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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Esgarçado tecido

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publicado em 12/03/2022 às 09h19

Uma coisa de cada vez. Nunca a mesma coisa ou uma coisa só.

Poucos conseguem enfrentar as tempestades. Muitos dias já se foram, marias, josés e antônios. Todos no seu dia. Parece que tem um dia marcado, o dia de cada um, né?

Olhar nos homens as expressões de antes, nunca mais. Os homens, alguns, os que conseguiram se salvar, parecem não conseguir chegar à superfície.

Vagabundos correm em bandos, bandidos fazem a festa e milhares de trabalhadores não chegam perto dos desempregados, a se perder de vista.

Salvemos o que cura o mal com o amor.

Soldados esfarrapados vagueiam nas telas azuis e parece que não tem mais jeito. É muito triste a guerra.

A chuva não lava tudo, mas águas são sinais que fecham ciclos. Nos clarões das madrugadas no mar, meus passos seguem. Eu ainda consigo.

O que mais me serve de inspiração? O chão, meus pés fugindo de mim, minha sombra que anda na minha frente? Um pai empurrando o carrinho do bebê às 5h da manhã, na calçada da praia. Um aceno repetido: a saudade de alguém. Pai e mãe e filha (fotoi) olhando o nascer do sol.

Minha alma me convida para sambar algures e tem sempre uma coisa que não pode ficar para amanhã. Algo não sai da minha cabeça: a beleza de uma pessoa que pega na mão da outra.

Deste modo, esse mundo, de nos apresentar sem armas, fogo no céu, vidas e mobílias destroçadas e seremos também, sem deixar rastros.

Movo-me no silêncio e uma fé me indica seres renovados, replicantes. Os calejados ficaram para trás.

Tantos atos gratuitos pegam carona nas imagens insolentes.

Lendo tudo ao contrário, um pássaro novinho na boca do gato preto da nossa casa, o pássaro em pedaços, sequelas expostas e nem de longe estamos a misturar os restos de um romance. Sequelas, muitas.

Já não guardamos mais os selos das cartas, bilhetes em guardanapos, porque aquilo que nos parecia ser o mundo, também já se acabou.
É tão fácil desinteressar-se, se isolar, sair de si, chorar entre as grades da casa num dia de domingo.

Venha procurar sua vida na calçada, no cinema, cadê seu anjo, sua gema, venha assoprar as silabas do nosso país apagado.

Hoje nos despertamos de uns sonhos passados, de uma luz para outra, de um som para outro e mal distinguimos uma coisa e outra, neste esgarçado tecido. Envelhecemos ou desaparecemos?

Nem uma coisa, nem outra. São feridas nossas e alheias.

Kapetadas

1 – Mamãe Falei. Estado civil: cassado. Não brinca não, viu?

2 – Nesse ritmo, o litro da gasolina logo vai custar mais caro do que meu automóvel.

3 – Som na caixa: “Vou te contar, os olhos já não podem ver”, Tom Jobim

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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