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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

“Cracolândias” em João Pessoa

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publicado em 16/05/2023 às 07h00
atualizado em 15/05/2023 às 15h31

A denominação “cracolândia” (crack + lândia) = terra do crack, foi inicialmente utilizada no Brasil para denominar uma pequena região (espaço público) do centro da cidade de São Paulo, em que se concentram centenas de usuários de drogas, especialmente de “crack” (cocaína na forma de pedras).

O consumo de drogas de forma aglomerada é mais comum aos usuários de crack, haja vista a fissura (desejo incontrolável) que os dependentes desta droga têm de consumi-la de forma contínua com intervalos muito curtos entre uma pedra e outra, uma vez que a duração dos efeitos desta substância no organismo perduram por poucos minutos. Este consumo frequente é o responsável pela instalação rápida do vício nesta droga, pois o poder viciante das substâncias psicoativas em geral é diretamente proporcional à repetição do uso, ou seja, quanto mais vezes o indivíduo usar a droga em intervalos curtos de tempo, mais rápida será a instalação da dependência.

Com o passar dos anos outras “cracolândias” têm surgido no Brasil, especialmente nas capitais e grandes cidades, e infelizmente na capital paraibana também já começam a se formar.

Certamente por isto, e instigados por reclamações da população local, nestas últimas semanas tenho presenciado com satisfação algumas iniciativas por parte de algumas autoridades públicas e também de setores da sociedade civil organizada, com o fim de debater estratégias de enfrentamento às “cracolândias” aqui na capital. O que toda a população espera certamente, é que tais iniciativas não parem nas discussões, mas que se transformem em ações efetivas e, desta forma, consigam minimizar ou até mesmo solucionar este grave e crescente problema.

Não dá mais para se dizer que esse problema não existe em João Pessoa. Se ainda não demonstra a gravidade e a complexidade de “cracolândias” como aquelas registradas na cidade de São Paulo, por exemplo, mas é fato que alguns locais da nossa capital já se encontram invadidos e ocupados, especialmente no horário noturno, por dezenas de “zumbis humanos” para juntos consumirem drogas, e, consequentemente, tal prática traz a reboque outras atividades ilegais, como por exemplo, prostituição de menores, furtos, assaltos etc. E o mais grave é que, em João Pessoa, tais “cracolândias” estão se instalando nos principais pontos turísticos da orla marítima e no centro histórico da cidade.

Assim, se faz necessário que providências preventivas de cunho social e repressivas sejam tomadas com urgência. E esta empreitada é de responsabilidade tanto dos poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário), com participação efetiva do ministério público, quanto da sociedade civil organizada.

A urgência das providências se faz necessária porque este tipo de ocupação indevida é como um câncer; se tratado no início, as chances de cura são grandes, mas se deixar chegar à metástase ficará muito difícil mudar o quadro.

Um levantamento promovido pelo Senado Federal, em parceria com a Confederação Nacional de Municípios, já não tão recente, atestou que cerca de 98% dos municípios brasileiros pesquisados afirmaram enfrentar problemas relacionados às drogas, especialmente ao consumo de “crack”. Também é pacífico entre os especialistas em segurança pública, que o uso indevido e abusivo de drogas é um combustível altamente inflamável para impulsionar a prática de outros atos infracionais, especialmente em se tratando do “crack”, pois onde esta droga chega, inevitavelmente também chega a violência.  

Desta forma, é indispensável que o poder público e a sociedade civil organizada se unam de forma articulada e compromissada numa verdadeira força tarefa, no enfrentamento deste problema.

A insegurança pública nasce e é diretamente proporcional à desorganização pública. Portanto, se faz necessário que os poderes constituídos liderem esta urgente e necessária missão social e de interesse público e, de forma articulada com a sociedade civil, empreendam ações visando o controle, preservação e reconquista dos espaços públicos, atentando para o acolhimento e a saúde desses usuários, bem como para a repressão aos criminosos por ventura ali presentes, pois a segurança e o direito de ir e vir de toda a população, além da imagem da nossa bela e próspera capital João Pessoa, estão em jogo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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