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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

vestido de sonho

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publicado em 29/10/2022 às 08h10

eu fiquei apaixonadíssimo pelo “conto da ilha desconhecida” de josé saramago. nem era mais para ficar. é como se eu já soubesse do barco, do homem, do rei e da mulher, mas, dificilmente se acredita que os textos, os bons textos, ainda existam. será?

ao contrário do lugar comum onde se encontra a vã consolação, o ego, a piedade, a dor da não realização, a ilha desconhecida leva a gente para o contrário da crença de que precisamos de tantas coisas para viver.  Basta um rádio, um chinelo, um anzol, o boné e a roupa de domingo.

a ilha de saramago traz a glória, o gozo, a eternidade e, há neste sentimento, que é meu, que é seu, é só querer, de que para certa rara gente tudo foi uma única vez. não foi, não é. tente outra vez.

não existe o homem sem a ilha desconhecida, mas ele deve insistir em procurá-la longe dos mapas.

as ilhas descobertas nos separam do sonho e penso sempre que as coisas que devoram um mortal, um simples mortal, sempre vão devorar os que se apegam demais, sem necessidade.

Deus tenha misericórdia dos que só querem realizar, ganhar e esquecem que sonhar, que é tão bom.

um dos silêncios de saramago, embora muita gente não goste da obra  dele, mas a ilha desconhecida é uma obra inteira, além da nossa cegueira.

belo conto, órgão vital, o que gera visão, entendimento e conhecimento.

há pessoas assim cuja existência é uma ilha, que se ausentam para buscar outras ilhas desconhecidas.

não falo já de qualidade, mas da necessidade. falo, sim, da quantidade de um conto e não gosto muito de contos, mas da ilha é um sonho, que há em cada corpo, em cada alma.

dificilmente se acredita que novos textos tenham formas de nos seduzir inteiramente, mas na ilha de saramago, a insónia não existe. vem, me dê a mão.

kapetadas

1 – saramago é tendência, é termômetro, benzadeus!

2 –  eu quero o fim das placas nas ruas de gente pedindo comida.

3 – som na caixa: “mas o tudo que se tem, não representa nada”, luiz melodia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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