulo, tem vários poemas dele, letras de canções.

MaisPB – Legal todo o conteúdo mundial, citado por você no livro que nos remete para datas e acontecimentos desde quando ele veio ao mundo…

Júlio Moura – Quando a gente vai escrever uma biografia não fala só sobre uma pessoa, mas o mundo a sua volta, uma época, o status quo. Inclusive, ele fala “Eu sou eu e minhas circunstâncias” do filosofo espanhol José Ortega y Gasset, eles são articulares da teória geracional.

MaisPB – Quanto durou a pesquisa?

Júlio Moura – Então, além de todo material que eu tinha arquivado, o projeto começou em 2019. Eu inclusive consegui contratar uma pesquisadora chamada Patricia Pamplona e ela trouxe um material robusto, recortes de jornais, vídeos de tv, revistas. Isso foi em plena pandemia. Eu passei os dois anos da pandemia praticamente imerso nesse trabalho, na pesquisa e escrita do livro. Eu descobri coisas incríveis eu comemorava sozinho de madrugada, em minha casa.

MaisPB – Alceu sempre foi contundente, né?

Júlio Moura – Sim, muito verborrágico, atuante, muito provocador.

MaisPB – No livro tem uma foto dele com o Rei do Ritmo, nosso Jackson do Pandeiro. Como você consegiu?

Júlio Moura– Uma parte do acervo das fotos é da Delminha (irmã do Alceu)  Ela nos cedeu gentilmente. Essa foto com Jackson ( do Pandeiro) é do acervo do Jornal o Globo. Algumas  nos  chegaram pelos fotógrafos, Antônio Melcop, Mário Luiz Trompson, Cafi Mário Vistosa e Carlos Horcades e outros.

MaisPB – E a foto dele com Zé Ramalho…

Júlio Moura – Essa que tem um grupo, né? Foi do Festival Abertura.

MaisPB – Ficou alguma coisa de fora?

Júlio Moura – Com certeza,  num livro de 600 páginas, fica muita coisa.  A minha contribuição a essa vasta biografia da canção brasileira, ainda é pequena. Acredito que depois, outras pessoas farão outros livros, farão  melhor, pegarão determinados aspectos, que eu não me aprofundei tanto.

MaisPB – Legal, seu livro também saiu em audiobock com narração de Amanda Milenal, de Bernardo Valença (sobrinho de Alceu)  e Giovane Castro?

Júlio Moura  – Eu adorei fazer o audiobook, que foi gravado parte em Recife. É  uma ferramenta de comunicação muito interessante, o audiobook.  A gente usa algumas citações musicais, uma vinhetas em determinados momentos, além de eventuais intervenções fora da narrativa. É uma especie de um rádio novela.

MaisPB – É muito legal esse jogo de palavras –  Alceu é muito mais carne de sol que hamburguer, muito mais Jackson do Pandeiro do que Mick Jeagger…

Júlio Moura – Verdade, é muito bom Alceu, autêntico.  

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